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Crédito: Inês Campelo/MZ Conteúdo
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O relato que ocupará os próximos parágrafos costuma gera reações que vão da tristeza à nostalgia entre as pessoas amigas que já o escutaram. É provável que, registrado por escrito, circulando pela internet entre um público mais diverso e, talvez, mais jovem, soe como fantástico, tratando de um tempo e de um país que já não existem.
No entanto, a história que dá a dimensão das expectativas não realizadas e do quanto se tornou difícil viver no Brasil desde 2008, ano em que os fatos narrados aconteceram.
Até aquele ano, várias agências internacionais e fundos europeus que financiavam projetos e entidades da sociedade civil nordestinas que trabalhavam pela redução das desigualdades e na promoção de justiça social tinham escritórios no Recife, cidade que, para algumas delas, sediava toda a operação em território nacional. Então, todas decidiram que era hora de ir embora.
Instituições cuidadosas e responsáveis, convidaram para uma série de reuniões o Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), em cujo escritório pernambucano este escriba trabalhava. Como, afinal, muitos dos projetos que apoiavam também eram financiados pela agência da ONU para as crianças e adolescentes, a ideia era fazer uma transição para que a decisão de saída do Brasil não criasse problemas para outros parceiros.
Participei de vários desses encontros com a presença dos técnicos e representantes de uma sopa de letrinhas: tinha gente da belga Volens, da norte-americana CRS (a Cáritas dos Estados Unidos), das alemães DED e GTZ, da britânica Oxfam-GB. Mas, por que essas instituições decidiram interromper o apoio financeiro aos projetos brasileiros? As explicações adicionam à história o tom surreal aos olhos de 2021.
As justificativas para a decisão repetiam frases como essas: “O Brasil está resolvido”; “o país caminha para a consolidação de um Estado do bem-estar social nos moldes europeus”; “O Brasil vive um momento de prosperidade e desenvolvimento irreversíveis”; “Os projetos tendem a se tornar política pública e serão financiados pelo próprio Estado brasileiro”; ou ainda “a classe média brasileira já tem condições financeiras de sustentar as ONGs com doações”.
Vivíamos a metade do segundo mandato do presidente Lula e tudo aquilo parecia sólido, principalmente para o olhar dos estrangeiros, que decidiram concentrar seus esforços e investimentos na África. Uma ou outra daquelas entidades manteve apoio a algumas iniciativas ambientais na Amazônia.
Ainda mantenho contatos esporádicos com algumas pessoas que participavam daquelas reuniões. Pelas redes sociais ou whatsapp, elas e eles me dizem que não conseguem entender como nem porquê as elites brasileiras foram capazes de sabotar o próprio país.
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Jornalista e escritor. É o diretor de Conteúdo da MZ.