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Crédito: Marlon Diego/Anepe
A Articulação Negra de Pernambuco (Anepe), organização que reúne mais de 20 coletivos do estado, lançou uma plataforma política de apoio a candidaturas que concorrem a cargos na Assembleia Legislativa e no Congresso Nacional nas eleições 2022.A Articulação realizou um evento para apresentar a plataforma e as candidaturas negras apoiadas pelo coletivo. Além disso, foi entregue uma carta compromisso com diretrizes e propostas antirracistas a serem adotadas nos mandatos.
A iniciativa integra as ações da plataforma Quilombo nos Parlamentos, realizada pela Coalizão Negra por Direitos, que reúne indicações de candidaturas negras e antirracistas de todo o Brasil a fim de reivindicar uma maior ocupação do movimento negro na política institucional.
“A Articulação Negra de Pernambuco tem compromisso e está sempre se colocando como ponto de partida nas lutas de enfrentamento ao racismo aqui no nosso estado, por isso, nós entendemos a importância de colocar em evidência o nome das pessoas que estamos apoiando nas eleições. Para nós não é suficiente ter apenas uma pessoa negra na política, é necessário que seja uma pessoa negra do movimento negro, que tenha compromisso com a agenda de luta”, explicou Myrella Santana, integrante da Anepe e da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco.
A Articulação Negra de Pernambuco tem sido responsável por realizar atos de mobilização com o objetivo de promover uma mudança política e social para a população negra em Pernambuco. A entidade se notabilizou por atuar em casos de violações de direitos humanos, como a morte do menino Miguel, além de organizar ações de apoio à população que vive em situação de extrema vulnerabilidade, como a campanha “Tem Gente Com Fome”, que distribuiu milhares de cestas básicas no período crítico da pandemia da covid-19 no Brasil.
Este ano, é a primeira vez que a organização resolveu criar uma plataforma própria em apoio direto a candidaturas negras em Pernambuco, uma iniciativa que fortalece a incidência de políticas antirracistas no âmbito institucional e a organização coletiva do movimento negro.
Para Luiza Carolina, integrante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e candidata a deputada federal pelo PSOL, o aumento de candidaturas negras em 2022 tem uma explicação. “Eu acredito que esse crescimento no número de candidaturas e a mudança no formato da comunidade negra em fazer uma política coletiva e organizada é um estímulo pra gente pensar o enfrentamento radical ao desgoverno de Bolsonaro, porque esse governo expressa todos os antagonismos do projeto político que a gente representa”, afirmou a candidata.
Luiza é uma das candidatas apoiadas pela Anepe e integra um grupo formado por nove candidaturas: três que concorrem ao cargo de deputada federal, e seis que concorrem ao cargo de deputada ou deputado estadual. As candidaturas contempladas pela plataforma antirracista são: Débora Aguiar (Rede); Robeyoncé Lima, Luiza Carolina, Ailce Moreira, Dani Portela , Juntas Codeputadas e Elaine Cristina (estas do PSOL); Suzineide Rodrigues e Vinicius Castello (ambos do PT).
A plataforma da Anepe evidencia o protagonismo das mulheres negras no contexto político atual, e a pluralidade das identidades dessas candidaturas também é algo marcante. Em termos de gênero, sexualidade, religião e experiência política, cada candidatura apresenta uma particularidade que as difere, porém, se encontram em um único ponto de partida: a raça.
Tratar a raça como ponto de partida é justamente o que norteia os compromissos apresentados pela Articulação Negra às candidaturas, como defende Myrella Santana: “nós elencamos alguns eixos que para nós são centrais e que estamos debatendo ao longo dos últimos anos, como saúde, educação, cultura, enfrentamento ao racismo religioso, direito à cidade, geração de emprego e renda, e tudo a partir de uma perspectiva racial, porque a gente acredita que raça não é recorte, é ponto de partida”.
“Por exemplo, quando falamos de direito à cidade nós precisamos olhar para as periferias, e pensar como é para o jovem negro de periferia se locomover dentro da cidade do Recife, principalmente se for uma jovem mulher”, concluiu a ativista.
Único homem a receber apoio pela Anepe, o vereador de Olinda e candidato a deputado estadual pelo PT, Vinicius Castello, afirmou que é fundamental que o movimento negro esteja atuando de maneira mais estratégica na política e declarou que: “a gente precisa ainda fazer um verdadeiro quilombo nos espaços para que, de fato, a gente tenha uma política antirracista que respeite a dignidade humana, que consiga entender toda a pluralidade existente no nosso povo [negro] e que consiga, principalmente, tornar evidente as lideranças negras que acabam enfrentando, de maneira institucional e estrutural, violências que a maioria dos corpos que ocupam a política ainda não enfrentam”.
Durante o seu mandato na Câmara de Vereadores de Olinda, Castello tem trabalhado na elaboração de projetos de lei pautados no antirracismo, entre eles o PL 149/2021, que tem o objetivo de proibir homenagens a escravocratas e acontecimentos históricos ligados a escravidão e também a exaltação do golpe militar de 1964. Além dos projetos de lei que instituíram o Dia da Favela e o Dia do Menino Miguel.
“Eu acho que há muito a ser feito, principalmente na escuta ativa que precisa existir nas periferias pernambucanas, das pessoas que realmente vivenciam a situação de completo abandono do poder público. […] Eu acho que atuar de maneira antirracista no estado de Pernambuco é também permitir que pessoas que vivenciam as violações voltadas as questões raciais possam estar a frente desse processo político”, comentou o candidato pelo PT sobre a atual conjuntura política no estado.
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Jornalista e mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco.