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Crédito: Tatiana Fortes/Governo do Ceará
Enquanto o Governo de Pernambuco fala em “estabilidade” e “sazonalidade”, apesar do patamar elevadíssimo de casos, a fila de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) continua crescendo no estado. Nesta quarta-feira, dia 19, em média 230 pacientes com covid-19 aguardavam por um leito no Sistema Único de Saúde (SUS). O tempo de espera depende também do quadro e do perfil do doente, mas tem sido em média de cinco dias. Porém, há casos de espera de quase dez dias.
Os números foram repassados à Marco Zero Conteúdo por uma fonte da Central de Regulação de Leitos. Desde o dia 5 deste mês – portanto, há duas semanas – o portal estadual de dados, da Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag), alimentado com os repasses de dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), não atualiza as informações sobre as solicitações de leitos.
“Alguns problemas técnicos causaram a interrupção de rotinas automáticas necessárias à atualização dos números referentes à regulação de leitos. Logo que os processos forem ajustados, voltaremos a atualizar os dados. Informações diárias podem ser acessadas pelo boletim divulgado pela SES, no link: pecontraocoronavirus.pe.gov.br”, diz o recado no site da Seplag.
A reportagem procurou a Secretaria de Saúde para saber o que está acontecendo e a previsão de retorno das atualizações, assim como os dados sobre a fila, mas não obteve nenhum retorno até o fechamento desta matéria.
O recorde de pacientes em fila de UTI, desde o início da pandemia, aconteceu em 11 de maio do ano passado, com 275 doentes aguardando uma vaga.
A abertura de mais vagas de UTI, junto com a mobilização de insumos, equipamentos e recursos humanos, não está sendo suficiente. Desde o início do ano, o governo inaugurou 757 leitos. Eram 923, com uma taxa de ocupação de 83%, no dia 1º de janeiro. Nesta terça-feira (18), a soma contabilizava 1.680 leitos, com uma taxa de ocupação de 97%.
O percentual de ocupação das UTIs públicas está acima de 90% desde o final de fevereiro, a despeito da gestão Paulo Câmara (PSB) enaltecer que “Pernambuco possui hoje o sexto maior quantitativo de leitos de UTI para covid-19 entre os Estados brasileiros”.
O Conselho Estadual de Saúde (CES) e profissionais da linha de frente, que estão exaustos, reivindicam mais restrições para tentar barrar a circulação do vírus. Mas por ora, o governo ampliou as restrições somente no Agreste, com regras que entraram em vigor na terça-feira, 18 de maio.
Nesta quarta, dia 19, Pernambuco bateu um novo recorde de casos de covid-19: foram 3.440 em apenas 24 horas. Entre os confirmados, 187 (5,5%) são casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) e 3.253 (95,5%) são casos leves. Também foram confirmados mais 79 óbitos. Assim, Pernambuco ultrapassou a marca de 15 mil vidas perdidas para a covid-19: são exatos 15.127 óbitos.
“Nós tivemos um aumento grande no volume de pedidos de leitos de UTI por volta de março. O governo foi criando muitos leitos, a fila ficava estável. Há duas ou três semanas, tivemos uma leve diminuição, que não durou nem uma semana. Desde então, só vêm subindo os números”, comentou a fonte que atua na Central de Regulação, que também falou da carga de estresse de quem atua nos encaminhamentos e no atendimento direto aos doentes.
O tempo de espera na fila é um processo bastante dinâmico e que utiliza uma escala de pontos (Escore Unificado para Priorização / EUP-UTI) para definir quem tem prioridade a partir do quadro e do perfil do paciente. Em geral, um paciente jovem e sem comorbidades consegue uma vaga mais rápido que uma pessoa idosa, acamada e com comorbidades, por exemplo.
“Tem pacientes que conseguem o leito de UTI no mesmo dia, tem pacientes que demoram vários dias. Num caso recente que atendi, o paciente esperou seis dias por leito de UTI”, relata uma médica que atua em Unidade de Pronto Atendimento (UPA). “Como é porta de aberta (a UPA, assim como outras emergências), está chegando sempre pacientes. Tem horas que você está sempre recebendo, não tem como dar o suporte e, claro, quanto mais tempo ele passa na emergência, piora o quadro, porque ele poderia estar tendo um suporte melhor numa UTI”, acrescenta.
“Aumentou bastante o número de vagas de UTI, mas não aumentou o tamanho das emergências de porta de entrada. Continuo com uma quantidade de leitos bem parecida com a de antes da pandemia. Então manejar essa quantidade de pacientes é difícil. Houve plantão em que eu não tinha mais ventilador para colocar em paciente que tinha indicação de ser intubado”, descreve.
A mesma profissional da linha de frente também comenta sobre a alta demanda para as equipes de remoção, igualmente sobrecarregadas: “Hoje já existe uma melhor assistência nas emergências, pois os profissionais estão melhor treinados. Há fisioterapeutas (por exemplo). Nem todas possuem, falo mais das emergências do Recife, o interior e outras cidades próximas ainda estão muito defasadas. Mas nunca vai se comparar à assistência de um leito de UTI, pois, na emergência, a princípio, a gente não tem um número restrito de pacientes. Pacientes graves chegam a todo momento”, detalha outra médica que trabalha em UPA e também pediu para não ser identificada.
Sobre o momento desta “segunda onda”, a médica confirma: “é o pior momento”. “Como nas emergências não há uma estrutura de UTI, muitos pacientes acabam tendo o quadro agravado pela espera desse leito”, explica. “Infelizmente, os plantões da emergência estão um caos. Está bem difícil mesmo”, lamenta.
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Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com