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Truco para Edilson: Como será a requalificação da Conde da Boa Vista?

Sérgio Miguel Buarque / 02/09/2016

trucoPequeno“[…] A Conde da Boa Vista é uma artéria principal, que precisamos requalificar. É uma via perigosa. Essas paradas de ônibus centrais, a pista longa, toda dedicada aos veículos, mostra uma concepção de cidade que não é uma cidade para o pedestre. A gente pensa o contrário, que o centro tem que passar por um processo de pedestrianização, ou seja, tem que ser pensado para o pedestre.” – Edilson Silva (PSOL), em entrevista publicada no portal G1 no dia 1º de setembro

“Não há necessidade de tantas linhas de ônibus migrarem, todas, para uma mesma avenida. Costumo dizer que a Conde da Boa Vista é o símbolo de uma cidade sem planejamento urbano. As estações inacabadas de BRT são prova disso.” –Em encontro com integrantes do Clube de Dirigentes Logistas (CDL) no dia 25 de agosto

Nas duas declarações, o candidato do PSOL apresenta várias ideias para o centro do Recife, todas relacionadas a mobilidade e tendo como foco o pedestre. Entre as propostas, está a requalificação da avenida Conde da Boa Vista. OTruco Eleições 2016– projeto de checagem daAgência Pública, feito em parceria com aMarco Zero Conteúdono Recife–achou a proposta genérica, mesmo depois de ter consultado o programa de governo lançado pela candidatura. Por isso, pedimos o Truco, um desafio público para que o candidato forneça mais detalhes sobre sua promessa de campanha.

Enviamos perguntas para a assessoria de imprensa de Edilson Silva às 18h38 da sexta-feira, dia 2 de setembro, e recebemos a seguinte resposta na segunda-feira (5), às 14h52:

1. Como será a requalificação da Conde da Boa Vista? Ela será fechada para os veículos particulares?

A Conde da Boa Vista é uma via intensa em comércio e serviços que se transformou em corredor de passagem de muitas linhas que passam pelo centro do Recife. É porta de entrada do centro e abriga também equipamentos culturais, educacionais e de lazer, com grande atividade em ruas transversais como Hospício, União, Saudade e Sete de Setembro.

Parado no tempo, o sistema de transporte metropolitano pôs sobre a Conde da Boa Vista um número excessivo de linhas de ônibus. Segundo o diagnóstico do Plano de Mobilidade Urbana da Prefeitura do Recife na gestão João da Costa, 190 linhas de ônibus passavam pela avenida à época.

Parte de nossa proposta para o centro é substituir as linhas de ônibus que hoje trafegam pela Avenida Conde da Boa Vista por veículos de um sistema de mobilidade com tarifa zero para os bairros centrais – Boa Vista, Santo Antônio, São José, Bairro do Recife, Santo Amaro, Joana Bezerra, Ilha do Leite, Paissandu, Soledade, Derby e parte do Espinheiro.

Esse sistema de mobilidade central terá uma rede de faixas exclusivas conectada à infraestrutura prevista no Plano Diretor Cicloviário e ao Sistema de Transporte Público de Passageiros (STPP), permitindo várias formas de integração com a cidade.

No trecho de 600 metros entre a Gervásio Pires e a Rua da Aurora, onde os equipamentos são menos dependentes do acesso de automóveis, é possível tornar o acesso restrito ao sistema de mobilidade central e a veículos de abastecimento. Assim, os veículos particulares seriam proibidos a partir da Gervásio Pires, levando a um redesenho gradual das rotas do STPP que se dirigem ao Centro.

2.O candidato fala diversas vezes em “pedestrianização” do centro do Recife. O que será feito, efetivamente, em benefício dos pedestres?

Em vez das quatro ou cinco faixas que existem hoje, duas ou três serão suficientes para o tráfego de poucas linhas circulares centrais, permitindo a ampliação das calçadas e a consequente melhoria na acessibilidade, e intervenções no espaço público na avenida, com mobiliário urbano (bancos, mesas, jardins) que estimule a permanência, arborização, embutimento de fiação e melhoria da iluminação, trazendo qualidade de vida e segurança para quem vive e trabalha no centro.

É preciso diminuir o transporte motorizado no centro e criar mais ruas exclusivas para pedestres, como as ruas da Imperatriz e Nova, ou compartilhadas, com acesso restrito de automóveis de moradores, especialmente em torno de nossos equipamentos culturais, áreas comerciais e sítios históricos. Isso merece e precisa ser objeto de estudo para os bairros de São José e Boa Vista.

A ampliação de calçadas e a criação de ruas compartilhadas é necessária em várias ruelas do centro, como na Visconde de Goiana, onde, a exemplo de outras calçadas pelo Recife que foram “devoradas” pela demanda dos carros, calçadas praticamente inexistem e carros trafegam com velocidade em ruas estreitas e sinuosas.

Por isso, é necessário também implantar, em todo o centro e outros locais da cidade, medidas de moderação do tráfego de veículos, com limites de velocidade e faixas de pedestres elevadas (conhecidas em São Paulo como “lombofaixas”), como as que existem no Aeroporto do Recife, em shopping centers e em frente à própria Prefeitura.

É preciso também acabar com o estacionamento semi-gratuito que é o Zona Azul e aproveitar o espaço público em benefício das pessoas, e não dos carros. O estacionamento em vias públicas precisa ser bastante diminuído e, caso se mostre necessário, substituído pela construção de edifícios-garagem integrados ao sistema de mobilidade central.

3.Havendo uma redução no número de linhas de ônibus na Conde da Boa Vista, como ficará o acesso ao centro do Recife para quem usa transporte público?

O Centro do Recife pode ser e é acessado pela Estação Central do Metrô, conectada às linhas Sul e Oeste do Metrô e por diversas vias: Avenida Engenheiro José Estelita, Avenida Sul, Avenida Norte, Avenida João de Barros, Rua Imperial, Dantas Barreto, Avenida Cruz Cabugá, Rua dos Palmares, Avenida Mário Melo. Além das linhas convencionais de ônibus, que terão faixas exclusivas, automóvel, motocicleta ou bicicleta continuarão sendo opções para chegar ao centro da cidade. Para ir diretamente à Conde da Boa Vista, linhas circulares gratuitas estarão à disposição da população.

Além disso, queremos tornar atrativo e seguro o uso da bicicleta e estimular a intermodalidade, ampliando a oferta de paraciclos e bicicletários públicos e privados em pontos estratégicos, favorecendo tanto os trajetos diretos de bicicleta ao centro quanto o uso combinado da bicicleta com metrô e ônibus, como prevê o Plano Diretor Cicloviário da Região Metropolitana do Recife.

4.Como serão tratados os camelôs que ocupam atualmente as calçadas da avenida?

A gente considera o Comércio Informal uma das potências seculares do Recife. Mas as gestões não percebem o fervor dos nossos ambulantes como produção de vitalidade e atividade econômica nas ruas recifenses. Em vez disso, são perseguidos e reprimidos pela força policial e tratados como inimigos da cidade. Isso acontece porque o comércio informal é inimigo do modelo de cidade que se tem construído no Recife.

Essa lógica tem que ser alterada, e por isso vamos conversar com o Sintraci (Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Comércio Informal) para construir uma primeira solução de ordenamento dos ambulantes na cidade. A ampliação dos espaços de pedestres facilita a alocação e distribuição do comércio ambulante, reduzindo o conflito com a necessidade de mobilidade.

Uma das nossas propostas, posteriormente, é fazer um Concurso de Projetos para o Ordenamento do Comércio Informal no Recife, abrindo uma chamada pública para que os recifenses contribuam com essa e outras boas ideias para a melhoria da área da Conde da Boa Vista.
(Sérgio Miguel Buarque · Carol Seixas)

AUTOR
Foto Sérgio Miguel Buarque
Sérgio Miguel Buarque

Sérgio Miguel Buarque é Coordenador Executivo da Marco Zero Conteúdo. Formado em jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco, trabalhou no Diario de Pernambuco entre 1998 e 2014. Começou a carreira como repórter da editoria de Esportes onde, em 2002, passou a ser editor-assistente. Ocupou ainda os cargos de editor-executivo (2007 a 2014) e de editor de Política (2004 a 2007). Em 2011, concluiu o curso Master em Jornalismo Digital pelo Instituto Internacional de Ciências Sociais.