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Há quatro anos, inquérito da PF sobre caso Braskem se arrasta em sigilo e sem resultados

Marco Zero Conteúdo / 05/12/2023
Fachada de casa de muro amarelo, com árvore de grande porte na frente. O lugar onde seria o portão da casa está tampado por blocos cinzentos de cimento e há um pichação em letras verdes com a frase A Braskem matou e ninguém foi preso.

Crédito: Inês Campelo/MZ Conteúdo

por Wanessa Oliveira, da Mídia Caeté

Chega ao seu quarto ano, e em absoluto sigilo, o inquérito aberto pela Polícia Federal que deve apurar a responsabilização criminal da Braskem em relação à abertura de minas de exploração da sal-gema, operação iniciada ainda na década de 1970 e que provocou a subsidência (afundamento) do solo em cinco bairros e todo o desastre socioambiental em Maceió. Em meio a questionamentos e manifestações de receio de impunidade por parte de moradores, o órgão federal não informa sequer se há previsão para conclusão ou possível oferta de denúncias ao Ministério Público.

Questionada nesta terça-feira, 5 de dezembro, o órgão limitou-se a responder que “a Polícia Federal não se manifesta sobre eventuais investigações em andamento”, o Ministério Público Federal emitiu uma nota informando que a investigação tramita sob sigilo para garantir a efetividade da persecução penal, que é do maior interesse público.

“Em 2019, após o laudo conclusivo do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM) descartar causas naturais para o fenômeno, foi requisitada a instauração de inquérito policial à Polícia Federal, em Alagoas”, descreveu o MPF, em nota. “Desde o início, a prioridade foi a salvaguarda das pessoas em área de risco. É notória a complexidade dos fatos em andamento e, portanto, sob investigação, demandando uma apuração ampla, criteriosa e responsável para individualização correta das condutas”.

Mais adiante, o órgão também alerta sobre os riscos de comprometimento da ação penal, no caso de oferta de denúncia de forma precoce. “Eventual propositura precoce de denúncia pode levar ao trancamento da ação penal, razão pela qual o inquérito policial conduzido pela Polícia Federal, com a coleta de provas suficientes, se faz imprescindível para o êxito da persecução penal”.

Para as vítimas da Braskem, entretanto, o tempo de investigação e a ausência completa de informações intensificam o medo de impunidade e demonstram, ainda, uma falta de transparência em relação ao que vem sendo encaminhado. Para o Procurador Regional do Trabalho e uma das vítimas da mineração, Cássio Araújo, este receio está conectado, ainda, com a forma como os órgãos públicos têm operado em relação ao caso, incluindo em relação às outras responsabilizações administrativa e civil.

“Em plano geral, nosso direito tem três tipos de responsabilização. A Civil, a Administrativa, e a Criminal ou Penal. A responsabilização civil se resolve de dois modos: ou com a obrigação específica, que é exigindo que a pessoa conserte o que fez de errado. Não sendo possível o conserto, que pague uma indenização, após devida avaliação, que venha a equivaler àquilo que deveria ser consertado, compensando o que não se pode voltar atrás”, explica. “Já na responsabilização administrativa, a consequência é posta na relação em que o praticante do erro tenha com a administração pública, a exemplo de perder uma licença de funcionamento”.

Finalmente, a responsabilização penal configura na possível perda da liberdade individual, para o caso de determinadas situações serem vistas como crimes mais sérios, segundo Araújo.

“No caso da Braskem, em relação à responsabilização penal, temos essa força-tarefa do Ministério Público Federal que culminou na abertura de um inquérito há quatro anos. E, até agora, não se sabe se pessoas foram ouvidas, se foram pedidos laudos técnicos, ou quebra de sigilo bancário. Ninguém sabe absolutamente nada. Nos preocupa, ainda, porque as penas previstas em crimes ambientais são pequenas, e vem o receio do risco de prescrever e o crime ficar impune. Se em todos os outros campos, a transparência é muito prejudicada, neste caso ela tem sido absoluta, porque tem um caixa-preta e tudo o que sabemos é que existe uma caixa”, relata. “É tudo intransponível”.

Durante sua posse, a superintendente da Polícia Federal em Alagoas, delegada Luciana Paiva Barbosa, chegou a declarar que a investigação sobre os danos causados pela Braskem em Maceió seria a prioridade do órgão, “para encerramento do ciclo de dor das famílias”. A afirmação, entretanto, foi feita em março deste ano. Desde então, nenhum outro pronunciamento partiu da superintendência da PF.

Luciana Paiva Barbosa, superintendente da PF em AL. Crédito: Divulgação/PF

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