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Nestes últimos dias, o Projeto Adalgisas, da Marco Zero Conteúdo, entrevistou as três candidatas à prefeitura do Recife: Cláudia Ribeiro (PSTU), Marília Arraes (PT) e Patrícia Domingos (Podemos). Até quarta-feira, iremos publicar as três entrevistas.
Na mesma semana em que o senador Flávio Bolsonaro foi denunciado pelo Ministério Público Federal por peculato, lavagem de dinheiro, apropriação indébita e organização criminosa, a candidata à prefeitura do Recife Patrícia Domingos comemorou o apoio do presidente Bolsonaro à campanha dela. Ex-titular da extinta Delegacia de Polícia de Crimes Contra a Administração e Serviços Públicos (Decasp) foi com a bandeira da corrupção que a carioca de 37 anos calçou sua campanha.
No começo da campanha, Patrícia – que era mais associada ao juiz Sérgio Moro – ficou em cima do muro sobre Bolsonaro. Primeiro, fugia afirmando que não se deveria nacionalizar uma campanha à prefeitura. Depois, que via erros e acertos no presidente. No sábado à noite, veio a confissão: se vangloriou de ter sido a escolhida por Bolsonaro, entre as quatro candidaturas da direita no Recife: “teremos uma ponte direta de diálogo com o governo federal”. E reafirmou que as divergências do PSB e do PT com Bolsonaro eram “picuinhas” – o que vem repetindo nas últimas semanas. Na mesma noite, o deputado estadual Marco Aurélio (PRTB) retirou sua candidatura (e seu 1% da intenção de votos dos eleitores) em apoio à delegada.
As contradições de Patrícia Domingos, porém, não começaram nessa reta final. Na propaganda eleitoral, ela faz questão de se apresentar como uma mulher que conquistou seu espaço sozinha. Ao mesmo tempo, um dos seus apoios políticos mais relevantes é o da deputada Clarissa Tércio (PSC). A mesma que foi pessoalmente protestar contra o aborto legal em uma criança de 10 anos estuprada por um tio. A mesma que repete que a mulher deve ser submissa ao homem.
A delegada Patrícia não quis falar com a Marco Zero. Disse, pela assessoria, que só responderia por escrito. Nas respostas dá para notar uma candidata sem querer se comprometer. Logo na primeira pergunta temos que fazer um adendo: abraçar e receber apoio de extremistas, como Clarissa Tércio, não pode ser lido como um sinal de democracia inclusiva, como diz. A democracia é para acolher e proteger as minorias, e não aqueles que perseguem as minorias.
Outra resposta que merece um comentário é quando ela fala que o auxílio emergencial foi um dos acertos de Bolsonaro. Como toda pessoa que acompanha a política do Brasil sabe, o auxílio foi uma vitória do Congresso.
Na sua propaganda eleitoral você se apresenta como uma mulher que venceu sozinha, sem ajuda de famílias oligárquicas, como outros candidatos. Você também recebe apoio, posa para fotos e tece elogios à deputada estadual Clarissa Tércio (PSC), que por várias vezes defendeu a submissão da mulher ao homem. Você vê contradição entre esses dois posicionamentos?
A democracia permite que opiniões diferentes convivam e trabalhem a favor de um bem comum. Nossa campanha é pautada nesse princípio do processo democrático. Não estamos aqui para julgar ou tecer opiniões sobre os preceitos religiosos de ninguém. Assim como não julgamos ninguém por qualquer outro a aspecto de cunho pessoal. Nossa gestão é inclusiva. Agregadora. Nossa gestão vai abraçar opiniões, inclusive opostas, que queiram fazer um trabalho conjunto a favor de um Recife melhor e mais justo.
Qual a sua relação com o feminismo?
Sou uma mulher que sempre trabalhou, que desde cedo teve que buscar sua autonomia. A minha militância está nas minhas atitudes, na minha história de vida. Acho que a pauta da mulher é fundamental. Como delegada, entendo que muitas mulheres permanecem em relacionamentos abusivos e situações de violência por medo e por não terem como se sustentarem. Nossa gestão vai trabalhar para que as mulheres da nossa cidade alcancem a independência financeira. Vamos investir em qualificação, gerar empregos por meio de parcerias público-privadas. É mais um passo para proporcionar às mulheres do nosso Recife uma vida melhor.
Você tem sofrido uma devassa virtual, com mensagens suas de sete, oito anos vindo à tona. Blogs de direita também têm feitos ataques. Você vê sinais de machismo nesses ataques?
Com certeza. Além da xenofobia. Muitas figuras conhecidas da política local são nascidas em outros estados. Miguel Arraes era cearense. O senador Humberto Costa é nascido em Campinas. O ex-prefeito Roberto Magalhães nasceu no Rio Grande do Norte. Há muitos outros exemplos. A diferença deles para mim é que todos os que citei são homens.
A exploração das mensagens também tem um traço muito forte de machismo. Aquelas postagens foram feitas há 10 anos, em um contexto fora do debate político. Como eu não tenho um passado de ligações escusas para explorarem, usam isso para me desqualificar. O meio político é dominado por homens. Eu fui uma mulher que teve coragem de colocar dezenas de políticos corruptos na cadeia. O machismo desse meio não suporta isso e vai explorar qualquer detalhe para me desqualificar. Só que eu digo logo: não vão conseguir.
Esta é sua primeira campanha política, a primeira eleição que você participa. É, assim como a polícia, um ambiente majoritariamente masculino. Como você pretende montar o seu secretariado e cargos de gestão, caso vença a disputa? Pretende adotar medidas de diversidade?
Sou a favor da meritocracia. Sou um exemplo de que mulheres podem chegar a posições de destaque por sua batalha, pelo trabalho sério e árduo. Óbvio que há mais dificuldades para nós, por conta do machismo, da falta de oportunidades e condições. Na nossa Secretaria da Mulher, vamos criar políticas públicas, em parceria com a iniciativa privada, para a qualificação das mulheres da nossa cidade. O microcrédito para as pequenas empreendedoras também será uma medida crucial. Ampliar a rede de creches, além de zerar a fila dos exames serão outras medidas que vão beneficiar as mulheres do nosso Recife.
Por mais de uma vez você se mostrou reticente em mostrar apoio ou repúdio a Bolsonaro. Disse que via no governo dele “erros e acertos”. Você pode enumerar os acertos que você vê no governo de Bolsonaro?
O auxílio emergencial foi um grande acerto, que garantiu o sustento de milhões de brasileiros durante o período mais duro da pandemia de Covid-19. Não olhamos a cor da gestão, as agremiações. Debatendo o Recife, o que é importante é focar no que o governo federal poderá trazer de bom para a nossa cidade. Não vamos fechar essa porta por uma birra ideológica, como a atual gestão do PSB vem fazendo.
Entre os quatro candidatos e candidatas mais bem posicionados nas pesquisas, você é a única candidata que não cita políticas públicas para as mulheres na sua proposta de governo. Na verdade, a palavra “mulher” aparece uma única vez, ao citar o nome “Secretaria de Políticas para a Mulher”. Se eleita, sua gestão terá ações específicas focadas nas mulheres? você acha importante esse tipo de ações? Qual seriam as atribuições dessa secretaria?
Você está se referindo ao plano de governo que está cadastrado no TSE. Mas esse plano é um plano de eixos. Temos diversas propostas para as mulheres. No nosso programa, temos o Cidade Delas. Esse projeto é voltado para a mulher, com políticas específicas. Vamos criar microcrédito para as microempreendedoras. Qualificar as mulheres com cursos profissionalizantes. Ampliar a rede de creches na cidade do Recife, onde as mães tenham como deixar seus filhos e ir trabalhar. Nossa política é dar independência às mulheres da nossa cidade.
Em março, você pediu afastamento do trabalho presencial na Polícia Civil por conta da pandemia do novo coronavírus, em razão de ter hipertensão arterial crônica, e segue em teletrabalho. Como você se protegeu para fazer campanha de rua, sendo do grupo de risco?
omamos todas as medidas de higiene necessárias. Higienização constante das mãos, uso e troca periódica de máscaras. Só tiro a máscara em contextos onde a distância permite. A saúde da nossa equipe sempre foi prioridade.
Mendonça Filho (DEM) é um dos que mais tem atacado a sua candidatura. Aceitaria o apoio dele em um eventual segundo turno? E de Bolsonaro? (as perguntas foram enviadas antes da declaração de apoio do presidente)
O segundo turno é outra eleição. As pesquisas mostram que o Recife quer mudança. Nosso projeto é o que melhor representa essa mudança. Quem acreditar nisso poderá declarar apoio ao nosso projeto, que é independente de alianças e conchavos.
Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Contato: carolsantos@marcozero.org