Apoie o jornalismo independente de Pernambuco

Ajude a MZ com um PIX de qualquer valor para a MZ: chave CNPJ 28.660.021/0001-52

Terreiro de candomblé na Várzea é depredado por vizinho

Giovanna Carneiro / 03/07/2024
Na imagem, no lado esquerdo, uma mulher branca de cabelo preso em um rabo de cavalo, usando short e blusa pretas está de pé com as mãos na cintura. Um pouco mais a frente, no lado direito da imagem, um homem branco, de cabelos brancos, está usando uma calça jeans escura e uma camiseta verde. Ele segura uma marreta na mão. Os dois estão em um espaço aberto, num chão de terra batida.

Crédito: Terreiro Ile Axé Oya Igbale Funan

Nesta quarta-feira, 3 de julho, data em que é comemorado o Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial, a vereadora do Recife, Cida Pedrosa, tornou público um caso de intolerância religiosa. A violência ocorreu nesta manhã, no Terreiro Ile Axé Oya Igbale Funan, localizado no bairro da Várzea, zona oeste do Recife.

Em um vídeo publicado nas redes sociais da vereadora, é possível ver um homem – que aparenta ter entre 30 e 40 anos – utilizando uma marreta para quebrar vasos e utensílios que estavam dispostos na calçada do terreiro. Durante as gravações, o agressor permanece em silêncio enquanto uma mulher, que aparenta acompanhá-lo, assiste a tudo sem intervir.

Um filho de santo de Mãe Laine de Oyá, dona do terreiro, foi quem gravou o ato de violência. Durante as filmagens, a testemunha chega a questionar a atitude do agressor: “Tás fazendo o quê aí, cara? Tás quebrando aí é? Muito bonito. Olha aí, quebrando aqui. Quebrando as coisas aqui com marreta, quebrando as coisas do vizinho”. Ao final da gravação o casal chega a responder, mas o áudio está muito baixo e não é possível identificar as falas.

A vereadora Cida Pedrosa encaminhou um ofício para Raquel Lyra e para João Campos cobrando que o caso receba atenção do poder público, principalmente da Polícia Civil.

“A gente aguarda as autoridades se pronunciarem, mas caso não haja um retorno até amanhã nós iremos reforçar, e continuaremos em cima dessa pauta. Essa investigação precisa ser realizada porque é uma agressão gratuita, racista e infundada”, declarou a assessoria da vereadora.

Agressões começaram há seis meses

De acordo com o ogã do terreiro Ile Axé Oya Igbale Funan, Jefferson Fernandes, as ameaças ao terreiro começaram no início deste ano, quando o homem que aparece no vídeo – identificado como Tiago – se mudou para a vizinhança.

“Essa foi a primeira vez que nós conseguimos registrar, filmar, um ato dele, mas ele sempre reclamava das nossas atividades, dizendo que nossas ações podem atrair marginais. Ontem mesmo ele jogou um pneu na direção do terreiro e quase atingiu um de nossos irmãos e hoje nós fomos surpreendidos com essa violência”, declarou Jefferson Fernandes.

<+>

No candomblé, o Ogã é o sacerdote masculino escolhido pelo terreiro e pela divindade ancestral para ser responsável por diversas funções, sendo a principal delas tocar e comandar os rituais da casa.

O terreiro de candomblé Ile Axé Oya Igbale Funan funciona há oito anos na Várzea. O espaço é responsável por desenvolver diversas atividades e ações em prol da comunidade e, de acordo com o ogã, sempre teve uma boa convivência com os moradores locais.

Em mais uma ação comunitária, o terreiro tem desenvolvido uma área de lazer para crianças, com a construção de um espaço aberto de convivência, em um modelo de praça, e com uma biblioteca. Foi justamente este espaço que foi atacado e deteriorado pelo vizinho na manhã desta quarta-feira. “Nós íamos fazer a inauguração da nossa biblioteca hoje, mas precisamos adiar”, lamentou Fernandes.

Ainda de acordo com o ogã, a Ialorixá e responsável pelo terreiro, Mãe Laine, registrou o boletim de ocorrência, mas a delegacia não enquadrou o caso como racismo religioso, e sim como degradação de patrimônio.

AUTOR
Foto Giovanna Carneiro
Giovanna Carneiro

Jornalista e mestranda no Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco.