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De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em 2022, Pernambuco foi o estado brasileiro com maior número de assassinatos de pessoas trans. Diante dessa estatística, a programadora e moradora do Ibura, periferia da zona sul do Recife, Luana Maria pensou em uma alternativa que unisse tecnologia, educação e comunicação em uma ferramenta capaz de prestar apoio às vítimas de transfobia.
De forma independente, a programadora e diretora executiva do empreendimento social Pajubá Tech, criou o Pajú Zap, um chatbot integrado ao Whatsapp que recebe e monitora denúncias de violações de direitos humanos contra pessoas trans e travestis. A partir da denúncia, a ferramenta direciona a vítima para os serviços públicos de acolhimento do Governo do Estado.
“Com o Pajú Zap, a gente vai conseguir identificar o tipo de violência, o lugar onde ela ocorreu e com isso também podemos ter dados sobre a transfobia em Pernambuco. Além disso, eu, enquanto pessoa trans, sei que muitas vezes nós temos dificuldade em ir até uma delegacia porque lá muitas vezes nós somos desrespeitadas, então, nós queremos direcionar esses casos para um local seguro, onde as denúncias serão enquadradas da melhor forma possível e o crime não vai ficar impune”, declarou Luana Maria.
O programa ainda está na fase de testes e não foi lançado ao público. No dia 12 de abril, o projeto foi apresentado para representantes do governo estadual e municipal. Participaram da reunião representantes da gerência da política LGBTQIA+ e da superintendência da Juventude do estado de Pernambuco, da secretaria da Juventude do Recife e do Centro Municipal de Referência em Cidadania LGBTQIA+ do Recife.
“O estado de Pernambuco tem um plano LGBTQIA+ que diz que a Secretaria de Defesa Social precisa criar um instrumento para notificar os índices de violência contra a população LGBTQIA+, porém esse instrumento não existe e a nossa iniciativa surge como pioneira para coletar esses dados não apenas em Pernambuco, mas no Brasil. Nosso objetivo é que o estado seja uma referência nacional”, defendeu a programadora Luana Maria.
Transvestigeneridade é um termo cunhado pela deputada Erika Hilton (PSOL) para abarcar todas as identidades que não se identificam como cisgêneras: homens e mulheres trans, travestis, pessoas trans não binárias.
Antes de anunciar a ferramenta de denúncias, a Pajubá Tech liberou a pesquisa “Gênero e Cidadania: Diálogos sobre transvestigeneridade e violência – um olhar sobre Pernambuco”, disponível nas redes sociais da iniciativa. O objetivo é que tanto a pesquisa quanto a ferramenta possam ser meios de coleta de dados públicos para promover a incidência de políticas públicas voltadas para a comunidade LGBTQIA+, sobretudo para as pessoas trans e travestis.
Em 2023, pelo 14º ano consecutivo, o Brasil foi o país com maior registro de mortes de pessoas trans no mundo. Atualmente, os dados sobre violência contra pessoas trans e travestis são coletados e divulgados de forma independente por organizações não-governamentais como a Antra e a Rede Trans Brasil. É neste contexto de escassez de dados e de ações afirmativas para minimizar a violência contra a população LGBTQIA+ que o PajúZap surge como alternativa.
O protótipo do PajúZap já está pronto, mas é preciso que uma série de testes seja realizada para garantir a eficácia da ferramenta e sua utilização de forma segura aos usuários.
Por isso, nas próximas fases o programa será testado por 20 pessoas, entre sociedade civil e especialistas na área de tecnologia. Em seguida, o Pajúzap será liberado e divulgado no bairro do Ibura. No mês de junho, período dos festejos juninos, o programa será liberado e divulgado no município de Arcoverde. Após a realização dos testes com usuários, a ferramenta será analisada e receberá um diagnóstico de soluções. Por fim, a criadora da plataforma espera que os dados coletados pela plataforma possam ser discutidos em uma audiência pública.
“Nós acreditamos, sim, que o Pajú Zap possa ser uma ferramenta integrada entre a população e o poder público, mas nem sempre o diálogo é fácil. Nós estamos conseguindo fazer uma boa incidência e em certa medida estamos vendo o interesse do governo e da prefeitura, mas precisamos continuar cobrando para que seja efetivado. Eu, por exemplo, tenho tentado há meses dialogar com a governadora e com o prefeito do Recife, mas até o momento a espera é o único retorno que tenho”, declarou Luana Maria.
“O programa foi feito de forma independente e nós vamos fazer o possível para que ele funcione da melhor forma, então agora nós estamos em busca de recursos para que isso seja possível”, concluiu a programadora.
O projeto foi realizado por uma equipe voluntária composta 100% por pessoas LGBTQIA+ e profissionais da área de tecnologia e comunicação. A campanha de divulgação do Pajú Zap foi gravada no Buraco da Gata, na comunidade Três Carneiros Alto, no Ibura, e assinada pela diretora de audiovisual Luara Guerra.
“A gente queria mostrar a realidade que vivemos, nosso dia a dia e por isso escolhemos Ariel e Thomas que são moradores do Ibura e são pessoas trans e pretas para protagonizar a campanha”, afirmou Guerra.
Jornalista e mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco.