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Lia, a artista “sem fim”

Jeniffer Oliveira / 15/01/2024

Crédito: Felipe Souto Maior

A praia de Jaguaribe, em Itamaracá, estava cheia no último domingo, gente pra todos os lados, sentadas em cangas, cadeiras ou debaixo de barracas. Não só por ser um dia gostoso para pegar um sol e se jogar no mar, mas por causa do encerramento do festival O Canto da Sereia que comemorou os 80 anos de Lia de Itamaracá. A festa, que começou no dia 12 de janeiro, data em que Lia completou idade nova, arrastou multidões para a ilha na Região Metropolitana do Recife. 

No meio da multidão, Maria da Penha também celebrava seus 80 anos, completados um dia antes da homenageada, tentando realizar o sonho de conhecer e abraçar Lia.

“Desde quando eu cheguei que tô me sentindo bem, já dei uns passinhos e vou voltar pra casa feliz, porque primeiramente Deus, Yemanjá e ela”, afirmou dona Maria, que saiu da comunidade do Bode, na zona sul do Recife, a 60 quilômetros da ilha, para encontrar com a artista. 

Suas vizinhas e amigas da comunidade se mobilizaram para conseguir levar Maria da Penha, de 80 anos, ao festival. No finalzinho da festa, o encontro aconteceu, um presente de aniversário que vai marcá-la para sempre. Testemunhar como o repórter o abraço das duas mulheres octogenárias, moradoras de comunidades pesqueiras, foi uma experiência de aquecer o coração, principalmente depois de ver Lia sendo reconhecida pela sua arte pelo povo e por tantos artistas da cultura popular.

Crédito: Ana Menezes

Três dias de festa

O evento foi grande. Três dias e três palcos diferentes dedicados à rainha da ciranda do Brasil, uma artista “sem fim”, como canta na música “Desde menina”, composta por Chico César: “Eu sou sem fim / Lia e escrevia na areia, desde menina / a vida me ensina a ser assim”.  

Esta é a terceira edição do festival, que, dessa vez, ganhou um novo formato para dialogar com as linguagens artísticas que Lia traz com sua música. Além de muita ciranda, também houve apresentações de outros gêneros musicais, dança, moda, literatura, religiosidade e audiovisual. 

O dia de encerramento do festival começou cedinho com a oficina oficina “Construção de Maraca com Coletivo Chama Griô”, no palco Estrela de Lia. Já no Palco Som na Rural, a festa iniciou com a apresentação do grupo Trans Coco, criado no terreiro de candomblé Ilê Axé Oxum Opará, em Igarassu, cidade vizinha. 

No palco Lia de Itamaracá quem iniciou a festa foi Isaar e Waldir Afonjah. E foi lá que a anfitriã do festival apresentou o show “Ciranda do Mundo”, baseado no seu disco mais recente, Ciranda sem Fim, com produção de DJ Dolores, que também participou do show. 

Com grandes sucessos e uma sonoridade singular, ao longo do show a multidão formou cirandas enormes. Lia também aproveitou para levantar o público com clássicos da cultura popular, também homenageando dona Selma do Coco. “Dona Selma descanse em paz, nada que é seu está perdido”, afirmou.

No fim da apresentação a artista conversou com fãs e a imprensa, valorizando a equipe envolvida. “São muitas emoções, o coração tá a mil pelo que já passei até onde cheguei, atravessei o mar de fogo. O festival tá maravilhoso e a produção foi grande. A minha produção é dez”, contou.

O dia também foi marcado pelo desfile de moda “Manto de Lia”, produzido pela Cabrochas, uma marca da Ilha conhecida por usar conceitos de moda sustentável na criação de suas peças. Exibindo a criação de diversos estilistas inspirados em Lia e na sua arte. 

E quem ficou com a responsabilidade de encerrar o evento foi a banda Nação Zumbi. Pela primeira vez na Ilha de Itamaracá, a banda chegou para representar a ligação de Lia com o movimento manguebeat. “À rainha da ciranda, guardião da cultura pernambucana. É uma honra pra Nação Zumbi tá tocando aqui hoje à noite”, afirmou o vocalista Jorge Du Peixe.

Ao longo do evento passaram outros nomes como Mestre Anderson Miguel, Mestre Bi, Nação Pernambuco, Catarina de Jah, Coco de Amaro Branco, Natascha Falcão, o bicentenário Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu, diferentes grupos de caboclinhos, afoxés e muitos outros que mostraram a potência da cultura popular de Pernambuco.

AUTOR
Foto Jeniffer Oliveira
Jeniffer Oliveira

Jornalista formada pelo Centro Universitário Aeso Barros Melo – UNIAESO. Contato: jeniffer@marcozero.org.