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“Recife é uma das cidades mais violentas do mundo, Geraldo… O atual prefeito criou uma secretaria dizendo que iria erradicar a violência na cidade e o que estamos vendo é um aumento crescente da violência na cidade. Faltam políticas públicas para reduzir a violência na cidade”, João Paulo no debate da TV Clube, dia 23 de outubro
João Paulo foi contundente ao abordar o tema da segurança pública, domingo à noite, durante o debate da TV Clube. O candidato petista afirmou que Recife é uma das cidades mais violentas do mundo e responsabilizou a atual gestão pelo crescimento da violência na a capital pernambucana. O Truco Eleições 2016 – projeto de fact-checking da Agência Pública, no Recife feito em parceria com a Marco Zero Conteúdo – checou a declaração e verificou que ela está exagerada e distorcida. Por isso, ela recebe a carta “Não é bem assim”.
Na primeira parte da declaração, quando afirma que o “Recife é uma das cidades mais violentas do mundo”, João Paulo se baseou em uma lista divulgada pela ONG mexicana Segurança, Justiça e Paz (SJP). De acordo com a lista, a capital pernambucana ocupa a 37ª colocação, com 1.492 homicídios durante o ano de 2015. Levando em conta apenas as 21 cidades brasileiras que constam no ranking, Recife aparece no 14º lugar.
Aqui, é preciso uma contextualização: o ranking da ONG mexicana levou em conta apenas cinquenta cidades que têm mais de 300 mil habitantes. Isso, claro, limita a abrangência da pesquisa. Em termos comparativos, quando o ranking de cidades mais violentas do Brasil é feito sem levar em conta o número de habitantes, a capital pernambucana não aparece nem entre as 150 primeiras. Um outro ponto que precisa ser abordado é que, mesmo dentro dos critérios adotados para a elaboração do ranking, Recife tem melhorado sua colocação. Em 2014, a capital pernambucana ocupava a 29ª posição, com um total de 1.518 homicídios durante aquele ano.
Na segunda parte da declaração, João Paulo exagera ao afirmar que “o atual prefeito criou uma secretaria dizendo que iria erradicar a violência na cidade”. Na verdade, o documento “Programa de Governo da Frente Popular do Recife – 2013 a 2016”, dentro do capítulo que trata da “Qualificação dos Serviços”, no item “Segurança”, está escrito que a “pasta [Segurança Urbana] centralizará as ações de combate à criminalidade que passarão a ser desenvolvidas pelo poder público municipal e coordenadas pessoalmente pelo Prefeito”. Em momento algum fala em “erradicar” a violência.
Na terceira parte de sua fala sobre segurança pública, o petista destaca “um aumento crescente da violência na cidade”. Neste caso falta contexto para deixar a questão mais clara. De acordo com o Boletim Trimestral da Conjuntura Criminal de Pernambuco e com o Anuário de Criminalidade (2011, 2012, 2013 e2014), ambos disponibilizados no site da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS), o número de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLI) realmente vem crescendo no Recife, invertendo um viés de redução iniciado em 2007, quando foi implantado o programa Pacto Pela Vida pelo Governo do Estado.
De 2013 para 2014, período que corresponde ao segundo ano da gestão do PSB na cidade, o número de homicídios passou de 452 para 514 ao ano, com uma variação de 13,7%. Em 2015, o aumento ficou na casa de 11,3%, com 572 homicídios no total. A tendência de crescimento se manteve nos três primeiros meses de 2016. Segundo dados da SDS, entre janeiro e março deste ano foram cometidos 164 homicídios, 12 a mais do que o mesmo período de 2015. Ou seja, no primeiro trimestre de 2016 já houve um aumento de 7,8% no número de Crimes Violentos Letais e Intencionais.
O que faltou ser contextualizado é que, neste mesmo período, também houve um crescimento no número de homicídios tanto em Pernambuco quanto na média das cidades da Região Metropolitana do Recife (RMR), como mostra a tabela abaixo:
Outro ponto que ajuda na contextualização dos dados é que, em 2013, primeiro ano da gestão de Geraldo Julio, o Recife apresentou uma significativa redução de 24,3% no número de homicídios em comparação com 2012. Neste mesmo período, tanto Pernambuco quanto a RMR também tiveram suas taxas de homicídio reduzidas, só que em uma proporção menor do que na capital.
Comparando as séries históricas das taxas de Crimes Violentos Letais e Intencionais do Recife com as de Pernambuco e da Região Metropolitana fica claro que a questão da criminalidade não pode ser analisada de forma isolada e descontextualizada. Isso porque, as prefeituras têm um poder limitado para atuar na segurança, ficando com um papel apenas residual.
(Sérgio Miguel Buarque)
Sérgio Miguel Buarque é Coordenador Executivo da Marco Zero Conteúdo. Formado em jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco, trabalhou no Diario de Pernambuco entre 1998 e 2014. Começou a carreira como repórter da editoria de Esportes onde, em 2002, passou a ser editor-assistente. Ocupou ainda os cargos de editor-executivo (2007 a 2014) e de editor de Política (2004 a 2007). Em 2011, concluiu o curso Master em Jornalismo Digital pelo Instituto Internacional de Ciências Sociais.