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Crédito: Arquivo Pessoal
A falta de uma boa conexão de internet, a ausência de suporte escolar para o acesso às aulas online e a divisão injusta das tarefas domésticas em casa são fatores que dificultam o aprendizado de qualidade e levam mulheres e meninas da zona rural a abandonar a escola. Com a pandemia, as coisas ficaram ainda piores para as estudantes de pequenas comunidades rurais do Sertão e Agreste de Pernambuco que tiveram de se adaptar ao ensino à distância.
Nesse cenário, o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Pernambuco (MMTR-PE) elaborou, em 2020, o projeto “Educação das Meninas Rurais de Pernambuco Convivendo com a Covid-19” para mapear, acompanhar e auxiliar o cotidiano escolar de meninas da zona rural. O foco do projeto foram os quatro municípios do interior do estado que apresentam maiores sinais de danos causados pela pandemia no desenvolvimento e aprendizagem de jovens estudantes: Angelim, Casinhas, Pombos e São José do Belmonte.
A proposta foi apresentada ao Fundo Malala, que havia lançado um edital para financiar iniciativas destinadas a garantir a educação de meninas, assegurando 75 mil dólares (aproximadamente R$ 389 mil) para que o MMTR realize as atividades em até 15 meses. A maior parte dos recursos foi usado na compra de equipamentos de mídia, capacitação de professoras e a compra de dados móveis para as meninas que entraram no projeto e não tinham uma boa conexão de internet disponível.
O Fundo foi criado por Malala Yousafzai, jovem ativista paquistanesa de 24 anos que, em 2012, enquanto voltava da escola, foi baleada na cabeça por um membro do Talibã. Malala, que na época ainda era uma menina, virou alvo do grupo extremista por defender o direito à educação para as mulheres paquistanesas. Em 2014, com 17 anos, ela recebeu o Nobel da Paz, tornando- se a pessoa mais jovem a receber o prêmio. O dinheiro da premiação foi usado para criar a organização que tem o objetivo de articular ações que garantem os estudos e o aprendizado de meninas de 12 a 16 anos em oito países (Afeganistão, Brasil, Etiópia, Índia, Líbano, Nigéria, Paquistão e Turquia).
De acordo com o coordenador pedagógico do projeto, Avanildo Duque da Silva, é importante que as meninas sejam inseridas em discussões que promovam a igualdade de gênero em casa e na escola. “Nós elaboramos uma proposta focando em fortalecer as meninas e mulheres rurais ameaçadas pela pandemia da covid-19 para que elas não ficassem para trás, no sentido da rematrícula nas escolas, na recuperação de aprendizados. Procuramos apoiar professores e profissionais da educação para que eles possam trabalhar com segurança sanitária e também buscamos trabalhar a igualdade de gênero e contribuir para o aprimoramento das políticas públicas, programas e ações que estão relacionados a esse retorno seguro às aulas presenciais e à convivência com a covid-19”, detalhou Avanildo.
Em São José do Belmonte, no sertão, a 476 quilômetros do Recife, o projeto atende a 42 meninas da zona rural do município, sendo 31 meninas do distrito de Bom Nome e outras 11 da comunidade Jurema, nas escolas Manuela Fernandes de Araújo e Napoleão Araújo, respectivamente. As atividades oferecem suporte e orientam as mães e meninas que precisam de suporte para continuarem ligadas à escola, além de promoverem igualdade de gênero no ambiente escolar, identificando e intervindo em casos de violência contra as meninas. A ideia é formar novas ativistas pela educação.
A agricultora Claudivânia Pereira, 27, mora na comunidade Jurema e é mãe de Júlia, de nove anos, e de Sara, de cinco (foto à esquerda). Claudivânia e as suas duas filhas participam das atividades promovidas pelo MMTR-PE. Para ela, o apoio do projeto tem sido fundamental para o enfrentamento das dificuldades trazidas pela covid-19 ao aprendizado das meninas. “Olha, não tem sido fácil pra gente e nem pra outras famílias da comunidade, mas o movimento tem mantido a gente informada, tem dado espaço pra que a gente possa expor e debater as dificuldades de cada uma de nós. Tira as nossas dúvidas e dá sugestões pra nos ajudar a passar por esse momento”, contou a agricultora.
Vizinha de Claudivânia, Maria Heloisa Almeida, tem 16 anos e é estudante do primeiro ano do ensino médio e conhece a história de Malala, por isso diz ter satisfação e orgulho de participar. “O projeto me trouxe novas experiências e garra para lutar pelos meus planos de vida e de todas as minhas companheiras mulheres. Quando entrei, comecei a enxergar como o nosso mundo é tão cheio de machismo. No meu dia a dia, eu preciso cuidar dos estudos, das tarefas domésticas e ajudo a minha mãe e minha avó. É bastante complicado, mas as rodas de conversa e as nossas discussões me ajudam a lidar com isso enxergando tudo de uma forma mais crítica e buscando soluções.”
Para Maria Heloisa, Malala é um símbolo de luta e inspiração. “As atitudes de Malala, o jeito que ela leva a vida, com coragem e determinação, querendo sempre mais pra nós, meninas, é uma coisa gratificante de conhecer e me inspira muito. Me faz perceber que é possível mudar o mundo”.