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Formada por três mulheres, a Germini desenvolveu uma solução para diminuir o impacto ambiental do resíduo têxtil da lavagem do jeans. A startup, incubada no Parque TeC da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), transforma o “lodo” tóxico em biofortificante. Em um laboratório, o que sai das lavanderias vira cápsulas ricas em carbono que envolvem sementes e podem ser usadas para melhorar os resultados da agricultura.
Esse lodo residual da lavagem das peças contém fibras sintéticas e naturais, que podem ser do algodão ou até mesmo do poliéster. Quando sai das lavanderias, o material está bastante úmido e então segue para um processo de secagem no laboratório utilizado pela Germini, no Departamento de Química Fundamental da universidade. Depois de seco, ele passa por tratamento para retirar as impurezas e, em seguida, vai para um processo chamado síntese térmica, em que será aquecido a altas temperaturas.
A síntese térmica quebra as fibras, gerando um material extremamente rico em carbono. O produto final são nanopartículas de carbono transformadas em biofortificante. A última etapa é deixar esse material gelatinoso para que ele envolva sementes, como a de feijão, aumentando a velocidade e a taxa de germinação ao fornecer nutrientes e reter água, o que é bom para a agricultura em regiões mais áridas.
Germini usa o laboratório do Departamento de Química Fundamental da UFPE
De acordo com a CEO da startup, Jéssica Vasconselos, os experimentos já permitiram diminuir o tempo de germinação em até dois dias. Se uma semente leva, por exemplo, quatro dias para germinar, com o biofortificante ela germina em dois dias.
O processo de lavagem de um dos itens mais básicos do guarda-roupa brasileiro — necessário para tingir as peças — é bastante poluente. O despejo do lodo no esgoto ou até mesmo diretamente no rio pode causar prejuízo ao solo, à água, aos animais e às plantas.
O agreste pernambucano tem mais de 800 lavanderias, nem metade delas trata a água da lavagem do jeans. Já o descarte dos resíduos têxteis, mesmo feito legalmente, é por si só prejudicial ao meio ambiente, pois tem como destino os aterros sanitários. Santa Cruz do Capibaribe, Toritama e Caruaru são os três principais municípios dos 11 que compõem o Polo Têxtil do Estado, um dos mais importantes do país.
A Germini tem uma parceria com a lavanderia Nossa Senhora do Carmo, em Caruaru. Por ora, as empreendedoras têm capacidade para processar até 10 quilos de lodo têxtil por vez. “A ideia é conseguir expandir para mais lavanderias a gente tenha estrutura para comportar a demanda que existe”, Jéssica. “O plano é conseguir mais fomento para que a gente consiga crescer e realmente chegar ao mercado”, planeja.
A ideia da Germini surgiu em 2022 durante a cadeira multidisciplinar Projeto de Inovação, conhecida na UFPE como “Projetão”, que reúne estudantes de diversos cursos. O objetivo da disciplina era encontrar uma saída que envolvesse tecnologia para resolver um problema ligado aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Jéssica tem mais duas sócias, todas egressas da graduação: Tatiane Marques é administradora e Eneri Melo, engenheira da computação e técnica em química. Os mentores são os professores Severino Alves e João Bosco Paraíso da Silva. Elas estão finalizando uma etapa de testes em campo na universidade e, depois, vão partir para os testes diretamente com agricultores.
Além do resíduo têxtil, a Germini consegue trabalhar com resíduos de qualquer setor, desde que seja matéria orgânica. “Temos capacidade para atuar, por exemplo, com a indústria alimentícia e usinas de cana-de-açúcar”, cita Jéssica.
Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com