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INSS corta benefícios de 22 crianças com microcefalia em Pernambuco

Mariama Correia / 18/07/2019

Microcefalia (Crédito: Inês Campelo/MZ Conteúdo)

Em Pernambuco, 22 crianças com microcefalia tiveram os seus benefícios cortados pelo INSS neste mês. A denúncia vem da União de Mães de Anjos – UMA, entidade que presta assistência aos bebês nascidos com a condição neurológica causada pela epidemia do Zika Vírus. Um protesto das famílias acontece nesta quinta-feira (18), a partir das 9h, na frente do INSS, na Avenida Mário Melo, centro do Recife.

Até agora o INSS não justificou a suspensão dos benefícios. “Disseram apenas que precisamos aguardar de 30 a 35 dias. E viver do que até lá? Comer o quê? Já está atrasado há 15 dias”, questionou Germana Soares, presidente da UMA.

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Desde 2015, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) é concedido para aproximadamente 450 famílias que têm criança com microcefalia no estado. O valor de um salário mínimo (R$ 998) termina sendo a única renda. Acontece que o benefício é concedido para uma faixa de renda de um quarto do salário mínimo (R$ 249,50). Ou seja,  se arrumar um emprego, a mãe perde o benefício. Trabalhar também não é uma opção para muitos dos responsáveis por essas crianças, na esmagadora maioria das vezes as mães, que precisam abandonar a carreira para se dedicarem totalmente aos filhos, porque eles demandam cuidados diários.

Germana Soares, presidente da UMA e mãe de Guilherme de 3 anos de meio, que nasceu com microcefalia, também teve o BPC cortado. Atualmente, o benefício é a única fonte de renda da família, porque ela é mãe solteira e deixou o emprego para cuidar do menino. “É o dinheiro que uso para remédios, para comida”, contou. Desde janeiro, o município de Jaboatão dos Guararapes, onde mora, não fornece o suplemento alimentar essencial para crianças como Guilherme. “Além disso a Farmácia do Estado também vive sucateada, sem remédios. É um total descaso”, denunciou a mãe.

A Marco Zero Conteúdo procurou a Assessoria de Imprensa do INSS, mas não recebeu respostas até o momento de publicação desta matéria. Em maio deste ano, o Ministério da Cidadania informou que o Governo Federal estudava transformar o BPC para pessoas com microcefalia por conta do Zika em uma pensão permanente. Assim, as mães poderiam trabalhar sem perder o benefício. Mas o projeto ainda não saiu do papel.

No anúncio, o governo reconheceu que as crianças nascidas com esta condição foram vítimas de falhas do Estado, que não conseguiu conter a epidemia. “Falta de saneamento, de abastecimento de água. O Estado foi incapaz de prevenir esta situação e está sendo incapaz de garantir qualidade de vida para essas crianças. Lutamos todos os dias para conseguir tratamento, remédios, assistência.  A vida dos nossos filhos não vale nada para o poder público”, desabafou Germana.

Enquanto avança no Senado Federal um Projeto de Lei para ampliar o alcance do BPC, no último dia 12, o INSS informou que começou um pente-fino nos benefícios, entre eles o BPC. Ao todo, serão analisados três milhões de benefícios em todo o país que, segundo o instituto, têm indícios de irregularidades. O INSS não informou se essa operação está relacionada com os cortes dos benefícios das crianças com microcefalia.

AUTOR
Foto Mariama Correia
Mariama Correia

Jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e pós-graduada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Foi repórter de Economia do jornal Folha de Pernambuco e assinou matérias no The Intercept Brasil, na Agência Pública, em publicações da Editora Abril e em outros veículos. Contribuiu com o projeto de Fact-Checking "Truco nos Estados" durante as eleições de 2018. É pesquisadora Nordeste do Atlas da Notícia, uma iniciativa de mapeamento do jornalismo no Brasil. Tem curso de Jornalismo de Dados pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e de Mídias Digitais, na Kings (UK).