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A manhã desta terça-feira (13) foi marcada pelo ato unificado dos enfermeiras e professorasdo Recife que estão em greve há quase uma semana. As duas categorias que esperam reajuste salarial desde janeiro e contam com seus próprios sindicatos independentes do Sindicato dos Servidores e Empregados Públicos do Recife (Sindsepre), recusaram a proposta da gestão de João Campos (PSB) de 1,5% reajuste salarial e R$ 1,00 (isto mesmo: um real) no vale alimentação.
Tanto o pessoal da enfermagem quanto professoras e professores da rede municipal de educação tomaram posição na contramão do Sindsepre que representa 28 categorias de servidores e esteve em greve de 30 de abril até a última quinta-feira (08), encerrando a paralisação ao aceitar a proposta da gestão com a promessa de melhorias nas gratificações.
O Sindsepre é presidido pelo ex-vereador do Recife Osmar Ricardo (PT), irmão do secretário municipal de Meio Ambiente, Oscar Barreto, também do PT. O Instituto de Consultoria, Cidadania e Assessoria Social (Iccaspe), ligado aos irmãos petistas, é beneficiado por um convênio com a prefeitura do Recife para gerenciar nove creches.
Apesar do sindicato ligados à corrente petista aliada ao PSB ter acatado a proposta, as categorias seguem em negociações setoriais, cada uma apresentando suas próprias demandas. Ontem e hoje, diversas categorias se reuniram novamente em mesas de negociações para tentar um acordo, mas as greves continuam.
Uma das pessoas que vai estar na mesa de negociações diante dos representantes do prefeito é Elaine Oliveira, que dedicou 40 dos seus 59 anos de vida à educação no Recife. Atualmente ela exerce a função de coordenadora pedagógica de um Centro de Educação Infantil na comunidade do Coque, mas começou sua trajetória na antiga Escola Municipal do Alto Santa Terezinha em 1987. Com dois concursos na rede e a carreira quase toda dedicada à educação infantil, a servidora já passou por gestões de nove prefeitos, sempre na luta para garantir os direitos da categoria.
Suplente do Sindicato Municipal dos Profissionais de Ensino do Recife no Conselho Municipal de Educação, ela já é aposentada do primeiro concurso e prestes a se aposentar do segundo. Durante toda sua vida profissional precisou trabalhar dois turnos ou mais para conseguir criar os três filhos praticamente sozinha. Mesmo assim, a realização pessoal por meio da carreira ainda não foi alcançada. Ela não tem casa própria e conta nos dedos as poucas viagens que fez a passeio em suas férias.
A luta faz parte da sua história e também move os profissionais da categoria que, segundo Elaine, só conseguem o mínimo de direitos enfrentando as administrações municipais. A proposta mais recente apresentada pela prefeitura chegou a 2,45% a partir de maio, mas a categoria reivindica o reajuste de acordo com a Lei do Piso do Magistério, de 6,27% com retroativo a janeiro e a incorporação à carreira. “A proposta da prefeitura achata nossa carreira, porque ele implementa para quem está abaixo do piso, os professores novatos, e não rebate no restante da carreira. O que representa uma perda de valorização”, afirma a coordenadora.
Elaine avalia que a conjuntura atual está antecipando o processo de adoecimento dos professores. “A velha guarda começou adoecer com dez ou 11 anos de serviço, hoje é muito comum você ver professores com um ou dois anos de serviço tendo questões de saúde”, lamenta. Mas os desafios enfrentados vão além do salário e da falta da valorização. A má estrutura das escolas, falta de funcionários e a sobrecarga também são problemas recorrentes no cotidiano da educação do Recife. Entretanto, as pautas se cruzam como as de outras áreas, como é o caso dos profissionais da saúde.
Um profissional da enfermagem com carga horária de 30 horas tem um salário base médio de R$ 3 mil, por esse motivo, a categoria está reivindicando o reajuste de 20% para poder repor as perdas salariais dos últimos anos, pois nos últimos três anos tiveram o reajuste abaixo da inflação.
Hoje, a rede conta com aproximadamente 800 profissionais atuando entre as Unidades de Saúde da Família (USF), policlínicas em condições críticas e hospitais. Quando a greve dos enfermeiros foi deflagrada, na última quinta-feira (08), representantes do Sindicato dos Enfermeiros comandaram a interrupção do trânsito na avenida Norte Miguel Arraes, em frente à policlínica e maternidade Barros Lima, para chamar a atenção as condições precárias de trabalho. Segundo Ludmila Outtes, presidente do SEE-PE, o problema na unidade vai de superlotação à falta de berços para os recém nascidos, mas essa realidade é refletida em outras unidades.
Proposta da gestão enfureceu profissionais de enfermagem
Crédito: Instagram @seepedepernambuco“Na Imbiribeira, o pessoal está há mais de um ano dentro de um contêiner e segue sem previsão de quando eles vão ter uma casa para atender. Fora isso, há várias unidades onde falta material de curativo, faltando gases, esparadrapos. Medicamentos básicos para controle de hipertensão e diabetes também estão em falta”, afirma.
Após várias tentativas de negociação, Ludmila afirma que na última sexta-feira (09) a gestão entrou em contato para exigir a suspensão da greve, porém sem apresentar quais as demandas seriam atendidas. Obviamente, a greve se manteve. Agora os profissionais têm a expectativa de que a pressão popular faço com o que a prefeitura mude de posição.
“A gente espera que com isso o prefeito desça do seu pedestal, diminua a sua soberba e resolva conversar com a categoria, com as categorias que estão pedindo o mínimo, que é a reposição da inflação nos seus salários. Hoje a gente tem, inclusive, vários profissionais fazendo os plantões extras dentro da própria prefeitura para poder complementar a renda, porque não dá”, reforça a presidente.
Até uma categoria que raramente se mobiliza também está insatisfeita e mobilizada para enfrentar a gestão de João Campos Com a sobrecarga de trabalho e longe de um salário compatível com as atividades designadas, psicólogas e psicólogos da rede municipal de saúde entraram em estado de greve.
Segundo levantamento do Sindicato dos Psicólogos de Pernambuco (Psicosind), a rede municipal possui 123 profissionais estatutários com carga horária de 30 horas e apenas 23 profissionais de 40 horas. Na prática, os profissionais com 40 horas trabalham nas equipes multidisciplinares, chamadas de eMulti, que atuam diretamente na Atenção Primária à Saúde em unidades de saúde da família (USF). Já os de 30 horas atuam em outras unidades como policlínicas, centros de atenção psicossocial (CAPS) e outros serviços que oferecem o apoio psicossocial.
De acordo com o levantamento sobre os Equipamentos de Saúde disponível no portal da transparência do Recife, das 138 unidades de saúde da família, apenas 20 possuem o que eles chamam de Núcleo de Apoio a Saúde da Família composto por psicólogos, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, farmacêuticos, fisioterapeutas e assistentes sociais. O que acaba sobrecarregando os profissionais e não atendendo à demanda da população.
Entre as reivindicações do Psicosind estão o aumento do vencimento dos psicólogos do setor de saúde em 30%, considerando o acúmulo inflacionário resultante em 14,58%, referente ao período de janeiro de 2021 a novembro de 2024 em que esteve vigente a última negociação, mais um aumento real de 15,42%, ainda no primeiro semestre. Além do aumento do valor do ticket alimentação de R$ 22,00 para R$ 52,00.
Sobrecarga e filas nas unidades de saúde é rotina no Recife
Crédito: Arnaldo Sete/Marco ZeroOutros itens na pauta de reivindicações são a expansão da eMulti juntamente com ESF, além da ampliação da Rede de Apoio Psicossocial (RAPS), ambulatórios, serviços especializados, consultório na rua, espaços Mãe Coruja, entre outros serviços, a partir da realização de concursos públicos e execução do chamamento dos aprovados em concursos vigentes. Além disso, também pedem a implementação da insalubridade para todos os trabalhadores a partir do ingresso na rede.
“Se o prefeito não consegue cuidar nem ouvir as necessidades dos trabalhadores que servem à cidade, que estudaram e prestaram concurso público, como é que ele quer cuidar do povo e dos problemas da cidade?”, indaga Bruna Leitão, representante do Psicosind na mesa de negociação com a gestão municipal.
Bruna é psicóloga na rede desde 2014 e enxerga a falta de cuidados com os profissionais e a discrepância entre os salários de diferentes áreas da saúde um grande problema. “E a gente briga também para que esses profissionais sejam cuidados para não adoecerem do jeito que estão adoecendo. Que haja uma menor desigualdade salarial entre as profissões”, reforça.
1. 14/05 – Farmacêuticos, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais
2. 15/05 – Vigilantes sanitários, médicos veterinários, químicos e cirurgiões dentista
3. 16/05 – Músicos, engenheiros e arquitetos
4. 19/05 – Gestores governamentais e assistentes de gestão pública
Jornalista formada pelo Centro Universitário Aeso Barros Melo – UNIAESO. Contato: jeniffer@marcozero.org.