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Crédito: Lapis - Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites
A previsão da tendência climática para o início de 2024 nas regiões brasileiras, realizada pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), indicou que a expansão do El Ninõ pelo Pacífico Tropical deve causar um verão de altas temperaturas no Hemisfério Sul, chegando a atingir uma média de 4º C acima do normal.
De acordo com a análise do meteorologista fundador do Lapis, Humberto Barbosa, o evento do El Niño é responsável por uma resposta atmosférica intensa em todo o mundo e os impactos mais fortes causados pelo fenômeno devem ocorrer durante o próximo verão.
As estimativas do multimodelo internacional European Centre for Medium-Range Weather Forecasts (ECMWF), que é considerado um dos mais assertivos do mundo, mostram que o El Niño atingirá seu pico 2º C acima do normal, o que é considerado um evento forte. Com isso, a tendência da previsão climática para fevereiro de 2024 é de chuva abaixo da média em grande parte do Centro-Norte do Brasil e condições mais secas no Nordeste Setentrional.
“As tendências mostram um pico de temperatura do Oceano Pacífico principalmente no período de fevereiro a maio de 2024, que é o período da estação chuvosa no Semiárido. Com isso, certamente as condições climáticas de chuvas vão ser desfavoráveis para os agricultores e as altas temperaturas que têm sido observadas nos últimos anos vão aumentar ainda mais”, revelou o Humberto Barbosa.
O clima sazonal depende das condições de temperatura do Oceano Pacífico Equatorial e as anomalias oceânicas estão ligadas a partir dos ventos alísios globais. O El Niño forma ventos alísios fracos, o que influencia diretamente na circulação global, por isso as anomalias oceânicas são um indicador para entender o estado atual do sistema climático global. Porém, nenhuma previsão sazonal de longo prazo pode ser considerada totalmente confiável, uma vez que trata-se da apresentação de uma tendência e os padrões climáticos podem evoluir em grande escala durante um longo período.
“Nós estamos esperando mais um mês para analisar as condições do Atlântico Sul, porque o Atlântico Sul poderia e pode minimizar um pouco esse impacto do El Niño na redução das chuvas, principalmente no semiárido brasileiro. Porém, normalmente quando você tem um pacífico muito quente o Atlântico Norte também tende a ficar mais quente, que é o que está acontecendo esse ano, e isso faz com que a zona de convergência, que é a principal sistema meteorológico que traz as chuvas para o semiárido nordestino de fevereiro a maio, fique mais afastado, por isso ainda pode chover, mas chover muito abaixo da média”, explicou Humberto Barbosa.
Ainda de acordo com Barbosa, os governos municipais, estaduais e federal precisam ter uma planejamento para fornecer assistência aos agricultores e antecipar as medidas de prevenção dos danos que podem ser causados pelos efeitos do El Niño: “em 2024 a seca deve ser mais difícil durante os primeiros seis meses do ano, por isso, o agricultor precisa estar preparado, para isso, ele pode tentar fazer uma estocagem e utilizar a palma forrageira, que durante a seca severa de 2012 a 2016 foi fundamental para a pecuária, e no período de chuva irregular ele pode criar uma pastagem e de certa forma armazenar essa pastagem, a palma forrageira e o capim”.
“Obviamente que a questão ainda vai depender também da distribuição de água e os carros pipa têm um papel importante. É importante que as prefeituras já possam estar antecipando a necessidade de abastecimento de água em função das condições de redução das chuvas e as altas temperaturas, os reservatórios realmente vão ter uma perda de água e isso precisa ser antecipado, principalmente para o agricultor, para que tenham cisternas com boa capacidade de armazenamento. A qualidade da água também deve ser observada pelas prefeituras, porque normalmente quando você tem essas altas temperaturas e a redução de chuva, a qualidade da água cai e isso também é um fator que pode trazer consequências à saúde do agricultor”, concluiu o meteorologista.
Segundo as previsões divulgadas recentemente pelo LAPIS, o El Niño deve começar a enfraquecer durante o inverno de 2024 no Hemisfério Sul, podendo terminar até o verão de 2025.
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Jornalista e mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco.