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Presença da extrema-direita exigirá mais esforço de Raquel Lyra para manter equilíbrio

Inácio França / 31/10/2022
Raquel Lyra, à direita da imagem, cercada por câmeras e microfones, dá entrevista.

Crédito: instagram/@raquellyraoficial

Questionado sobre a manutenção do discurso de neutralidade adotado por Raquel Lyra, o ex-governador e ex-prefeito de Caruaru João Lyra Neto, pai da governadora eleita, desconversou. Pouco antes, ele havia admitido em diálogo com jornalistas que a eleição de Lula foi “melhor para o Brasil”. Outro ex-governador, Gustavo Krause, pai da vice-governadora eleita, falou claramente que não revelaria em quem votou para presidente do Brasil.

A recusa de dois políticos tão experientes em responder a uma pergunta tão óbvia sinaliza o frágil equilíbrio que o futuro governo Raquel Lyra terá de encontrar para trabalhar em um ambiente de razoável estabilidade política. È certo que ela poderá contar com forças da centro-direita pragmática que, em troca secretarias com orçamentos bem abastecidos, poderão lhe assegurar governabilidade e interlocução na Assembleia Legislativa.

]Nesse conjunto mais ao centro, mas com um pé na direita, estão os veteranos Eduardo da Fonte (PP), Daniel Coelho (Cidadania), Bruno Araújo (PSDB), os irmãos Fernando Filho e Miguel Coelho (UB), além do novato Jarbas Vasconcelos Filho (MDB), recém-eleito deputado estadual. Todos marcaram presença para acompanhar, no hotel em Boa Viagem, a primeira fala de Raquel Lyra como governadora eleita.

Mesmo esses, deram sinais do que pretendem da futura governadora. Miguel Coelho, um dos primeiros a chegar, foi logo declarando que “Raquel vai saber fazer um governo olhando para o interior”. Por “interior”, entenda-se a área de influência dos Bezerra Coelho no sertão do estado. Bruno Araújo, presidente nacional do PSDB, também enviou seu recado: “o PSDB foi o grande vencedor do segundo turno”. Ele se referia à vitória de Eduardo Leite no Rio Grande do Sul, esquecendo de mencionar a fragmentação do partido.

Bolsonaristas exigentes

Junto desses nomes, há no arco de alianças outras forças políticas que vão exigir mais do talento de equilibrista da futura governadora. É o caso do deputado estadual e ex-policial Joel da Harpa (PP), que também esteve no hotel, ou dos casais evangélicos Tércio e Collins, além do coronel Alberto Feitosa. Nesse grupo é possível incluir também o deputado federal eleito Mendonça Filho (UB), cada vez mais próximo da agenda dita “conservadora”.

É a grande a possibilidade desses bolsonaristas tentarem esticar a corda para a extrema-direita na tentativa de obrigar Raquel Lyra a tomar posição a respeito de pautas de costumes no campo da educação, saúde, proteção a mulheres vítimas de violência e a pessoas LGBTQIA+. Não por acaso, esse último temas sequer apareciam na plataforma de governo da tucana.

As pautas ambientais devem sofrer ataques tanto por parte da extrema-direita quanto dos políticos de “centro”, afinal muitos deles já se posicionaram favoráveis a projetos que prevêem desmatamento de áreas como a mata da APA Aldeia-Beberibe ou de manguezais de Suape.

Provavelmente por isso, João Lyra escapou para não declarar seu voto. A confirmação do voto em Lula teria gerado irritação desses grupos que se engajaram intensamente na campanha da filha, pedindo votos nos púlpitos das igrejas ou nos quartéis.

Se ele e a filha disserem que votaram em Bolsonaro o desgaste seria duplo: dificultaria o diálogo com setores do futuro governo Lula e iria contrariar o grande contingente do eleitorado Lulista que digitou 45 acreditando no discurso de neutralidade. Isso criaria ainda mais dificuldades para políticos de esquerda que declararam apoio a Raquel, como foi o caso da prefeita petista de Serra Talhada, Márcia Conrado, e do deputado Túlio Gadelha (Rede)

Este último, por exemplo, ao argumentar que apoiou Raquel para criar uma frente ampla em favo de Pernambuco, dá sinais de que tentará viabilizar sua candidatura a prefeito do Recife com apoio da governadora. Para isso, terá a difícil missão de tapar as rachaduras que sua decisão criou na federação partidária PSOL/Rede. Caso a governadora eleita confesse o voto no presidente derrotado, sua tarefa seria quase impossível.

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AUTOR
Foto Inácio França
Inácio França

Jornalista e escritor. É o diretor de Conteúdo da MZ.