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MPPE denuncia PM por estupro e perícia encontra sêmen de outros homens em posto policial no Cabo

Raíssa Ebrahim / 13/11/2025
O ChatGPT disse: Foto mostra um pequeno posto da Polícia Militar de Pernambuco, localizado em área rural ou de beira de estrada, com vegetação densa e árvores ao fundo. O prédio é simples, de um pavimento, cor clara, com cobertura plana e um letreiro na fachada onde se lê “Secretaria de Defesa Social – Polícia Militar de Pernambuco – Posto Rodoviário 6º BPRv – Suape”. Em frente ao prédio há uma viatura amarela e azul da Polícia Militar estacionada. Um policial está sentado na varanda do posto. O local é cercado por uma cerca de arame e o céu está parcialmente nublado, com iluminação natural difusa.

Crédito: Google Maps

O caso da mulher de 48 anos estuprada dentro do posto do Batalhão de Polícia Rodoviária no Cabo de Santo Agostinho, litoral sul de Pernambuco, teve mais dois capítulos importantes. Nesta quarta-feira, 12 de novembro, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), por meio da Central de Inquéritos da Capital, denunciou o subtenente Luciano Valério de Moura, 49 anos, pelos crimes de estupro e de prevaricação. Ele agora passa a responder formalmente pelas acusações.

Além disso, a perícia encontrou sêmen de outros homens em mais de um local dentro do alojamento onde o fato aconteceu, em outubro. O material genético achado em colchões não é compatível com o de Luciano, preso preventivamente no último dia 15.

Na avaliação de Maju Leonel, advogada da vítima, a conclusão pericial sugere um alerta.“Por que tem sêmen em mais de um colchão num posto policial como aquele? Seria essa a razão de os outros dois policiais de plantão terem se recusado a fornecer espontaneamente seu material genético? Existem outras vítimas?”, questiona.

“A vítima já havia me adiantado que seria muito improvável que os vestígios encontrados fossem da situação dela, já que o que ele (Luciano) fez com ela não foi na cama. Então o fluido seria decorrente de outras circunstâncias”, comenta. Segundo a mulher, o subtenente Luciano obrigou-a a fazer sexo oral nele para ser liberada após a constatação de débitos no veículos que ela conduzia. No vestido da mulher, não foi encontrado material genético diverso ao delasuficiente para identificação, de acordo com a perícia, a qual a Marco Zero teve acesso.

A MZ procurou a Corregedoria para saber que condutas estão sendo tomadas diante do resultado da perícia e aguarda resposta.

Relembre o caso

A vítima estava conduzindo seu carro em direção a praia de Gaibu no dia 10 de outubro. Ao chegar ao posto policial, na PE-60, ela foi parada numa blitz composta por três PMs. A mulher entregou os documentos a um deles, que informou que, por constar, no sistema, um débito referente ao licenciamento, o carro teria que ser apreendido.

Por ordem do policial, a vítima saiu do carro e, no pátio externo do posto, explicou que desconhecia a dívida por ter comprado o veículo há pouco tempo. Então foi conduzida para dentro da unidade. No caminho, o policial disse aos dois colegas que ela iria “beber água” – a vítima sequer havia mencionado que estava com sede.

Ao entrar em um quarto com dois beliches, o terror começou. O PM apagou a luz e tentou penetrá-la. A mulher resistiu, mas foi obrigada a fazer sexo oral no policial, que ejaculou em sua boca e a obrigou a beber água para limpar os resíduos. “Beba água para tirar a gala da boca”, teria dito. Enquanto isso, os outros dois PMs, do lado de fora, nada fizeram.

“É extremamente grave a gente localizar em colchões diversos, dentro de um posto policial, a presença de sêmen. Definitivamente, ainda que não possa estar havendo algum ato delitivo propriamente dito no espaço, está havendo condutas impróprias”, coloca Maju. “Então é importante que a Corregedoria averigue essa situação, inclusive porque, desde que a vítima relatou o caso, ela fala que o acusado olha para os outros dois policiais e fala que ela vai beber água. Desde o início, a gente tem dúvidas de que isso possa eventualmente ser um código”, cobra.

O inquérito, sob responsabilidade da major Luciana de Oliveira Moraes, ainda não foi concluído. Ela solicitou postergação do prazo de entrega porque ainda aguarda outras perícias. “Mas, até então, há, por parte da autoridade policial, pelo menos é o que mostra os encaminhamentos que vêm sendo demonstrados no documento, que há indícios já suficientes de autoria e materialidade de que o crime ocorreu”, afirma Maju.

AUTOR
Foto Raíssa Ebrahim
Raíssa Ebrahim

Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornais de bairro do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com