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Religiosos, artistas, indígenas e ambientalistas contra Escola de Sargentos na APA Aldeia-Beberibe

Marco Zero Conteúdo / 28/04/2025
A foto mostra uma manifestação ao ar livre durante o dia, com céu azul e sol. Pessoas estão reunidas em frente a uma estrutura de colunas antigas. Uma faixa grande pede Desmatamento Zero e Salve a APA Aldeia-Beberibe, com desenhos de animais como onça, cobra e preguiça. Outras faixas menores defendem a natureza e a justiça social. Um homem com camiseta branca e microfone lidera o protesto. Algumas pessoas tiram fotos e acompanham atentas. O clima é pacífico e de engajamento ambiental. A manifestação pede a proteção da floresta da APA Aldeia-Beberibe.

Crédito: Júlia Chade/Cortesia

por Júlia Chade*

A possibilidade de destruição de 200 mil árvores em plena Mata Atlântica mobilizou neste domingo, 27 de abril, uma inédita aliança entre lideranças religiosas, indígenas, movimentos sociais e artistas no Recife. A caminhada inter-religiosa, que partiu da Praça do Derby e seguiu até o Marco Zero, denunciou a construção da Escola de Sargentos do Exército na Área de Proteção Ambiental (APA) Aldeia-Beberibe, considerada o maior fragmento contínuo de floresta nativa da Região Metropolitana.

O projeto, apoiado pelos governos federal, estadual e municipal, prevê a supressão de uma área vital para o abastecimento hídrico e a estabilidade climática da capital pernambucana. “Não existe civilização sem floresta. Não existe fé sem vida”, resumiu o pastor Josias Caeté, um dos líderes presentes no ato.

Entre os organizadores e apoiadores da manifestação estavam Ângelo,(Fórum de Mudanças Climáticas), a Comissão Pastoral da Terra (CPT), Robson (CIAMP Rua), Milton Tenório (Comitê Popular de Aldeia), as indígenas, Jarluzia Tapuia e Harya Tapuia, a ativista Joyce Santana, Sávio Delano (dirigente da Igreja Céu de São Lourenço), Marcelo Diniz (Instituto Afro Origem), Tainá Martins (Juventude MPTC), Hebert Tejó, Vânia Fialho, a deputada estadual Dani Portella (PSOL), o vereador Marco Aurélio Filho e o budista Seu Sandro (Fórum de Diálogos de Pernambuco).

O protesto misturou espiritualidade e cultura popular. Máscaras de animais ameaçados, apresentações artísticas e rezas ecumênicas marcaram o percurso. A culminância foi um apelo coletivo no Marco Zero: a Mata Atlântica precisa resistir.

A APA Aldeia-Beberibe cobre 31.634 hectares, espalhando-se por oito municípios da Região Metropolitana do Recife. Em Abreu e Lima, 69% do território ainda é coberto por mata. Camaragibe, Araçoiaba e Recife também guardam trechos expressivos. Especialistas alertam que a remoção de árvores colocará em risco a segurança hídrica, agravando os efeitos da crise climática.

A defesa da floresta ganhou adesão de grandes nomes da música brasileira. Artistas como Maciel Melo, Jessier Quirino, Zeh Rocha, Evandro Mesquita, Otto, Flaira Ferro, Wilson Freire, Lucinha Guerra, Siba, Puri, Silvério Pessoa, Cannibal, Josildo Sá, Antônio Carlos Nóbrega, Antônio Madureira e Liana Cirne manifestaram apoio à campanha #SalveAPA.

Durante a concentração, o engenheiro Daniel Valença, da Ameciclo, ironizou a proposta militar em versos:
”Que ideia descabida e também mal engembrada/ De destruir uma mata, para fazer brigada/ Tirar a área preservada, a fonte de rios, casa de animais / encher de fuzil e de oficiais…”

Apesar da pressão popular crescente, o Exército e os governos envolvidos continuam defendendo o projeto, que ameaça sacrificar um dos últimos respiros verdes do estado em plena emergência climática global.

Os organizadores da manifestação prometem manter a mobilização e ampliar a resistência. “Se necessário, seremos raízes fincadas nesta terra”, declarou Jarluzia Tapuia.

*Júlia Chade é educadora social, integrante da Coalizão Antirrascismo da ONU (UNARC) pelo Instituto Vozes da Inclusão

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