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Sem-tetos do MLB inovam com protesto em supermercados na época do Natal

Marco Zero Conteúdo / 13/12/2023
Manifestantes com bandeiras e camisas vermelhas lotam corredores de supermercado.

Crédito: Clara Lucena/Cortesia

por Emerson Saboia

Pelo natal de cerca de 1.500 famílias, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) ocupou, na manhã deste último sábado, dia 9 de dezembro, o supermercado Carrefour no bairro de Boa Viagem, zona sul do Recife. A manifestação denunciou a fome e negociou a doação de cestas básicas em benefício de um natal com dignidade para famílias pernambucanas necessitadas. A ação coordenada do MLB aconteceu em 18 estados do país e no Distrito Federal simultaneamente e faz parte da campanha “Natal sem Fome” realizada há 25 anos, porém que conta com as manifestações em supermercados como uma inovação na tática de luta dos sem-teto.

O movimento, que historicamente se posiciona pelo acesso à moradia e por políticas contra a fome no Brasil, levou centenas de pessoas, entre idosos, crianças, mães solo, trabalhadores e universitários a sentar no chão no supermercado e levantar as bandeiras das pautas que o MLB reivindica. “A gente vê muita propaganda do natal, papai noel, mesa farta, mas infelizmente a realidade dentro da grande maioria da população é totalmente diferente”, defende a coordenadora estadual do MLB, Nathália Lúcia.

A realidade que Nathália descreve é comprovada por dados. De acordo com um relatório da Rede Penssan em 2022, Pernambuco é o segundo estado que mais passa fome no Nordeste, com 2,1 milhões de pessoas sem ter o que comer. Em todo o país, 125,2 milhões de pessoas em insegurança alimentar vão atravessar o natal de 2023 sem a fartura que toda a publicidade nesta época do ano promete às famílias. 

O supermercado Carrefour foi o escolhido para a ocupação deste ano pela “dívida para a sociedade” que a empresa representa, segundo o MLB. “Esse ano a gente decidiu fazer no Carrefour porque somam-se várias denúncias de racismo há muito tempo, inclusive de assassinatos”, como explica Matheus Araújo, integrante da coordenação nacional do MLB. As supostas doações de alimentos para o exército isralense por parte da rede francesa de supermercados no último dia 10 de outubro também é uma das cobranças do movimento. “O Carrefour, ao invés de doar alimentos para o povo brasileiro, está participando de um verdadeiro genocídio”, conclui Araújo.

A ocupação também foi registrada em unidades do Carrefour em cidades como São Paulo, Natal, Belém, Fortaleza, Belo Horizonte, Salvador, Aracaju, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e entre outros. De acordo com informações divulgadas pelo perfil oficial do MLB nas redes sociais, cerca de 3 mil cestas básicas foram arrecadadas em todo o Brasil, além de um “compromisso de no próximo ano a Rede Carrefour atender a demanda completa que é de mais de 7 mil famílias”, descreve o pronunciamento. O total das doações será dividido entre os grupos das capitais que participaram. As quase oito horas de mobilização devem render por volta de 500 cestas para famílias sem-teto de Pernambuco.

Ameaças e ônibus incendiado em Natal

O incidente mais sério registrado durante as manifestações do final de semana ocorreu em Natal, no Rio Grande do Norte. Lá, o ex-policial Wendel Fagner Cortez de Almeida, conhecido como Wendel Lagartixa, partiu para cima dos participantes, iniciando um bate-boca. Estranhamente, enquanto o grupo do MLB estava no Carrefour, um dos ônibus fretados para levar os manifestantes até o local foi incendiado, como informou o portal Saiba Mais. Após a confusão, o policial expôs informações pessoais de militantes do MLB em suas redes sociais.

O conflito com Wendel Lagartixa levou o MLB a pedir proteção através à Secretaria da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed). Não é para menos, afinal, o ex-policial foi condenado em 2019 por posse de arma ou munição restrito e terminou de cumprir a pena em junho de 2021. Candidato a deputado estadual em 2022 pelo PL, de Jair Bolsonaro, passou a maior do tempo de campanha preso por suspeita de participação em um triplo homicídio. Ele chegou a ser eleito com a maior votação do estado, mas sequer chegou a ser diplomado, pois foi considerado inelegível pela Justiça Eleitoral, pois a condenação por crime hediondo implica em oito de inelegibilidade.

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