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UPAs Caxangá, Olinda e Paulista (foto) decretaram “plantão restrito”. Crédito: SES/PE
A Marco Zero Conteúdo mostrou, na semana passada, a necessidade de ampliação de leitos de Covid-19 em Pernambuco. De lá para cá, o movimento aumentou bastante nas Unidades de Prontoatendimento (UPAs), chegando a estrangular algumas delas, com dificuldade de remoção de pacientes. Enquanto as filas se acumulam também nos centros de testagem e os resultados demoram para sair, os pronunciamentos do governo e o tom das falas em coletiva de imprensa seguem os mesmos: o estado está em patamar de estabilidade e controle e não há, por ora, previsão de qualquer anúncio de fechamentos ou novos protocolos de convivência.
Porta de entrada para os casos graves no sistema público de saúde, as UPAs têm sentido a pressão do aumento de casos de Covid-19. Após a desmobilização dos hospitais de campanha, a taxa de retenção dos pacientes com coronavírus aumentou significativamente nos últimos dias a ponto de três unidades fecharem suas emergências devido à falta de capacidade para manter os infectados junto com outros enfermos.
Na quarta-feira (11), as UPAs Caxangá, Olinda e Paulista, na Região Metropolitana do Recife (RMR), decretaram “plantão restrito”. No jargão da saúde, significa que as unidades não receberiam, naquele plantão, mais nenhum paciente. O alerta foi sinalizado pelas gestões às equipes no meio da tarde, quando as três UPAs totalizavam 76 pessoas aguardando transferência.
Os casos mais graves, um senhor de 91 anos, vítima de Acidente Vascular Cerebral (AVC), e uma mulher de 38 com fratura no braço esperavam desde o dia 5 de novembro por leitos de hospital.
“Não tem condições de manter [o atendimento] da UPA com a taxa de ocupação de 300%, ainda mais neste período de distanciamento. Não temos equipe nem estrutura física para isso. Tenho nem mais corredor para colocar paciente”, afirmou uma médica da UPA Olinda, em reserva à reportagem.
Em 24 horas, o número de pacientes em atendimento nas 13 UPAs da RMR mais as duas do interior – Caruaru e Petrolina – passou de 147 para 160 somando infectados com o Sars-CoV-2 e vítimas de outras doenças. “Tranferência sempre foi um problema, mas o cenário agora está muito pior. Para se ter uma ideia, entre abril e maio, conseguimos alocar todos os pacientes com distanciamento, esta semana não está sendo possível fazer isso, o atendimento está maior e tudo junto”, relatou um profissional da SES.
Ciente do cenário caótico, a gestão Paulo Câmara reservou duas ambulâncias apenas para a remoção de pacientes com Covid-19. Segundo informações repassadas sob sigilo à Marco Zero, a estratégia, contudo, não está funcionando. “Não adianta porque, quando autorizamos a transferência do paciente para um hospital, não há leito na unidade, aí eles retêm a maca e nós ficamos sem poder acionar a ambulância para outras pessoas”, explicou a médica.
Na outra ponta, nos hospitais, o quadro também é preocupante. De acordo com boletim interno da SES, emergências estão trabalhando acima de 200% da capacidade. É o caso do Miguel Arraes, em Paulista, e do Mestre Vitalino, em Caruaru, e bem acima dos 300%, como no Pelópidas Silveira, na Zona Oeste do Recife, e no Dom Helder Câmara, no Cabo de Santo Agostinho.
Segundo a secretaria, os aumentos recentes nos índices da pandemia são flutuações ainda não sustentadas e os atuais indicadores colocam Pernambuco ainda longe de um cenário que evidencie segunda onda.
O secretário André Longo afirmou, nesta quinta-feira (12), em coletiva, que, para configurar uma segunda onda, é necessário um aumento sustentado de 60% nos casos em relação ao patamar do vale de baixa. O estado atingiu o pico da pandemia em maio e, a partir de setembro, entrou num platô sem expressivas oscilações para cima ou para baixo, de acordo com a análise epidemiológica da SES.
Por conta da demanda, Longo anunciou a abertura de mais 107 leitos, sendo 60 de UTI e 47 de enfermaria, para o atendimento aos pacientes com Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) em hospitais de referência para Covid-19 no estado.
A SES-PE registrou, nesta sexta (13), 830 novos casos, sendo 28 (3%) de Srag e 802 (97%) leves. Agora Pernambuco totaliza 169.710 casos confirmados da doença, sendo 27.491 graves e 142.219 leves. Já o número de pacientes recuperados em Pernambuco chegou a 151.016 (88,9% daqueles que adoeceram pelo novo coronavírus).
Também foram confirmados mais 11 óbitos, registrados entre os dias 29 de abril e 11 de novembro. Com isso, o estado totaliza 8.805 mortes pela Covid-19.
A média móvel de óbitos em decorrência da Covid-19 está em tendência de alta. Nesta quinta (12), o dado registrou um aumento de 47%, com uma média de 15 mortes. A média móvel de novos casos também segue essa tendência, com 636 confirmações a cada dia, um crescimento de 12%. Esses percentuais são a variação da média dos sete últimos dias em relação à média de duas semanas atrás.
Durante a coletiva desta quinta (12), a análise que o secretário Longo teve como parâmetro comparações entre as semanas epidemiológicas. Na semana epidemiológica 45, o estado registrou uma queda de 9,6% nos óbitos por Srag em 15 dias, apontando uma flutuação com estabilidade entre as semanas 45 e 44, com quatro casos de diferença de uma semana para outra. Na comparação com a primeira semana de outubro, houve uma queda de 5,75%.
Em relação aos casos graves suspeitos, foi registrada uma oscilação de 5% na comparação com a semana 44, o que corresponde a 33 casos a mais, e de 3,9% em relação à semana 43, quando foram registrados 26 casos. Na comparação com a semana 41, o estado registrou queda de 6%.
“Desta forma, é fato que nos últimos 15 dias tivemos flutuações, dentro de patamares de controle. E isto teve impacto na solicitação de leitos para casos de Srag na Central Estadual de Regulação de Leitos, com um aumento de 1,6% da semana 45 para a semana 44 e de 12% na semana 44 em comparação com a semana 43”, afirmou Longo.
Sobre o anúncio de novo leitos, Longo comentou que “Com a abertura dessas novas vagas a taxa de ocupação irá para patamares menores. Vale lembrar que, ao longo dos últimos meses, com a redução da demanda e para evitar a ociosidade, mais de 1,5 mil leitos foram bloqueados. Desta forma, com índices baixos e menor disponibilidade de leitos, devido à desmobilização, qualquer flutuação nos dados, causa mudanças significativas nas taxas de ocupação. No entanto, nosso plano de contingência prevê o desbloqueio e reconversão de leitos, caso fosse alcançado o percentual de 80%”.
O estado ultrapassou o patamar de 80% de ocupação nas UTIs na semana passada, chegando a 82%. Nesta quinta (12), fechou em 74%.
Na semana passada, a Marco Zero Conteúdo perguntou à SES detalhes de um possível plano de remobilização de leitos, caso a taxa volte ao patamar de 80% e se torne sustentável.
A reportagem questionou qual a capacidade, em números absolutos, de reabertura de leitos para Covid-19 na UTI e também na enfermaria e em quanto tempo isso consegue ser feito, qual a capacidade de recontratação de profissionais de saúde e como o estado irá readquirir materiais e equipamentos hospitalares. Não obtivemos retorno. Também perguntamos sobre a situação nas UPAs, mas igualmente não tivemos respostas do governo de Pernambuco.
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