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Foto colorida da Vila Esperança feita em um dia de céu azul com poucas nuvens. Na imagem vê-se um prédio alto e moderno ao fundo, e uma construção demolida na frente. O contraste entre essas duas estruturas é evidente.

Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo.

Uma semana depois, Prefeitura do Recife segue demolindo a Vila Esperança

Prefeitura levou para um depósito as mercadorias do ponto comercial da idosa que teve a casa destruída sem aviso.

Giovanna Carneiro / 14/03/2024

Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo.

Não bastasse ter sido despejada no dia 7 de março, a moradora de Vila Esperança, Maria Célia Almeida, teve seus pertences retirados de seu ponto comercial e levados a um depósito de forma forçada na última segunda-feira (11).Tudo teria acontecido sem qualquer aviso prévio por parte da Autarquia de Urbanização do Recife (URB), segundo a moradora.

Após ter sua casa demolida, a idosa voltou para a cidade de Santa Maria do Cambucá, no agreste de Pernambuco, onde vivem parentes seus. No entanto, Maria Célia havia deixado muitos de seus pertences no ponto comercial do qual é proprietária, e que também seria demolido pela Prefeitura do Recife para dar passagem às obras do acesso à ponte Jaime Gusmão, no bairro de Monteiro.

“Eu consegui um caminhão lá em Santa Maria para pegar as coisas que estavam no ponto comercial e levar para o interior, mas quando eu estava a caminho da Vila Esperança para pegar as coisas, minha vizinha me ligou dizendo que estavam colocando minhas coisas em um caminhão. E eu implorei para que eles esperassem eu chegar, mas não esperaram, só retiraram tudo e levaram”, contou a idosa.

De acordo com a moradora, seus pertences foram levados até um depósito da PCR localizado no bairro de Santo Amaro. “Eu perguntei como eles conseguiram entrar no ponto se só eu tinha a chave. Ou seja, arrombaram, tiraram tudo e demoliram sem a minha presença. Eu queria ter tirado as portas, as madeiras, as telhas, tudo isso que eu poderia reaproveitar foi destruído”, concluiu Maria Célia.

“Arrombaram, tiraram tudo e demoliram sem a minha presença. Tudo o que eu poderia reaproveitar foi destruído”

Em nota enviada à reportagem da Marco Zero, a Autarquia de Urbanização do Recife (URB) afirmou que a idosa recebeu a indenização de seus imóveis – a casa e o ponto comercial – em março de 2023 e que, por isso, já deveria ter realizado a desocupação. No entanto, a moradora entrou com um processo judicial para questionar o valor das indenizações e, por isso, garantiu ainda não ter recebido nada. O processo corre em juízo.

O mesmo acontece com a moradora Adelaide Lopes, que, em março de 2023, recebeu da Prefeitura do Recife um valor abaixo daquele que foi estimado por um avaliador particular, contratado por ela e por sua irmã, Gilvanilda Lopes, e por isso resolveu acionar a Justiça. Apesar da URB afirmar que realizou o pagamento a Adelaide, com o processo em juízo, a moradora afirma não ter tido acesso ao montante.

Adelaide e Gilvanilda possuem casas conjugadas. Enquanto Adelaide aguarda a conclusão de seu processo, Gilvanilda entrou em acordo com a URB e já recebeu a sua indenização, por isso, a PCR pretende realizar a demolição do imóvel o quanto antes. No entanto, demolir a casa de Gilvanilda resultará no comprometimento da casa de sua irmã. Além disso, Gilvanilda, que recebeu sua indenização em dezembro do ano passado, ainda não conseguiu concluir a compra do novo imóvel para onde pretende se mudar.

“Eu estou tentando agilizar para sair logo, mas estou esperando resolver as coisas da documentação no cartório. Enquanto isso, eu vou ficar na casa da vizinha, fazer o quê? Já comecei a levar minhas coisas para colocar na garagem dela porque sei que, da próxima vez que eles (agentes da prefeitura) vierem, será pra derrubar a minha casa. Mas me preocupa muito a situação da minha irmã”, disse Gilvanilda Lopes. A PCR estabeleceu como prazo final para que a casa fosse desocupada a próxima segunda-feira, 18 de março.

Já Maria Célia Almeida tentará negociar para que a Prefeitura do Recife garanta o transporte de seus pertences até a cidade de Santa Maria do Cambucá. “É o mínimo que podem fazer, ‘né’? Porque no dia que eu vim buscar as coisas eles colocaram tudo em um depósito sem a minha autorização”, disse a idosa.

Foto colorida, feita em uma dia de céu claro, de casas geminadas danificadas, com portas e janelas arrancadas, com pessoas trabalhando para remover os escombros. O contraste entre o estado dilapidado das casasem primeiro plano e um prédio moderno ao fundo é evidente.

Prefeitura deu prazo até 18 de março para moradora que já recebeu indenização desocupar casa.

Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

O que diz a URB

De acordo com a URB, “a todos os moradores de Vila Esperança, foi ofertada uma Unidade Habitacional no complexo que será construído no local”. Todavia, parte dos moradores da Vila Esperança questionam o tamanho dos imóveis do habitacional, tendo em vista que as casas que estão sendo desapropriadas e demolidas eram ocupadas muitas vezes por mais de quatro pessoas de uma mesma família.

Ainda de acordo com a Prefeitura do Recife, o habitacional contará com apartamentos 40m², em média. E, segundo informações da plataforma de negócios imobiliários Quinto Andar, geralmente apartamentos nessas dimensões possuem apenas um quarto e são destinados para duas pessoas.

A Autarquia de Urbanização do Recife declarou ainda que “cada imóvel é avaliado individualmente e recebe um valor que varia de acordo com questões como existência de documentação legal, área construída e benfeitorias realizadas pelos moradores”. Porém, os moradores de Vila Esperança questionam o método de avaliação uma vez que estão em uma área de Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) e por isso muitos não possuem as escrituras de posse dos imóveis, documento que deveria ter sido fornecido pela próprio poder público municipal.

AUTOR
Foto Giovanna Carneiro
Giovanna Carneiro

Jornalista e mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco.