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PSB mantém hegemonia na Câmara do Recife. Novidade é o avanço do feminismo

Laércio Portela / 16/11/2020

Foto: Reprodução Facebook das candidatas

Nada mais simbólico na eleição para a nova Câmara do Recife de que o posto de recordista de votos tenha passado da ultraconservadora Michele Collins (PP) para a advogada e historiadora feminista Dani Portela (Psol). Michele foi reeleita, mas viu seu eleitorado encolher de 15.357, em 2016, para 6.823 eleitores agora, enquanto Dani obteve 14.114 votos. A candidata do Psol colhe os frutos de sua atuação política a partir da candidatura a governadora de Pernambuco em 2018.

Outras duas candidatas do campo feminista vão estrear no legislativo municipal, a advogada e professora da Faculdade de Direito Liana Cirne (PT) e a ex-secretária da Mulher do Recife e poeta Cida Pedrosa (PCdoB). Embora em campos opostos neste segundo turno – Liana, assim como Dani, apoia a candidatura de Marília Arraes à prefeitura, e Cida, a de João Campos – é de se imaginar que as três estarão unidas em vários temas relativos aos direitos das mulheres. E contarão com o reforço de parlamentares progressistas como o vereador reeleito Ivan Moraes (Psol).

Os confrontos com o campo conservador devem ganhar novo status na câmara. Se os evangélicos desidrataram a força eleitoral da missionária Michele Collins e não reelegeram a Irmã Aimée (PSB), por outro lado, deram a terceira maior votação na disputa da câmara para o pastor Júnior Tércio (Podemos), marido da deputada estadual ultraconservadora Clarissa de Tércio, uma das maiores incentivadoras do uso da cloroquina contra a Covid-19 no estado, embora o medicamento possa potencialmente trazer complicações e não a cura aos contaminados pelo coronavírus.

Os embates de Clarissa Tércio e do deputado Cleiton Collins, marido de Michelle, com as codeputadas das Juntas na Assembleia de Pernambuco podem ser uma base para compreendermos o que virá pela frente na câmara, antepondo os Tércio e Collins às novas vereadoras do Psol, PT e PCdoB.

Base de João Campos

Uma coisa não mudou na Casa José Mariano, a hegemonia do PSB. O partido fez doze vereadores, sendo que dez deles foram reeleitos. Os nomes novos são Carlos Muniz e Joselito Ferreira. Na conta do lápis, o PSB perdeu seis parlamentares se considerarmos a atual formação na Câmara, onde detém 18 cadeiras. Mas se levarmos em conta a eleição de 2016, o número de eleitos cresceu em quatro, já que o PSB elegeu oito vereadores naquele ano. Sim, em quatro anos o partido mais que dobrou de tamanho, abocanhando em suas fileiras candidatos que chegaram ao legislativo por outras legendas.

Ao todo, a coligação que apoiou João Campos no primeiro turno (PSB, MDB, Rede, PCdoB, Solidariedade, Pros, Avante, Republicanos, PP, PDT e PSD) elegeu 25 dos 39 vereadores da Casa. Uma má notícia para uma eventual vitória de Marília Arraes nas urnas. Apenas cinco candidatos a vereador da sua coligação proporcional (PT, Psol, PTC e PMB) foram eleitos. Um dos três petistas, Osmar Ricardo se posicionou contra a candidatura dela à prefeitura, defendendo a manutenção da aliança com o PSB. O contrário do vereador reeleito Jairo Brito (PT) que, assim como Liana Cirne, apoiou e se engajou na campanha de Marília.

Na coligação pró João Campos a surpresa foi a votação de Andreza Romero (PP). Com 13.249 votos, ela obteve a segunda maior votação para a câmara. Andreza, como revelou a Marco Zero, havia sido a candidata que mais gastou com recursos em impulsionamento no Facebook quando a reportagem foi publicada. Esposa do deputado estadual e ex-vereador Romero Albuquerque (PP), Andreza fez sua campanha focada na defesa dos animais, contra os maus tratos.

O palanque da Delegada Patrícia (Podemos) elegeu três vereadores, entre eles o pastor Júnior Tércio e o Dr. Tadeu Calheiros, do Podemos, e o reeleito Júnior Bocão, do Cidadania. O de Mendonça Filho (DEM, PSDB, PTB e PL) fez apenas um; o do coronel Feitosa (PSC, DC, Patriota), três; e Carlos Andrade Lima (PSL), só um. E o deputado Marco Aurélio Meu Amigo (PRTB), que renunciou à candidatura à Prefeitura do Recife conseguiu colocar na Câmara o filho Marco Aurélio Filho (PRTB).

Dos 39 vereadores que tomarão posse no próximo dia 1 de janeiro, 22 foram reeleitos e 17 chegam pela primeira vez à Câmara do Recife, uma renovação de pouco mais de 40%, no mesmo patamar da legislatura 2017-2020. Em 2016 foram eleitas seis mulheres, agora, sete. Como em toda eleição, a disputa deixou pelo caminho nomes que protagonizaram os debates na Casa ou na política municipal nos últimos anos, como os dos vereadores Rinaldo Júnior (PSB), Jayme Asfora (Cidadania), Antônio Luiz Neto (PSB) e João da Costa (PT).

Veja quem são os 39 vereadores eleitos em Recife

  1. Dani Portela (PSOL): 14.114
  2. Andreza Romero (PP): 13.249
  3. Pastor Júnior Tércio (Podemos): 12.207
  4. Eriberto Rafael (PP): 11.938
  5. Romerinho Jatobá (PSB): 11.500
  6. Davi Muniz (PSB): 10.498
  7. Helio Guabiraba (PSB): 10.393
  8. Aderaldo Pinto (PSB): 10.062
  9. Felipe Francismar (PSB): 10.037
  10. Chico Kiko (PP): 9.194
  11. Samuel Salazar (MDB): 9.188
  12. Carlos Muniz (PSB): 8.586
  13. Natália de Menudo (PSB): 8.424
  14. Fred Ferreira (PSC): 8.407
  15. Alcides Teixeira Neto (PSB): 8.379
  16. Rodrigo Coutinho (Solidariedade): 8.359
  17. Renato Antunes (PSC): 8.104
  18. Professora Ana Lúcia (Republicanos): 7.901
  19. Luiz Eustaquio (PSB): 7.889
  20. Eduardo Marques (PSB): 7.706
  21. Wilton Brito (PSB): 7.539
  22. Joselito Ferreira (PSB): 7.429
  23. Almir Fernando (PC do B): 7.304
  24. Missionária Michele Collins (PP): 6.823
  25. Liana Cirne (PT): 6.819
  26. Professor Jairo Britto (PT): 6.635
  27. Ivan Moraes (PSOL): 6.319
  28. Junior Bocão (Cidadania): 6.256
  29. Paulo Muniz (Solidariedade): 5.908
  30. Osmar Ricardo (PT): 5.838
  31. Marco Aurelio Filho (PRTB): 5.810
  32. Dr Tadeu Calheiros (Podemos): 5.610
  33. Fabiano Ferraz (Avante): 5.276
  34. Felipe Alecrim (PSC): 4.681
  35. Dilson Batista (Avante): 4.404
  36. Alcides Cardoso (DEM): 4.019
  37. Cida Pedrosa (PC do B): 3.697
  38. Ze Neto (Pros): 3.278
  39. Doduel Varela (PSL): 2.302
AUTOR
Foto Laércio Portela
Laércio Portela

Co-autor do livro e da série de TV Vulneráveis e dos documentários Bora Ocupar e Território Suape, foi editor de política do Diário de Pernambuco, assessor de comunicação do Ministério da Saúde e secretário-adjunto de imprensa da Presidência da República