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Crédito: Guibson C. Borges/Acervo Pessoal
Os problemas no Hospital Otávio de Freitas, em Tejipió, zona oeste do Recife, não são uma novidade. Mas, nas últimas semanas, a unidade que é referência no estado para diversas especialidades chegou a uma situação crítica de superlotação. Com o aumento da demanda, os corredores da emergência estão com pacientes além do limite esperando atendimento e procedimentos.
O hospital é referência para o tratamento de doenças respiratórias, em especial a tuberculose, traumato-ortopedia, clínica médica, urologia, cirurgia geral e pediatria.
“Está um caos, é gente por cima de gente. Gente dormindo no chão, gente em frente à porta dos banheiros, médico que não passa para ver paciente”, denuncia o produtor de eventos e cerimonialista Guibson Coutinho Borges. De Paulista, na região metropolitana, o avô dele, 69 anos, passou nove dias no Otávio de Freitas com infecção urinária e descontrole da diabetes.
Nas imagens enviadas por Guibson, é possível ver pacientes se amontoando nos corredores e pessoas também do lado de fora. Funcionários do hospital com quem a Marco Zero conversou em reserva (ou seja, sob a garantia de não terem seus nomes revelados) confirmaram a situação e o aumento da demanda há aproximadamente um mês, com o recebimento de pacientes oriundos de várias regiões do Estado.
“Meu avô passou 24 horas sem comer, fez exame e não veio nenhum médico para conversar sobre o diagnóstico. Para chegar um medicamento é uma agonia”, detalha o neto sobre as consequências no atendimento e a pressão em cima das equipes de saúde. Ele relata que o avô ficou numa recepção transformada em sala de procedimentos porque não havia mais onde colocar os doentes.
Antes de ser transferido para o Otávio de Freitas, o idoso chegou a ser levado duas vezes para o Hospital Miguel Arraes, mas não havia vaga. Nesta sexta-feira, 10 de setembro, ele conseguiu uma vaga no Memorial Jaboatão e seguirá com os exames e tratamentos no município vizinho.
“Às vezes nem adianta levar um paciente para sala de operação se não vai ter vaga para ele depois na UTI ou na sala de recuperação”, relata um funcionário que pediu para não ser identificado. “Essa semana conseguimos uma vaga para um paciente transferido do Hospital Getúlio Vargas porque uma pessoa morreu no Otávio”, acrescenta.
O funcionário detalha que essas denúncias já estavam sendo esperadas diante do quadro crítico da unidade. De fato, Guibson relatou à reportagem que pacientes e familiares estavam revoltados e resolveram chamar a imprensa ao local.
Em março do ano passado, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) convocou a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) e direção do Otávio de Freitas para audiência após identificar, em vistoria, a situação de superlotação e precariedade nas dependências do hospital. Na época, a Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde da Capital ressaltou que, dentre os problemas identificados, estavam a permanência de pacientes em macas amontoadas, inclusive no chão e em áreas de deslocamento, como corredores e portas de elevadores.
Procurada, a SES-PE enviou uma nota dizendo que reconhece a alta demanda de pacientes no Hospital Otávio de Freitas, mas que tem garantido o atendimento a todos.
Confira a nota na íntegra:
A direção do Hospital Otávio de Freitas (HOF) reconhece a alta demanda de pacientes em sua unidade, referência para diversas especialidades e com atuação a nível estadual. Reforça, ainda, que garante o atendimento e assistência a todos os pernambucanos que são admitidos no serviço, realizando os procedimentos necessários para o pleno restabelecimento da saúde de cada paciente.
A unidade ressalta, ainda, que o serviço está abastecido de medicamentos e insumos, assim como conta com a escala preenchida das equipes multiprofissionais nos plantões, realizando os atendimentos, exames e procedimentos cirúrgicos. Quando possível, o paciente recebe o primeiro atendimento e é encaminhado para outros serviços de referência ou unidades de retaguarda, dando maior rotatividade aos leitos do hospital.
Em relação às condições da emergência, a direção esclarece que está realizando pequenos reparos, pois o local será reformado, requalificado e climatizado. No momento, está sendo realizada a reforma do 2° andar e também no prédio da clínica médica. A equipe de engenharia e manutenção tem atuado permanentemente para fazer os devidos reparos.
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Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com