Evandro Carvalho defendeu a prática do extermínio pela Polícia Militar

Em um país onde absurdos estão virando regra, o presidente da Federação Pernambucana de Futebol (Federação Pernambucana de Futebol), representante máximo do esporte no estado, não teve pudor em defender – ao vivo em uma rádio – a pena de morte e a prática de extermínio por parte da polícia. Na manhã desta terça-feira (4), Evandro Carvalho disse, em entrevista à Rádio Jornal, lamentar que a PM “só tenha atirado para cima” durante o tumulto na festa de aniversário do Santa Cruz, na última segunda, causado por torcedores organizados do time adversário, o Sport.

A declaração não é apenas imoral, mas também é ilegal e inconstitucional, de acordo com a Ordem dos Advogados de Pernambuco (OAB-PE). “É algo completamente reprovável um dirigente esportivo propor pena de morte de forma sumária e fazer apologia à violência. São atitudes contra a lei e contra a Constituição”, considerou o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PE, Cláudio Ferreira. “Espero que ele seja denunciado formalmente”, completou.

Durante a entrevista, Evandro Carvalho defendeu a pena de morte e chamou os torcedores que causaram a confusão na festa do Santa Cruz de animais. “ Infelizmente, nós temos esta defasagem, que o presidente Bolsonaro ainda não conseguiu fazer, que é nós termos pena de morte . Seria muito adequado para este tipo de gente.(…)Este tipo de gente não é gente, são animais que têm que ser executados”, disse. “Infelizmente, a Polícia Militar não pode nem bater, porque se não vai processar tudo que é policial (…) Na verdade, nós temos que tratar eles com cafezinho e água, e respeitar esses pseudos direitos humanos que eles têm”.

A Constituição Federal não admite a pena de morte, lembrou Cláudio Ferreira da OAB-PE. “É cláusula pétrea (que não pode ser modificada) e está entre os direitos fundamentais”, esclareceu. Ele lembrou que “o direito à vida jamais é pseudo direito humano, como avaliou o presidente da FPF. O Código Penal Brasileiro também condena “apologia de fato criminoso ou de autor de crime”, no seu artigo 287. A pena é de detenção de três a seis meses ou multa.

Apesar das críticas da OAB-PE, o dirigente da Federação Pernambucana de Futebol só sofrerá algum tipo de penalidade jurídica se for denunciado formalmente. É tanto que o Ministério Público de Pernambuco se negou a comentar o caso, porque ainda não há uma denúncia registrada.

Reação

Presidente do @OficialSantaCruzFC, Constantino Júnior, reprovou a fala do presidente da FPF. “Não compactuo. No nosso país não existe pena de morte. Violência só gera violência”, argumentou. Na opinião do dirigente, a polícia tem inteligência para combater o crime. “Existe uma série de medidas preventivas e punitivas que podem coibir ações violentas como a que infelizmente ocorreu na festa promovida por torcedores.”

A Torcida Jovem do Sport não comentou a fala de Evandro Carvalho, mas emitiu uma nota condenando os atos violentos praticados pela “Jovem do Sport”, que agrediu torcedores do Santa Cruz durante o evento em comemoração ao aniversário do clube. Havia crianças, mulheres e idosos no momento do ataque e pelo menos três pessoas ficaram feridas. A Torcida Jovem do Sport garantiu que não teve participação no ato.

A reportagem procurou a Confederação Brasileira de Futebol, entidade máxima do futebol brasileiro, para saber se a atitude do dirigente da FPF pode render sanções ou até o afastamento do cargo, mas não recebeu retorno até a publicação deste texto. Também tentamos contato com Evandro Carvalho, mas fomos informados pela Assessoria de Imprensa da Federação Pernambucana de Futebol que ele está viajando. A entidade enviou uma nota onde repudia os atos violentos praticados na última segunda, durante a festa do Santa e se solidariza com as vítimas, mas não comentou a declaração do seu dirigente.