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Sucateado, museu Cais do Sertão espera por investimentos de R$ 5 milhões

Maria Carolina Santos / 03/10/2023
Foto do interior do museu Cais do Sertão, mostrando em primeiro plano uma parede pintada de preto, com um aviso de Temporariamente desativado em letras brancas, tendo sem segundo plano, do lado esquerdo da imagem, peças da exposição.

Crédito: Maria Carolina Santos/Marco Zero Conteúdo

Quando foi inaugurado, em 2014, o museu Cais do Sertão deslumbrava o visitante com uma experiência de imersão. Logo na entrada, um filme sobre o cotidiano do sertão era exibido em uma imensa sala em 180 graus. Era tudo muito interativo: podia se cantar em karaokê, tocar instrumentos, interagir com vídeos e sons. Não demorou muito para que o museu aparecesse nas listas de melhores da América Latina. Prestes a completar uma década de funcionamento, o Cais do Sertão parece hoje um museu abandonado. 

Na entrada, os funcionários apontam para os armários para que o próprio visitante guarde suas bolsas e mochilas em um guarda-volumes. Pessoas com deficiência podem ter dificuldade em executar essa tarefa. Depois, outro aviso: 90% dos equipamentos audiovisuais interativos estão sem funcionar.

Idealizado pela pernambucana Isa Grinspum Ferraz, que também criou o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, o Cais do Sertão foi todo pensado para ser uma experiência interativa. Mas não é só essa a falta dos equipamentos audiovisuais que denotam o abandono do museu. A manutenção precária atinge as instalações como um todo. O segundo andar todo está interditado. 

No térreo, há áreas que estão na penumbra, porque as lâmpadas dos refletores quebraram e não foram substituídas. Sem iluminação, o políptico com 20 fotos de Miguel Rio Branco e Cafi está invisível. Há vários afundamentos do piso, que podem facilitar acidentes. Na exposição “Joias da coroa”, de trajes e acessórios sertanejos, as letras que descrevem os itens, e são coladas no vidro, já descascaram e tornam parte do texto ilegível. 

Funcionários do museu afirmam que já há equipamentos que estão quebrados há anos. A situação, porém, ficou mais precária com o fechamento por conta da pandemia e a reabertura, sem que houvesse investimentos para melhorias. 

A especialista em diversidade e inclusão Jully Neves já visitou por diversas vezes o Cais do Sertão. “Toda vez que recebia alguém de fora, eu fazia questão de levar lá”, conta. Mas no feriado de 7 de Setembro veio a decepção. “Fiquei muito triste quando vi a situação do museu. Sempre foi uma referência em acessibilidade e de tecnologia, mas não é mais. Muitos aparelhos sem funcionar, o piso com afundamentos. É um museu que foca no sertanejo e no sertão não só pensando na pobreza, mas nas belezas, na importância cultural, na valorização do Nordeste. Fiquei revoltada porque já faz um tempo que passou a pandemia, em que era natural que se entrasse em manutenção, mas não há indício algum de reforma no museu”.

O Cais do Sertão é um museu estadual administrado pela Empetur, empresa de economia mista subordinada à Secretaria de Turismo e Lazer do Estado de Pernambuco (Setur). De acordo com o órgão, a Empetur e o Porto Digital elaboraram um projeto para a requalificação dos equipamentos audiovisuais do Cais do Sertão. O projeto garantiu aproximadamente R$ 5 milhões provenientes do Ministério da Cultura (MinC).

A nota informa que o projeto atualmente encontra-se em tramitação interna entre o Porto Digital e o próprio MinC – os ofícios foram emitidos no dia 15 de setembro. A liberação do recurso está prevista para acontecer ainda neste mês de outubro. Mas a estimativa é de que o museu só volte a funcionar em toda sua capacidade daqui a 15 meses, tempo necessário para as obras e consertos.

“Pontuamos que a atual gestão recebeu o Cais do Sertão com 90% dos equipamentos audiovisuais interativos sem funcionar – eles estavam sem manutenção e não foram substituídos -, e que algumas medidas já estão sendo tomadas antes de o recurso chegar. Uma equipe especializada em equipamentos audiovisuais da Empetur deslocou alguns dos que estavam inoperantes, e trabalham para que sejam resgatados. Também  substituímos mesas de som, microfones, alto-falantes e projetores”, afirma a nota. 

A Empetur também assegurou que o Cais do Sertão vai seguir com administração estadual e não será cedido em licitação para empresas ou fundações.

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AUTOR
Foto Maria Carolina Santos
Maria Carolina Santos

Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Ávida leitora de romances, gosta de escrever sobre tecnologia, política e cultura. Contato: carolsantos@gmail.com