Ajude a MZ com um PIX de qualquer valor para a MZ: chave CNPJ 28.660.021/0001-52
Crédito: Valter Campanato/Agência Brasil
Depois de uma relativa baixa durante o auge da pandemia, a dengue voltou a preocupar com números recordes. No ano passado, o Brasil registrou mais de 1,4 milhão de casos de e mais de mil mortes, o mais alto número desde o início do relatório, na década de 1980. Agora, em 2023, os números seguem em patamar alto, sobretudo no Centro-Oeste.
Por conta de questões ambientais e socioeconômicas, o controle da dengue é difícil, principalmente a curto prazo. Entre as muitas ações que podem ser feitas para a prevenção da doença está a vacinação, que tem tido avanços. Há duas vacinas já aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e uma terceira está sendo esperada para o ano que vem.
Para a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), Flávia Bravo, as vacinas são importantes aliadas com outras ações de prevenção. “Basta ver os números da dengue no país para ver o peso da dengue na saúde pública. É uma luta de décadas contra uma doença transmitida por picada de mosquito, que sabemos que é muito difícil controlar o vetor. É transmitida em ambiente urbano, as pessoas podem pegar dentro de casa. Então ter proteção contra uma infecção que, mesmo quando não traz sequelas, leva às pessoas a atendimento médico e as afasta do trabalho, é algo muito necessário”, diz.
Saiba mais sobre as vacinas contra a dengue:
Aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária no Brasil (Anvisa) desde 2015, é a única disponível comercialmente no Brasil. A popularização da Dengvaxia tem um obstáculo principal: a necessidade de um teste prévio para que a vacina possa ser administrada.
“Foi uma vacina lançada com bons estudos de pré-licenciamento e foi aprovada. Só que a vigilância farmacológica continua, os vacinados continuam sendo acompanhados para avaliação. E a própria Sanofi verificou que existia um risco, ainda que muito pequeno, mas maior do que o geral, de que pessoas que nunca tiveram dengue e tomaram a vacina da Sanofi desenvolverem quadros mais graves ao pegar a doença pela primeira vez. Então, por conta disso, se passou a pedir a comprovação de ter tido dengue anteriormente”, explica Flávia Bravo.
No Recife, por exemplo, estima-se que mais de 90% da população já teve contato com o vírus da dengue. O que torna toda essa população apta para tomar a vacina. Mas, além da obrigatoriedade do teste, é uma vacina não muito fácil de encontrar. O preço é alto: a média é de R$ 500 por dose. E são necessárias três doses, com espaço de seis meses entre elas.
É por essas características que a vacina nunca foi incorporada ao Sistema Único de Saúde. “Sabemos que já é difícil hoje em dia levar as pessoas para vacinar. Se elas precisam de mais doses, é mais difícil ainda que completem seus esquemas. E no caso da Dengvaxia é um intervalo maior, de seis meses entre as doses. Quanto maior o intervalo, mais difícil”, diz Bravo.
Vacinas com menos doses e intervalo menor tendem a funcionar melhor para vacinações em massa. Não só pela adesão, mas também pelos custos. “E não é apenas o custo da vacina em si. Mas de seringas, armazenamento, pessoal”, diz a especialista.
Atendendo aos requisitos da bula, a Dengvaxia é segura e eficaz. “Previne aproximadamente oito em cada dez casos de dengue grave e com risco de hospitalização, com proteção de longo prazo por até 6 anos. Em resultado de estudo, foi demonstrada uma eficácia global de aproximadamente 76% contra casos sintomáticos de dengue em pessoas com infecções prévias de dengue, sendo observada uma proteção mais eficaz contra o sorogrupo 4’, diz nota da Sanofi à Marco Zero.
No Nordeste, há a circulação dos quatro tipos de dengue, sendo mais frequente, nos últimos anos, os sorotipos 1 e 2. “Reforçamos que Dengvaxia® é eficaz para proteção contra os quatro sorotipos da dengue para pessoas com infecção prévia por dengue, conforme sua atual indicação em bula”, diz o Sanofi. O laboratório também afirmou que não tem novos estudos para que a Dengvaxia possa ser administrada também em pessoas que também nunca tiveram dengue.
Aprovada pela Anvisa em março deste ano, a vacina Qdenga, do laboratório Takeda, apresenta vantagens sobre a Dengvaxia: não precisa de teste prévio, já que provou segurança e eficácia também para quem nunca teve dengue, e o esquema é de duas doses, com o espaço de três meses.
Os estudos para a vacina contaram com a participação de 28 mil pessoas, em oito países. “…incluindo populações expostas e não expostas à dengue em oito países endêmicos para essa doença na Ásia e na América Latina e acompanhado por um período de 4,5 anos [quatro anos e meio]”, diz nota do laboratório enviada para a Marco Zero.
Os estudos da Takeda demonstraram, ao longo dos quatro anos e meio, uma eficácia de 80,2% na redução dos casos de dengue, independente do sorotipo ou do estado imune prévio da população avaliada. Ou seja, a cada dez pessoas vacinadas, foram evitados oito casos de dengue. “Em relação aos casos hospitalizados por dengue, a eficácia foi ainda mais significativa com redução de 90,4%. Ou seja, de cada dez pessoas que potencialmente seriam hospitalizadas, a vacina evitaria nive destas hospitalizações”, diz nota da Takeda.
Os estudos sugerem que é uma vacina que mantém boa eficácia ao longo do tempo. Ao término dos 4,5 anos, a proteção da Qdenga contra hospitalizações foi de 84% e de 61,2% para casos gerais. A vacina também demonstrou ser eficaz contra todos os quatro sorotipos, porém foi variável por sorotipo, sendo maior contra o 1 e o 2 em comparação com o 3 e o 4.
A expectativa é de que, em breve, a Qdenga esteja disponível para o público. Depois da aprovação na Anvisa, a vacina agora está em análise na Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos, que define o preço para novos medicamentos. “Só após a conclusão dessa nova etapa, podemos seguir com a importação e comercialização do imunizante”, diz nota do laboratório.
O imunizante ainda vai passar por uma bateria de avaliações do Ministério da Saúde, que irá definir se ela vai entrar ou não para o Programa Nacional de Imunizações (PNI). “É uma vacina para ser considerada. No acompanhamento de quatro anos e meio demonstrou uma segurança ótima e há dados de dez anos, ainda não publicados, que mostram que a vacina se mantém eficaz e segura. É um excelente perspectiva em termos de saúde pública, principalmente nos estados onde a dengue é mais importante”, afirma Bravo.
Na última etapa de testes desde 2016, a vacina do Butantan contra os quatro sorotipos da dengue tem a promessa de ficar pronta em 2024. E tem uma excelente vantagem para a disponibilização na rede pública: é em dose única. Se aprovada pela Anvisa, a vacina também poderá ser aplicada tanto em quem já teve dengue quanto em quem nunca pegou a doença.
É uma vacina que está em desenvolvimento há bastante tempo, pelo menos 25 anos, mas tem avançado nos últimos anos. Em dezembro do ano passado, o Butantan anunciou os primeiros resultados da pesquisa, com o acompanhamento de dois anos dos vacinados. Foram promissores: eficácia de 79,6% para evitar a doença e, durante o período, não foi reportado nenhum caso grave de dengue nos participantes.
Ao todo, a fase três do estudo envolve 16.235 voluntários de dois a 59 anos, avaliados por 16 centros de pesquisa de diferentes regiões do país. Em Pernambuco, foram cerca de 1,2 mil voluntários, que se vacinaram na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “Começamos a vacinar em 2016 e vacinamos até 2018. A última visita do participante que entrou por último vai ser em 2024. O tempo maior é para a necessidade de avaliação a longo prazo dos quatro sorotipos”, diz o pesquisador da Fiocruz-PE Rafael Dhalia, que lidera os estudos aqui em Pernambuco.
O Butantan fez a vacinação de voluntários em lugares com alta, média e baixa prevalência da dengue. “Para ver como a vacina se comporta em diferentes situações de endemia. Antigamente, o Nordeste tinha a maior prevalência de dengue e hoje é o Sudeste”, explica Dhalia. A vacina usa a tecnologia de vírus atenuado, assim como a Qdenga e a Dengvaxia.
Para Flávia Bravo, a vacina do Butantan conta com as vantagens de custos e fornecimento. “A Fiocruz e o Butantan são dos maiores produtores de vacinas das Américas e, por serem públicos e brasileiros, há uma facilidade maior de controlar os fluxos de fornecimento para o SUS. Esperamos ansiosamente por essa vacina“, diz a presidente da Sbim.
Uma questão importante!
Colocar em prática um projeto jornalístico ousado custa caro. Precisamos do apoio das nossas leitoras e leitores para realizar tudo que planejamos com um mínimo de tranquilidade. Doe para a Marco Zero. É muito fácil. Você pode acessar nossapágina de doaçãoou, se preferir, usar nossoPIX (CNPJ: 28.660.021/0001-52).
Apoie o jornalismo que está do seu lado
Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Contato: carolsantos@marcozero.org