“Não dá pra fazer mudança com duas candidaturas que representam a mesma coisa. Pra mudar, tem que renovar.”–Daniel Coelho no Twitter no dia 7 de setembro
A postagem do candidato tucano, acompanhada de um vídeo com a mesma abordagem, passa ao eleitor a ideia de que as candidaturas de Geraldo Julio (PSB) e João Paulo (PT) são iguais. A base para a conclusão é que petistas e socialistas foram aliados no passado. Ao afirmar isso, Daniel se desvincula das duas forças políticas e se coloca como o diferente e o novo. O Truco Eleições 2016 – projeto de checagem da Agência Pública, feito em parceria com a Marco Zero Conteúdo no Recife – verificou o comportamento político recente das três legendas (PSDB, PSB e PT) no plano municipal, estadual e federal e constatou que a declaração está distorcida e exagerada. Por isso, recebe a carta “Não é bem assim”.
De fato, o PSB apoiou e participou das duas gestões de João Paulo como prefeito do Recife (2001 a 2008) e teve o vice-prefeito na gestão petista de João da Costa (2009 a 2012). É verdade também que o atual vice de Geraldo Julio, Luciano Siqueira (PCdoB), também foi vice nos oito anos em que João Paulo esteve à frente do executivo municipal. Mas o que Daniel omite na sua declaração –e no vídeo que a complementa – é que PT e PSB romperam no Recife em 2012, quando ambos lançaram candidatos próprios para a Prefeitura.
Em 2014, o distanciamento aprofundou-se levando as duas forças a racharem nacionalmente. O estopim foi o lançamento da candidatura de Eduardo Campos para a Presidência da República contra Dilma Rousseff. Em Pernambuco, o PSB colocou Paulo Câmara para concorrer ao governo e o PT decidiu apoiar Armando Monteiro Neto (PTB).
Se pessoalmente Daniel sempre manteve uma postura crítica ao PSB local, o mesmo não pode ser dito do seu partido. Na disputa estadual, o PSDB fez parte da coligação que elegeu Paulo Câmara (PSB) no primeiro turno, fazendo inclusive parte do secretariado montado pelo socialista para o governo do estado. O governador, aliás, é um dos principais apoiadores políticos da candidatura de Geraldo Julio (PSB).
No plano nacional, a aproximação entre os tucanos e os socialistas aconteceu no segundo turno das eleições presidenciais, quando o PSB apoiou de imediato Aécio Neves. Desde essa época, o PSB colocou-se como oposição ao governo Dilma, com sua bancada votando fechado pelo impeachment da petista.
As coligações montadas para as eleições municipais de 2016 nas capitais brasileiras confirmam o afastamento político entre PT e PSB. Apenas em Rio Branco (AC) as duas legendas estão no mesmo palanque. Já tucanos e socialistas estão juntos em sete capitais. Em Goiânia (GO), Campo Grande (MS), Belém (PA), Teresina (PI) e São Paulo (SP) a cabeça de chapa é do PSDB. Em Cuiabá (MT) e Palmas (TO) o candidato a prefeito é do PSB.
Portanto, levando em conta as alianças políticas recentes, as votações no Congresso Nacional e a relação com os atuais governos federal e estadual, PSDB e PSB estão mais próximos entre si do que os socialistas com os petistas, como afirmou Daniel Coelho.
(Sérgio Miguel Buarque · Carol Seixas)