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Após as denúncias de intolerância religiosa da semana passada, o perfil Macumba Ordinária, o Terreiro de Xambá, povos de terreiro e movimentos antirracistas se reuniram, neste domingo (26), em Xambá, em Olinda, com a presença e apoio de parlamentares e da OAB-PE, para pedir paz e também solicitar a criação de uma Delegacia Especializada no Combate à Intolerância Religiosa em Pernambuco. A Rede Articulação da Caminhada de Terreiros de Pernambuco (ACTP) exibiu uma faixa com a frase “Não vamos nos calar diante do racismo religioso”.
“Nós que fazemos a Casa Xambá acreditamos que todas as religiões juntas é que podem mudar uma sociedade”, disse o babalorixá Pai Ivo de Xambá durante o ato, relembrando o trabalho social do terreiro para toda a comunidade. “Isto aqui não é uma guerra santa”, frisou.
“Isto aqui é simplesmente uma visão social para que uma sociedade viva mais justa. Acho, inclusive, que todas as religiões podem contribuir com uma sociedade melhor. Existe um provérbio africano que diz ‘Quando uma abelha lhe pica, você não deve acabar com a colmeia’. Eu acho que essa abelha que nos pica a gente deve simplesmente mostrar a ela onde tirar o néctar. Mas não acabar com a colmeia, acabar com a colmeia quer dizer acabar com as outras religiões”, complementou Pai Ivo.
Na semana do Dia do Combate à Intolerância Religiosa, celebrado em 21 de janeiro, última terça-feira, ao menos três episódios de intolerância religiosa contra povos de terreiro de candomblé foram registrados na Região Metropolitana do Recife.
Um dos casos aconteceu no domingo (19) em frente ao quase centenário Terreiro de Xambá, em Olinda. Em dia de solenidade do Toque de Obaluaiê, os frequentadores da casa foram surpreendidos por um grupo de aproximadamente 100 evangélicos da Assembleia de Deus com carro de som, microfone, faixa e instrumentos tentando realizar um culto em frente ao terreiro. Segundo os depoimentos, alguns evangélicos fizeram proselitismo religioso e proferiram palavras ofensivas contra os macumbeiros.
Fundado em 1930, único de nação Xambá na América Latina, localizado no primeiro quilombo urbano do Brasil, o Portão de Gelo, o Terreiro de Xambá é Patrimônio Vivo de Pernambuco.
Presidente da Comissão de Cidadania, Direitos Humanos e Participação Popular da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), a deputada Dani Portela (Psol) esteve em Xambá e citou que “infelizmente o que aconteceu aqui não é uma exceção, faz parte de um projeto. E esse projeto, que se veste de fé — porque fé não é isso — veio aqui cometer um crime. O que foi feito aqui é um crime, racismo religioso”.
Também presente no ato, a deputada estadual Rosa Amorim (PT) defendeu que “É muito importante dizer que o que aconteceu aqui não foi um caso isolado. Só neste mês, tem mais três denúncias de violações graves, de crimes contra a população de terreiro no estado de Pernambuco”.
Presidente da Comissão de Direito e Liberdade Religiosa da OAB-PE, o advogado Martorelli Dantas afirmou, durante o protesto, que “quando o tema é direito pelo respeito, liberdade de expressão e de fé, todas as religiões não são iguais. Porque, neste país, existe um alvo privilegiado da intolerância, da agressão, da ameaça e da violência. Esse alvo têm sido as religiões de matriz africana e de tradição indígena. É do lado desse grupo que essa Comissão deve lutar”.
A Marco Zero fez contato com a assessoria de comunicação da Igreja Assembleia de Deus em Pernambuco e ainda aguarda retorno.
Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com