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Comunicação produzida nos territórios enfrenta rede de desinformação sobre o coronavírus

Laércio Portela / 09/04/2020

Crédito: Coletivo Pão e Tinta

Lavar as mãos e ficar em casa. Duas medidas simples de enfrentamento à pandemia da Covid-19 têm exposto a complexidade da desigualdade no Brasil. O coronavírus é mais uma forma de morrer que chega aonde não chega a água, nem o emprego formal. Nesse contexto, enquanto as autoridades federais “batiam cabeça” e adiavam o auxílio de renda básica às famílias mais vulneráveis, a vacina contra a desinformação e a fome era produzida e disseminada por coletivos organizados a partir dos territórios periféricos das grandes cidades brasileiras.

No Grande Recife, a região metropolitana de maior vulnerabilidade social do país, a ação desses coletivos populares tem sido essencial para garantir o alimento básico na mesa das famílias mais necessitadas; pressionar o poder público a assumir suas responsabilidades; e contrapor o discurso de figuras como o presidente Jair Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia, que minimizam os impactos do vírus responsável pela morte de mais de 90 mil pessoas no mundo nas últimas semanas.

Uma característica
desses coletivos é o vínculo com o território e a atuação de
alguns anos na organização de espaços de resistência e denúncia
de violações de direitos. A produção e circulação de informação
para dentro e fora das comunidades é uma estratégia de luta que se
tornou ainda mais necessária para fazer frente ao coronavírus.

É o caso do
Coletivo Força Tururu, de Paulista. Com 11 anos de existência e uma
história de denúncia das violências praticadas pelo Estado contra
a juventude negra da comunidade, o grupo de comunicação popular tem
feito um trabalho forte nas redes sociais para convencer os moradores
da gravidade do coronavírus ao mesmo tempo em que cobra das
autoridades municipais e estaduais o fornecimento de água e a
suspensão das contas de água, luz e gás. Nessa semana, o coletivo
vai começar a circular pelas ruas com um auto falante para divulgar
os impactos da pandemia e as medidas de prevenção.

Esse esforço de transmitir informações sobre o coronavírus ficou ainda mais urgente quando os integrantes do Força Tururu foram às ruas da comunidade entrevistar os moradores. “Visitamos o posto de saúde, todos os mercadinhos e todas as farmácias da comunidade e entrevistamos as pessoas que encontramos na rua. E foi assuntador ver que a grande maioria delas não está preocupada”, conta o pedagogo André Fidelis.

O contato com coletivos periféricos do Rio de Janeiro – o Maré Vive, da Favela da Maré, e o Papo Reto, do Complexo do Alemão – acendeu o alerta para a necessidade de escutar a população e intensificar a comunicação popular no Tururu: “Eles estavam começando a fazer uma série de intervenções com o apoio da comunicação popular para arrecadar alimentos e suprimentos e estavam com bastante medo do avanço do coronavírus nas periferias. E aí, pensamos, não temos condições de ficar parados porque o cotidiano do Tururu não mudou muita coisa, tem muito estabelecimento fechado, mas também muitos outros abertos. Aí a gente começou a pensar: e se chegar no Tururu como é que vai ser isso?”, lembra André.

Comunicação integrada e em rede

Para fortalecer
ainda mais a comunicação popular em Paulista e ultrapassar os
limites do Tururu, o grupo acionou a Rede de Coletivos Populares de
Paulista. Além do Força Tururu, compõem a Rede Coppa, o Escambo
Coletivo, o Observatório de Maranguape I, o coletivo M1 e o
Coletivas.

A Rede Coppa firmou
parceria com a Caus (Cooperativa Arquitetura, Urbanismo e Sociedade)
e está elaborando um mapa de vulnerabilidade da cidade de Paulista
para identificar os pontos da cidade onde a população é mais
vulnerável ao coronavírus, analisando idade, raça, gênero,
condição social. “Obtendo informações mais precisas, vamos
saber onde precisamos atuar com mais força, direcionando nossas
campanhas de esclarecimento para atingir esse público”, explica
Luana Alves, integrante do Escambo e do Coletivas.

No dia 5 de abril, a Rede Coppa lançou um manifesto nas redes sociais apontando a falta de estrutura e serviços básicos nos bairros periféricos de Paulista para fazer frente à pandemia do coronavírus e criticando o governo “neofascista e ultraliberal” do presidente Jair Bolsonaro que toca “projetos de segurança pública que marginalizam, estigmatizam e corroem as comunidades pobres”. No documento, a Rede Coppa mexe com a autoestima da periferia: “Somos nós, a maioria da população, pobres, moradores e moradoras das periferias, que fazemos esse mundo girar, e a crise também mostrou que sem a gente as coisas não andam”.

Para Luana, a
comunicação construída nos territórios dá às comunidades o
acesso a uma informação política e crítica que faz um contraponto
às narrativas das mídias de massa. “Se tiver que criticar alguma
medida do governo ou da prefeitura a gente vai fazer, e a gente faz
isso trazendo para a realidade do território. Sempre que pensamos em
construir um texto ou alguma matéria falando pras comunidades, a
gente traz o problema e o identifica para a comunidade e temos uma
linguagem que é mais próxima e aí o morador manda mensagem no
direct e liga para tirar dúvida, liga porque a gente também é
morador do bairro, e se conhece. A gente tem esse ponto mais forte”,
explica.

A Rede Coppa existe
há três anos e surgiu do entendimento de que, para além da atuação
de cada coletivo nos seus respectivos territórios, há pautas em
âmbito municipal que atingem todas as comunidades de Paulista.
Somando forças, os coletivos fortalecem essas pautas como aconteceu
quando atuaram juridicamente contra os encaminhamentos da prefeitura
em relação à revisão do Plano Diretor Municipal.

Em Olinda, a estruturação de uma rede de coletivos é mais recente – foi criada no dia 25 do mês passado já sob a pandemia do coronavírus, embora seja fruto de um debate anterior. A Rede Orgânica Periférica de Olinda integra coletivos dos bairros do Alto do Sol Nascente, Alto da Conquista, Passarinho, Alto da Bondade, Peixinhos, Rio Doce e Salgadinho. Um dos primeiros atos do grupo foi produzir petições à Compesa e à Prefeitura de Olinda reivindicando, entre outros pontos, a retomada da distribuição da merenda escolar na cidade, o restabelecimento do fornecimento de água nas comunidades, a distribuição de cestas básicas e kit de limpeza, a montagem de um atendimento remoto às mulheres vítimas de violência doméstica e a ampla divulgação de como vai funcionar o pagamento da renda básica emergencial do governo federal.

Numa outra frente, para dentro dos territórios, os coletivos vêm fazendo a comunicação direta para os moradores sobre os riscos do coronavírus. “Estamos tentando sensibilizar a comunidade sobre a importância do tema. Não é fácil porque dentro da comunidade todo mundo trabalha no dia de hoje para viver no dia de amanhã e se não trabalha não tem recurso para se sustentar, ainda mais quem tem filho pequeno dentro de casa. Terminam indo pra rua tentar vender ou fazer alguma coisa. Esse é o nosso grande gargalo aqui”, conta Erika Cardoso, integrante do grupo Grupo S.O.L. (Sonho, Organização e Luta).

O grupo atua há dois anos na comunidade do Alto do Sol Nascente com ações educativas e esportivas para cerca de 40 crianças e adolescentes, funcionando como um espaço de cidadania para a discussão de temas como diversidade e racismo. Com a pandemia, as atividades foram suspensas, mas o coletivo continua repassando informações e mobilizando a comunidade por meio do grupo de whatsapp das mães e responsáveis pelos jovens que participam do projeto.

“Temos trocado muitas informações com elas, a gente pergunta como elas estão se virando nesse momento, mandamos informações sobre as cobranças que estamos fazendo junto à prefeitura. Socializamos também as informações sobre os dias e horários em que acontecem as entregas de cestas básicas nas escolas da comunidade, porque foi algo muito mal elaborado pela prefeitura. Boa parte das famílias não sabia o dia nem os horários das entregas. Teve gente que chegou às 8h da manhã e as cestas só foram distribuídas à tarde. O que gerou muita aglomeração. Fizemos contato com as gestoras das escolas e repassamos as informações corretas para as pessoas”, conta Eduardo Maia, também integrante do grupo S.O.L.

Nas redes sociais do
grupo, as postagens mais recentes chamam a atenção para o período
de pico do contágio em meados de abril, enfatizando a necessidade do
cuidado e do isolamento social; também trazem informações para o
preenchimento do cadastro no site da Caixa Econômica que dará
acesso aos recursos da renda básica.

O combate às fake news

A proliferação da
desinformação nas redes sociais tem sido um dos principais
problemas enfrentados por quem está na ponta, nos territórios,
fazendo comunicação direta com as comunidades. “Você tem um
presidente que diz que tá tudo bem, tudo normal, e também existe a
proliferação das igrejas… No Alto do Sol Nascente pelo menos 30%
da população é evangélica, muitos votaram em Bolsonaro e o
discurso dele tem efeito. Aí vem um sentimento de não acreditar na
gravidade do coronavírus, achar que é conversa”, analisa Erika.

“Essa é uma
questão que nos preocupa muito porque vem aquela ideia de que não
vai acontecer, de que não vai acontecer comigo, que tá acontecendo
só nos bairros nobres. Mas a gente tenta mostrar que vai chegar,
sim, na periferia. Quem é que arruma as casas nos bairros nobres? É
quem tá na favela. Então automaticamente você acaba trazendo para
a favela. Estamos fazendo esse diálogo por whatsapp, no grupo das
mães, e também no nosso facebook que tem 2 mil seguidores e estamos
tendo retorno, as pessoas estão dialogando com a gente a partir do
que colocamos ali”, explica Erika.

A onda de desinformação e fake news nas primeiras semanas de disseminação do coronavírus no Brasil foi o que mais chamou a atenção do coletivo Pão e Tinta, que atua há nove anos no Bode, zona sul do Recife, coletivo de cultura, arte e comunicação ligado ao mundo do graffiti.

Os integrantes já estavam bem informados da gravidade do tema porque têm amigos e amigas na Europa que mantinham o grupo atualizado sobre o alto grau de contagio e letalidade do vírus. Um desses depoimentos fez sucesso no instagram do Pão e Tinta. Gravado pela francesa Tatum num português fluente e na linguagem da quebrada, o vídeo apresenta a situação na França: “Tu pensa que o bagulho é pipoca? É não, bença. Fica em casa, misera, tá todo mundo amoitado aqui. Tamo aqui na França e na Itália com um bocado de gente morrendo. Quarentena é a única solução que a gente tem…”.

“Nosso primeiro nicho foi: vamos disseminar informações verídicas, que a gente tem certeza. E de uma forma lúdica. Pegamos algumas artes nossas, botamos uns dizeres em cima e soltamos nas redes sociais. Essa foi a primeira coisa, com isso a gente se ligou com a galera que começou a participar do #coronanasperiferias. Colamos também na galera digital influencer, que faz comunicação na blogueiragem e começamos a difundir conteúdo em rede…”, explica o arte educador Stilo Santos.

A partir daí o Pão e Tinta e os integrantes da Livroteca Brincante do Pina foram pras ruas com megafone fazer um cortejo literário. “Yane Mendes, a cineasta periférica, fez um lambe-lambe, a gente também fez lambe-lambe aqui, chegou fazendo cortejo com nosso material e um material que a Prefeitura estava disponibilizando…. A gente colava um informativo e uma poesia, um informativo e uma poesia na casa das pessoas… ” conta Stilo. Para ele, a linguagem é importante porque atinge e sensibiliza as pessoas pelo sentido de proximidade, “semelhança na palavra, no graffiti, no jeito de falar”.

No Bode e em outras comunidades periféricas, os boatos e mentiras sobre o coronavírus não param de circular. Primeiro, o de que só os idosos eram afetados, depois que o Governo do Estado estava divulgando um número mais alto do que o real de infectados, em seguida a história do borracheiro morto num acidente de trabalho e que constava como vítima do covid-19, seguido pela disseminação de sites falsos para o cadastramento da renda básica… Stilo diz que tem sido muito difícil enfrentar as fake news por conta dos robôs da Internet que fazem os conteúdos falsos viralizarem.

A credibilidade do
comunicador popular, de quem vive na mesma comunidade e conhece de
perto a realidade dos vizinhos faz diferença. “Na maior parte das
periferias o comunicador é referência, ele vai debater desde a
renda básica, até o que é verdade ou não sobre o posto de saúde…
O comunicador popular é parado pelas pessoas na rua, as pessoas
esperam que a gente chegue nos debates para ser uma espécie de
julgador… e dizer o que é verdade mesmo”, aponta Stilo.

Pelas ondas das rádios comunitárias

Quando o assunto é desinformação, o diretor de comunicação da Abraço – Associação Brasileira de Rádios Comunitárias, Wagner Souto, gosta de lembrar que o rádio é um veículo de comunicação de alta credibilidade na avaliação dos brasileiros. Ele vê no veículo um instrumento poderoso de contranarrativa às fake news nas comunidades. Acontece que o coronavírus afetou economicamente a produção e a disseminação de conteúdo por muitos comunicadores dessas rádios que se sustentavam com o apoio cultural do pequeno comércio. “São as vezes 50 ou 100 reais semanais que fazem a diferença”, conta Wagner.

Hoje a maior parte
das 850 rádios ligadas à Abraço, de um total de mais de 4 mil
rádios comunitárias outorgadas em todo o Brasil, estão funcionado
de forma limitada, com uma grade de programação reduzida. “Os
comunicadores estão na cara e na coragem para passar por esse
momento difícil. Os caras não podem desligar a rádio. Você não
pode deixar de fazer as transmissões ao vivo, a rádio não pode
ficar só tocando playlist, tem que ter uma programação
voltada a conscientizar a população e passar informações sobre o
coronavírus. Esse é um desafio que temos enfrentado”, afirma
Wagner.

Logo no início dos primeiros casos no Brasil, em março, a Abraço produziu e distribuiu para toda a sua rede de rádios spots alertando a população a não compartilhar notícias e informações falsas, checar a confiabilidade das fontes. Os comunicadores estão em permanente contato via grupos partilhados de whatsapp onde repassam e trocam conteúdos esclarecedores sobre o coronavírus.

“Posso garantir que 99% do pessoal que dirige as rádios comunitárias nos nossos grupos foram contrários ao primeiro pronunciamento de Bolsonaro minimizando o impacto da pandemia. Mesmo os caras entendendo que o isolamento total mantém o comércio local das periferias fechado, o que afeta os recursos das rádios, eles sabem que daqui a algum tempo essa curva de contágio vai passar e, então, economicamente os caras conseguem recuperar lá na frente, o que não dá para recuperar é a vida humana. Perdemos a conta de quantas emissoras estão retransmitindo nossas campanhas de esclarecimento e contra as fake news”.

A rádio comunitária é o principal instrumento de comunicação do grupo Caranguejo Uçá, do território pesqueiro da Ilha de Deus, no Recife. Diariamente das 9h às 13h, o comunicador social e ativista Edson Fly apresenta o programa Som e Ação que tem sido muito pautado nas ações de combate à desinformação e na disseminação de conteúdos qualificados sobre a proliferação e também a prevenção ao coronavírus. Programa voltado especialmente para os pescadores e pescadoras.

Nesta semana passada, voltou ao ar na Rádio Boca da Ilha o Programa da Ciranda de Mulheres, apresentado por Teresinha Filha, Fran Silva e Eloisa Amaral, numa parceria com a Rede Aroeiras, voltada para temas relacionados à saúde da mulher . O programa, além de trazer informações para as mulheres, se propõe a ser um espaço de acolhimento, prevenção e organização política.

No momento, pretende divulgar as plantas e produtos derivados que podem aumentar a imunidade das pessoas em tempos de pandemia.

As informações divulgadas no programa são resultado de pesquisas desenvolvidas por bioquímicas, biólogas e outras profissionais que estão gravando áudios e produzindo cards para serem disseminados nas redes sociais do Caranguejo. “O tratamento com as plantas pode ter um efeito importante na saúde. O xarope de angico é muito bom para questões respiratórias, a própria amburana de cheiro, porque as vezes essas pessoas começam com uma doença respiratória mais simples e, se cuidar logo, acredito eu, estarão mais protegidas”, relata Teresinha.

Ela fala do quão importante é fazer uma comunicação direta para as mulheres neste momento de isolamento social. “Dizer para elas sobre os cuidados com a saúde, como se organizarem e ficarem mais fortalecidas. A própria questão da violência doméstica, com a maior presença dos homens dentro de casa, precisa ser abordada nessa comunicação. São temas que queremos levar para a reflexão no programa”.

Mais uma vez as fake news são um ponto chave da comunicação popular. “Esse é um tema permanente. E aí tem os evangélicos. Recentemente vi uma pessoa dizendo que ia pra igreja, que lá era o lugar dela. Vai se construindo uma ideia de que é seguro, de que o vírus não é grande coisa… Quem faz a comunicação na comunidade tem esse desafio de mostrar a dimensão do que isso significa, o número de casos, a gravidade, como se processa a doença. Entendendo que muita gente não tem condições de renda para ficar em casa, daí a importância das campanhas de arrecadação de alimentos e produtos de limpeza e higiene”, destaca Teresinha Filha.

Ela alerta, no entanto, para o fato de que muitas famílias estão sem dinheiro para comprar os medicamentos de uso contínuo de que precisam, medicamentos caros que preservam a vida de muitos idosos e não são oferecidos na rede pública de saúde. As doações em dinheiro permitem a compra emergencial desses remédios para famílias residentes nas periferias.

Lutamos até pelos que não acreditam”

Na comunidade de Caranguejo Tabaiares, na zona Oeste do Recife, a luta pelo direito à moradia e contra a especulação imobiliária e as ameaças de desocupação por parte da Prefeitura do Recife, forjou o coletivo Caranguejo Tabaiares Resiste, que hoje promove uma comunicação comunitária centrada no combate à pandemia do coronavírus no território que agrega mais de 1,5 mil famílias. Boa parte delas de pescadores e pescadoras.

Nas redes do coletivo, o destaque são os vídeos com depoimentos de integrantes do grupo ou de moradores e os relatos em texto.

Num deles, assinado por Joelle, integrante do coletivo Caranguejo Tabaiares Resiste, o foco é para o impacto do coronavírus na vida das travestis que vivem nas comunidades. “Se a pandemia se espalhar na comunidade vai ser bastante grave, tanto para nós travestis, quanto para as mulheres cis, mas a pergunta é: quem vai cuidar de nós? Esse período não é tempo de odiar alguém pelo que é ou pelo que tem, e sim de ajudar, pois quanto maior o número de pessoas infectadas, maior o risco de chegar nas comunidades”.

Quem cuida das redes sociais do Caranguejo Tabaiares é Jessica Fernanda Oliveira. Assim como acontece nas outras comunidades do Grande Recife, o desafio é falar de isolamento social para quem precisa sair de casa e garantir a renda do dia a dia. “Lançamos a campanha Fica em Casa porque é o melhor a se fazer agora, mas sabemos o quanto é difícil para quem mora em comunidade. Aqui muita gente vive de vender água e pipoca nos sinais. Por isso estamos fazendo também uma campanha de arrecadação de cestas básicas emergenciais e contamos com parceiros como a Articulação Recife de Luta”.

A ideia de que o coronavírus é uma doença de rico e não vai chegar às periferias também está enraizada em Tabaiares. “Chegam a dizer até que a gente está agourando. Mas quando a pandemia chegar nas comunidades o número de mortos vai subir 100% porque não tem estrutura para uma doença dessa que está afetando o mundo todo, a classe média. Nos sentimos na obrigação de lutar até pelos que não acreditam. Estamos lutando porque estamos esquecidos pelo poder público. Tem muito coletivo também nas periferias nesse combate tentando abrir os olhos das pessoas e do poder público. Muita gente diz que estamos no mesmo barco, mas nós sabemos que não é assim”.

AUTOR
Foto Laércio Portela
Laércio Portela

Co-autor do livro e da série de TV Vulneráveis e dos documentários Bora Ocupar e Território Suape, foi editor de política do Diário de Pernambuco, assessor de comunicação do Ministério da Saúde e secretário-adjunto de imprensa da Presidência da República