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Por que o principal espaço de cultura e lazer agoniza no Cabo de Santo Agostinho?

Artigo do jornalista e militante de Direitos Humanos Rafael Negrão

Marco Zero Conteúdo / 02/07/2024
Foto da fachada do teatro Barreto Júnior, no Cabo de Santo Agostinho. O telhado inclinado em concreto possui linhas paralelas ao longo de seu comprimento. A lateral do prédio visível na imagem está pintada com arte de grafite, incluindo uma grande representação de um personagem usando óculos e um chapéu, além de várias assinaturas dos artistas. Na frente do edifício, há uma área não pavimentada com vegetação e detritos espalhados. Uma picape cinza está estacionado ao lado do prédio, sob parte da estrutura do telhado. Linhas de energia são visíveis no céu, e parece ser um dia nublado.

Crédito: Rafael Negrão

por Rafael Negrão*

Um dos principais espaços de cultura do Cabo de Santo Agostinho, localizado na rua Joaquim Nabuco, no Centro da cidade, agoniza pelo abandono do poder público. O Teatro Municipal Barreto Júnior, inaugurado em 1985, que leva o nome de José do Rego Barreto Júnior que foi um ator e diretor de teatro cabense, nascido em 1903, tendo sido um dos nomes mais importantes do teatro brasileiro empresta o seu nome a dois equipamentos públicos: um no bairro do Pina, no Recife, e outro no Cabo de Santo Agostinho, sua cidade natal, situada na Região Metropolitana.

O teatro do Pina anda em pleno funcionamento, a uns 30 quilômetros do Cabo. Já o do nosso município deteriora em ruínas, tendo completado aniversário do primeiro incêndio, no dia 26 de junho, de 2014. O equipamento público já foi referência na promoção da arte no município que é um celeiro de artistas em diversos segmentos. Em 2017, outro incêndio atingiu o Barreto Júnior causando ainda mais prejuízo que afetou o teto e destruiu parte do palco, além de áreas externas.

Quem, em nossa cidade, não lembra do Festival Nacional de Teatro do Cabo e da Mostra Cabense de Esquetes e Poesias Encenadas (Mocaspe), que reunia milhares de pessoas todos os anos na cidade para prestigiar espetáculos, e performances de vários transformistas e artistas da cidade, da Escola de Artes de Britto? Sem contar com as inúmeras exposições artísticas que traziam vida para o povo do município e de cidades vizinhas. Hoje, o equipamento público só tem servido para o estacionamento dos carros dos policiais do 18° Batalhão da Polícia Militar e para o uso de drogas, prática do sexo, depósito de lixo e entulhos.

Ficam uns questionamentos para os diversos governantes que estiveram e estão à frente da política cultural do município: até quando esse espaço de promoção de cultura e entretenimento será relegado ao descaso? Por que um município que arrecada mais de R$ 1,3 bilhão por ano não prioriza a reforma desse equipamento público? Como mudar esse cenário que coloca a cidade como a 8ª mais violenta do País, segundo o Atlas da Violência de 2024, divulgado na semana passada, no qual ressalta que a juventude pobre, preta e periférica cabense é uma das maiores vítimas da letalidade juvenil, tendo praticamente todos os dias jovens tombando em becos e vielas de nossa cidade conhecida popularmente e midiaticamente como cidade da morte?

*Jornalista, militante dos Direitos Humanos integrante da equipe de Comunicação do Centro das Mulheres do Cabo, sendo colaborador da Agência de Notícias das Favelas e do Programa TVDH/Cátedra Unicap.

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