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Em 2022, as agressões a jornalistas, empresas de comunicação e imprensa em geral cresceram 23% se comparado a 2021. O dado integra o relatório de monitoramento de ataques a jornalistas no Brasil, divulgado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) na última quarta-feira, 29 de março. Ao todo, foram registrados 557 ataques a jornalistas, destes, 145 casos apresentaram traços explícitos de violência de gênero e/ou vitimaram mulheres jornalistas. A violência física, acompanhada de intimidações, hostilização e ameaças, também cresceu em 2022 e representou 31,2% dos casos totais – um crescimento de 102,3% em relação ao ano anterior.
O relatório foi desenvolvido pela Abraji em parceria com a rede Voces del Sur (VdS). O levantamento de ataques contra a imprensa é realizado sistematicamente desde 2019. A série histórica registrada pela Abraji se inicia com 130 casos em 2019, seguida por 367 casos em 2020, 453 em 2021 e, finalmente, em 2022, alcança 557 alertas de violações à liberdade de imprensa. Ou seja, de 2019 até 2022, houve um aumento total de 328% nos casos de ataque contra jornalistas.
Dados do levantamento de 2022 mostraram um aumento significativo da violência política praticada contra profissionais da imprensa em razão das eleições federais. Em 56,7% dos casos registrados um ou mais agressores eram agentes estatais, como parlamentares, governantes e funcionários públicos. Durante o período de campanha, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi o político que mais atacou a imprensa. Bolsonaro e seus três filhos detentores de mandato foram responsáveis por 41,6% dos ataques registrados em 2022.
“Seguem com força os discursos estigmatizantes protagonizados pelo agora ex-presidente e seus principais apoiadores com mandatos públicos ou figuras públicas influentes que usaram nos últimos anos seus palanques, em especial nas redes sociais, para propagar uma narrativa de descredibilização e perseguição contra a imprensa”, afirma o documento da Abraji ao enfatizar que mesmo após as eleições os registros de ataques seguem ocorrendo.
Com os discursos estigmatizantes sendo a forma de agressão mais comum, a internet se apresenta como um ambiente hostil para os profissionais da comunicação uma vez que 63,4% dos ataques registrados pela Abraji tiveram origem ou repercussão em ambientes online, principalmente nas redes sociais.
Os principais alvos de ataques foram repórteres e analistas de portais ou sites de notícias, com 276 casos registrados, 49,4% do total. Meios de comunicação e imprensa – tratada de forma ampla e genérica, como “a mídia” ou “a imprensa” – também estiveram na mira dos agressores: foram identificados 265 (47,7%) episódios deste tipo.
Em 2022 dois jornalistas foram assassinados e tiveram suas mortes ligadas ao exercício da profissão.
Givanildo Oliveira, de 46 anos, foi assassinado a tiros em sua casa, na cidade de Pirambu, Ceará, em fevereiro de 2022. Oliveira era um dos fundadores do site Pirambu News e havia recebido ameaças para não publicar notícias sobre criminosos da região. O assassinato aconteceu horas depois da publicação de uma reportgam sobre a prisão de um suspeito de homicídio.
O outro assassinato registrado pelo levantamento foi o do britânico Dom Phillips, que ganhou repercurssão mundial. O jornalista foi morto em junho de 2022 na região do Vale do Javari, na Amazônia ocidental, durante uma expedição ao lado do indigenista Bruno Pereira, também assassinado. Três pescadores e caçadores ilegais, moradores de região, confessaram o crime e estão presos, aguardando julgamento pela Justiça do Amazonas.
“O dado é mais uma prova de que o ano foi extremamente violento para profissionais da imprensa brasileira”, reforçou o relatório da Abraji.
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Jornalista e mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco.