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A volta das que não foram: máscaras devem ser usadas em ambientes fechados novamente

Maria Carolina Santos / 16/11/2022
Sob uma tenda branca, durante o dia, pessoas com máscaras cirúrgicas recebem informações de uma funcionária da prefeitura, que está sentada também de máscara

Crédito: Andréa Rego Barros/PCR

Com a nova alta de casos de covid-19 no Brasil, os especialistas são unânimes em recomendar a volta do uso de máscaras. Ao contrário de outros tempos, o Governo de Pernambuco não estabeleceu a obrigatoriedade das máscaras. Mas a Secretaria de Saúde recomendou o uso, o que não tem força de lei. Já sabemos mais sobre o SARS-Cov-2 do que no auge da pandemia: como se trata de um vírus que se transmite principalmente pelo ar e, aliada à vacinação em dia, a máscara é a mais eficiente forma de se evitar a infecção pelo coronavírus.

Especialistas ouvidos pela Marco Zero defendem um uso inteligente das máscaras e que ele seja incorporado aos hábitos de higiene da população, como uma forma de convivência com a covid-19.

A médica epidemiologista e pesquisadora Denise Garrett, do Instituto Sabin, diz que é preciso saber avaliar os riscos. “Em ambientes fechados, com várias pessoas circulando, é necessário usar máscara. Se é um ambiente aberto, ou muito ventilado, com pé direito alto, com poucas pessoas circulando, se pode até dispensar o uso da máscara”, explica.

Garrett lembra que covid-19 não é uma gripe ou resfriado. “É um vírus novo. E é um vírus que nós ainda estamos descobrindo sobre ele. Por exemplo, agora está sendo pesquisada uma associação do coronavírus com a progressão de Alzheimer. Alguns dos efeitos dele poderão só ser vistos daqui a dez, 20, 30 anos”, alerta.

E cada nova infecção pode trazer novos riscos, como a covid longa, também chamada de síndrome pós-covid. “As pessoas estão lidando com a covid-19 de uma maneira muito casual. Eu vejo pessoas até às vezes se gabando, que já teve covid-19 várias vezes. É importante ressaltar que é como uma roleta russa. Você pode dar cinco disparos e não ter nenhuma bala. Mas as chances de que tenha uma bala aumentam a cada disparo. Com a covid é assim: a cada nova infecção vai aumentando as chances de ter covid longa ou uma sequela mais grave”, explica. 

Em momentos como este, de alta dos casos, é hora de se prevenir o máximo que der. “Tem que prevenir? Tem. Mas temos também que retomar a nossa vida, né? Por isso que é importante a vacinação em dia. E o uso de máscaras em ambientes fechados. Não sei qual o dano de se usar uma máscara, sabe? Não entendo essa oposição à máscara, que é uma forma super efetiva de se evitar a infecção pelo coronavírus”, disse.

Pensar a longo prazo

O infectologista Bruno Ishigami lembra que a pandemia já vai fazer três anos e que é preciso pensar a médio e longo prazo. “Não adianta a gente acreditar que o coronavírus vai embora, porque infelizmente não funciona dessa forma. A gente precisa fazer campanhas de educação para a população para mostrar que em ambientes fechados, em ambientes com pouca circulação de ar e em aglomerações há mais risco de se infectar”, diz.

Ele acredita que não é o momento do governo voltar a obrigar o uso de máscara. “Não sei se já chegamos a esse ponto. Até porque ficamos meio perdidos com esse Ministério da Saúde que não tem uma política efetiva de testagem. Mas acho que é válido o governo voltar a recomendar o uso de máscara em locais fechados, em locais com grande circulação de pessoas, como shoppings, supermercados, transporte coletivo. Porque isso é garantir mais proteção”, avalia.

Campanha do Governo de São Paulo para incentivar o uso de máscaras durante a pandemia. Crédito: Governo SP

Para Ishigami, o ideal seria o uso de máscaras cirúrgicas. “Elas têm uma filtração melhor. Ou máscaras PFF2, que são melhores ainda. Mas quem não tiver ou puder, pode usar de tecido mesmo. O que precisamos é introduzir na população medidas de educação básica em relação à pandemia. Está com sintomas? faz teste, se isola. Vai para uma aglomeração e tem contato com idosos, pessoas com comorbidades? vai de máscara. Precisamos trabalhar forte na educação em saúde porque, ao que tudo indica, o coronavírus vai nos acompanhar por alguns anos. Precisamos nos preparar não para uma medida de curto prazo, como ‘use máscara hoje’, mas de educação da população”, afirma.

O pesquisador Jones Albuquerque, do Instituto de Redução de Riscos e Desastres (IRRD), não deixou em momento algum da pandemia de usar máscara em locais de risco. Nos últimos meses tem andado com um medidor de qualidade do ar. Quando há muita gente e pouca ou nenhuma ventilação, ele opta pelas máscaras PFF2, que garantem maior segurança. Em ambientes ao ar livre, e com pouca circulação de pessoas, não há necessidade de máscaras.

Para Jones, foi a ventilação dos ambientes que foi mais escanteada na prevenção da pandemia. “Parece que aprendemos muito pouco com a pandemia. É preciso que o ar circule, seja renovado. Manter portas e janelas abertas é uma forma muito mais eficaz para se combater o coronavírus do que ficar trancado no ar-condicionado, compartilhando o mesmo ar, sem trocas”, diz.

Apesar de ainda estar muito longe dos picos anteriores de casos, já é possível dizer que o Brasil se move para uma mais um pico de covid-19. Na última atualização do Ministério da Saúde, feita no dia 11 de novembro, a semana 45 do ano acumulava mais de 57 mil casos no país. Quase o dobro da semana anterior, que registrou 26 mil casos.

Onde e quando testar no Recife

A testagem e o isolamento continuam, claro, sendo indispensáveis para o controle da pandemia. De acordo com Bruno Ishigami, quem tem sintomas gripais deve se isolar, e testar a partir do terceiro dia de sintomas. Quem teve contato com caso confirmado, pode testar a partir do quinto dia do último contato. O isolamento recomendado pelo Ministério da Saúde é de sete dias, desde que não apresente sintomas respiratórios e febre, há pelo menos 24 horas e sem o uso de antitérmicos.

No Recife, há três postos estaduais de testagem: Terminal Integrado de Passageiros (TIP), no bairro da Várzea – que funciona de domingo a domingo, por demanda espontânea, das 8h às 18h; antiga Fundação de Saúde Amaury de Medeiros (Fusam), na Praça Oswaldo Cruz, no bairro da Boa Vista – por demanda espontânea, de domingo a domingo, das 8h às 17h; e Secretaria de Educação do Estado, no bairro da Várzea – de segunda a sexta, das 8h às 17h, por demanda espontânea ou marcação pelo Atende em Casa.

Há também UPAs e centros de saúde das prefeituras que oferecem testagem. No Recife, o morador deve baixar o aplicativo Conecta Recife e agendar o teste no dia anterior. Idosos, crianças com até 5 anos e gestantes não precisam fazer o agendamento. Atualmente, são cinco postos funcionando de segunda a sexta e três postos de domingo a domingo.

Com a colaboração do jornalista Yuri Euzébio, participante do programa InfoVacina Trainee, da Agência Bori

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AUTOR
Foto Maria Carolina Santos
Maria Carolina Santos

Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Contato: carolsantos@marcozero.org