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“Temos que votar em mulheres que nos representem”, diz Izabel Santos, do Centro das Mulheres do Cabo

Maria Carolina Santos / 12/09/2018

izabel2adalgisasaberturaDesdesegunda-feira (10), o projeto Adalgisas, da Marco Zero Conteúdo, está com uma parceria com o Centro das Mulheres do Cabo. De segunda a sexta-feira, algumas notícias do projeto estarão também no programa Rádio Mulher, transmitido pela rádio Calheta FM 98,5, das 8h às 9h. O programa também é transmitido ao vivo pela página do Facebook do Centro das Mulheres do Cabo.

Fundado em 1984, o Centro das Mulheres do Cabo é uma das instituições de referência em Pernambuco quando se fala sobre feminismo e engajamento político. Coordenadora da Escola Feminista de Formação Política do CMC, a especialista em diretos humanos Izabel Santos conversou com o projeto Adalgisas sobre as expectativas para estas eleições e o projeto Mulher e Democracia, que vigorou durante cinco anos e teve como objetivo formar líderes políticas.

O projeto Mulher e Democracia foi de 2005 até 2010. Como foi essa experiência?
Foi um projeto idealizado por Cristiana Buarque, junto a três organizações: Centro das Mulheres do Cabo (CMC), A Casa da Mulher do Nordeste (CMN) e o Movimento da Mulher Trabalhadora Rural (MMTR). A ideia era fazer um levantamento das mulheres no espaço de poder no nordeste e fomentar essa participação de forma mais qualificada. Existia uma rede em que a gente se articulava com mulheres candidatas, já eleitas e mulheres que ocupavam espaços de poder no governo, nas universidades.Trabalhamos muito com as mulheres que trabalhavam em núcleos de estudo de gênero, justamente para fomentar esse debate da mulher no poder. O projeto também elaborava conteúdo pedagógico e fazia a Escola Feminista para formar lideranças.

Olhando hoje em retrospectiva, o que ficou deste projeto?
Ficou a vontade de as mulheres continuarem ocupando seu espaço de forma mais qualificada. A rede se dispersou, porque não tínhamos mais recursos para continuar, mas as três entidades que lideravam o projeto aqui continuaram fazendo a Escola Feminista, o que é bastante positivo. Continuamos, dentro da metodologia das nossas entidades e com os recursos que conseguimos, fazendo uma política de mulheres: qualificando para que elas ocupem espaços de poder, em algum parlamento ou qualquer outro espaço que elas queiram participar, em conselhos, secretarias, escolas. O MMTR no espaços das mulheres rurais, a Casa da Mulher do Nordeste trabalha também no sertão do Pajeú e nós do Centro das Mulheres do cabo trabalhamos mais com mulheres lideranças em comunidades.

Destas mulheres que participaram do projeto original, houve alguma que se candidatou, alguma foi eleita?
Eleita, não. Mas trabalhamos com mulheres que já tinham cargos e elas se empenharam mais para levar para a pauta dos seus mandatos a questão de gênero. No MMTR muitas mulheres foram atrás de uma candidatura para vereadora. A gente percebe que as mulheres que passaram pela formação se consideram feministas e trazem para suas pautas as pautas do feminismo, a discussão de raça. A educação política muda a postura da mulher. É um trabalho lento, mas é devagar e sempre.

Nestas eleições quais são as pautas que você considera mais urgentes que as mulheres devem prestar mais atenção ao escolher um(a) candidato(a)?
Para o Brasil e Pernambuco nós temos que votar em mulheres que nos representem. A gente precisa olhar o que esse mandato está querendo propor. Com todas as perdas de direitos que tivemos do golpe para cá, muito do que a gente tinha conquistado se perdeu. Se perdeu o Ministério das Mulheres, se perdeu mulheres como ministras.E no estado a coisa também não andou muito. Temos a Secretaria Estadual da Mulher, que funciona com muito esforço, a duras penas, para trazer as pautas. Precisamos pensar em mandatos de mulheres que olhem para as políticas públicas, principalmente na questão da violência contra a mulher. E discutir uma educação não-sexista, discutir a diversidade sexual, discutir a questão das políticas públicas para as mulheres, fomentando mais recursos para os centros de referência, coordenadorias e secretarias de mulher, que tenham espaço para pensar politicas específicas. É uma gama de questões que se precisa pensar antes de escolher uma candidata.

Há uma ascensão do conservadorismo no Brasil e a ameaça que representa a candidatura de Bolsonaro para as mulheres. Você acredita que o próximo legislativo possa trazer pautas mais alinhadas ao feminismo?
Não tenho muita esperança, infelizmente. Temos trazido a importância de se votar em mulheres que estejam no campo da esquerda, mas com esse cenário do golpe para cá, com esse Congresso extremamente conservador e que quer continuar neste espaço de poder, não tenho esperança de grandes mudanças. Mas a gente precisa trazer para pauta, discutir e mostrar para as mulheres que somos a maioria do eleitorado. Se a gente quiser, a gente muda o cenário desse país. Então é arregaçar as mangas e discutir para que a gente possa ter pelo menos em Pernambuco um cenário diferenciado para as mulheres.

Como funciona hoje a Escola Feminista?
Temos um curso a cada ano. São 30 vagas para mulheres liderança – dependendo do momento, elencamos critérios para participar da vaga. É um curso de 62 horas, com sete módulos, ao longo de três meses, com uma aula de 8h por semana. Dentro desses módulos discutimos gênero, raça, feminismo, a história do Brasil pelo olhar das mulheres, ciência política e a comunicação, olhando a possibilidade das mulheres terem uma fala qualificada. Esse ano fizemos o curso em oito cidades, com um módulo por cidade.

AUTOR
Foto Maria Carolina Santos
Maria Carolina Santos

Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Ávida leitora de romances, gosta de escrever sobre tecnologia, política e cultura. Contato: carolsantos@gmail.com