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Policiais Militares, cuidado: Bolsonaro os manipula!

Marco Zero Conteúdo / 27/09/2022
Manifestação contra o Presidente Bolsonaro

Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

por Adilson Paes de Souza*

Durante os meus 30 anos de serviço, tive o desprazer de conhecer comandantes que se portavam de maneira idêntica à de Bolsonaro. Falavam e se portavam tal qual o presidente. Estimulavam os policiais, inclusive com elogios e condecorações, a cometeram abusos e mesmo a matarem, pois garantiria impunidade.

Quando esses policiais eram presos ou adoeciam, no entanto, ele era o primeiro a abandoná-los. Em muitas ocasiões, tive a oportunidade de conversar com policiais militares presos e com seus familiares. Em todas as ocasiões, o sentimento de abandono aflorava, e o comandante, antes “ponta firme”, sequer os dignou a visitá-los; simplesmente desapareceu. O sentimento de serem manipulados era latente. Cenário muito triste.

Tenho certeza de que Bolsonaro agirá de maneira semelhante com vocês. Creio ser importante destacar ensinamentos que Sigmund Freud proporciona sobre a ligação entre os liderados e o líder da massa. Estudando a sua obra Psicologia das massas e análise do Eu, vemos que o líder exerce domínio sobre os liderados, de maneira tal, que estes se submetem à vontade daquele de maneira acrítica. Para os liderados, o líder representa tudo aquilo que eles gostariam de ser e de fazer, mas não se sentem hábeis para tal. Então, diante desse sentimento de impotência e/ou de autodesvalorização, projetam seus anseios, suas frustrações em alguém. O liame entre líder–liderado se estabelece. Para Freud, numa massa artificial – a polícia militar e o exército – o líder, na pessoa do comandante, representa o substituto do amor paterno para seus liderados, um pai severo, que procura “cuidar” de seus filhos, guiando-os para o que devem fazer. Essa estrutura libidinal constitui o fator fundamental de existência da massa.

Creio ser o que ocorre com grande parte dos policiais militares no Brasil de hoje. Eles desejam ser Bolsonaro, agir como Bolsonaro, se portar como Bolsonaro, que se apresenta como um super-homem. No limite, ele cometeu e comete crimes em escala, profere absurdos e todo dia ofende pessoas das quais não gosta e, ao final, nada acontece. Eles querem ser Bolsonaro, que se apresenta como alguém que deve ser temido em vez de desejar ser respeitado. Bolsonaro representa o mesmo sentimento de policiais que, no exercício de suas funções, causam medo nas pessoas, principalmente àquelas pertencentes às camadas mais marginalizadas da sociedade. Estes policiais, como Bolsonaro, confundem autoridade com truculência, arbítrio e violência. Estes policiais, tal qual Bolsonaro, não admitem críticas, questionamentos e possibilidades de controle às suas ações. A figura do super-homem, com superpoderes, é realçada a cada momento.

Há uma boa parcela de policiais militares que apoia Jair Bolsonaro e se identifica com suas pautas. Bolsonaro se apresenta como o porta voz dos anseios desta classe trabalhadora, constantemente lança promessas de valorização salarial e de suporte às suas atividades desenvolvidas. Ele promete, inclusive, isentar de qualquer investigação os policiais que matarem alguém no exercício de suas funções. Ou seja, ele promete impunidade.

Bolsonaro convoca os policiais para estarem com ele, em caso de derrota nas eleições, numa luta contra fraudes que vierem a ocorrer. Ele lança ataques ao sistema eleitoral brasileiro, cuja excelência de funcionamento é reconhecida internacionalmente e nacionalmente, desde sempre. Ele e seus filhos foram eleitos, sucessivas vezes, sem qualquer tipo de problema utilizando o mesmo sistema eleitoral. Enfim, Bolsonaro convoca os policiais militares para apoiá-lo.

Policiais militares, cuidado! Bolsonaro os manipula para seu projeto personalista de poder e, afirmo, sem medo de errar, que irá descartá-los em caso de conseguir atingir seu objetivo.

Bolsonaro, durante os quase 30 anos que exerceu o mandato de deputado federal, nunca fez nada em favor da classe policial. Nada, nem um único projeto. Seu mandato foi marcado por ofensas, absurdos e escândalos. Vocês devem se lembrar que, durante a campanha presidencial em 2018, ele prometeu melhoria salarial. O que foi feito? Nada. Até mesmo porque este é um assunto de competência dos governos estaduais. Pergunto: Como alguém que exerceu mandato durante tanto tempo e que nada fez, de concreto, para o bem dos policiais, iria fazer isto em algum momento? A manipulação é evidente. Ele brinca com os medos, as necessidades, os anseios, as preocupações e as desilusões de cada policial.

Estejam atentos, policiais, que vocês serão julgados pelos crimes que cometerem. Não há nada que Bolsonaro possa e queira fazer para assegurar impunidade. Cada um de vocês terá que constituir advogado de defesa, arcando com os custos e com as consequências. Repito, cansei de ver essa cena durante a minha carreira.

Ernesto Geisel, um dos presidentes da República na ditadura militar, numa entrevista concedida em 28 de julho de 1993, se referiu a Bolsonaro da seguinte maneira: “Não contemos o Bolsonaro, porque o Bolsonaro é um caso completamente fora do normal, inclusive um mau militar…”. Pergunto a vocês, policiais militares, como confiar em alguém desse tipo? Como se espelhar num mau militar?

Bolsonaro representa o que há de pior num péssimo comandante: egocêntrico, egoísta, insensível. Há evidentes manifestações de um narcisismo patológico. Policiais militares, Bolsonaro não deseja o bem de vocês. Bolsonaro não merece o voto de cada um de vocês.

*Tenente-Coronel, aposentado, da Polícia Militar do Estado de São Paulo, doutor em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia da USP e integrante do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio (IPPES)

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