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Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Por Eduarda Nunes
Acontece nesta sexta-feira (16) o Encontro de Candidatas Feministas e Antirracistas de Pernambuco. O evento será no Sindicato dos Bancários, no bairro da Boa Vista, a partir das 18h30, e a entrada é gratuita. Essa é uma realização da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, Meu Voto Será Feminista, SOS Corpo, Eu Voto em Negra, Fórum de Mulheres de Pernambuco e da Marco Zero Conteúdo, com apoio da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político. Organizações e projetos que atuam pela inclusão das mulheres na política e na qualificação do debate público sobre o feminismo e o antirracismo.
A programação do evento se divide em dois blocos em que cerca de 20 candidatas vão se apresentar e integrar suas propostas às de outras candidatas, como se estivessem atuando enquanto uma bancada parlamentar. Juliana Romão, co-fundadora do projeto Meu Voto Será Feminista, conta que a metodologia da programação foi inspirada numa declaração da recém eleita primeira vice-presidenta negra da Colômbia Francia Márquez. “A ideia é propor que as candidatas se atrevam a se sentirem eleitas e a nos representar”.
A noite também contará com intervenções poéticas e musicais de mulheres que fazem parte das instituições organizadoras do evento. O encontro vai ser exibido na íntegra no canal do Youtube da Marco Zero Conteúdo.
As eleições de 2022 chegaram com as organizações da sociedade civil mais fortalecidas no combate ao conservadorismo e ao fascismo resultado de alguns anos de reação organizada dos movimentos de mulheres com campanhas de incentivo ao voto em mulheres comprometidas com as agendas feminista, antirracista, anticapacitista, antilgbtfóbica e outras opressões. O projeto Meu Voto Será Feminista, criado em 2018, e a campanha Eu Voto Em Negra, coordenada pela Rede de Mulheres Negras de Pernambuco (RMN-PE) e a Casa da Mulher do Nordeste (CMN), são exemplos desse avanço.
Piedade Marques é coordenadora de relações institucionais da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e conta que essa é a terceira eleição em que a organização incide politicamente no período de campanha eleitoral para realizar ações no sentido de estimular e fortalecer candidaturas negras e feministas e barrar o fascismo no Brasil. A RMN-PE foi criada a partir da construção política realizada no estado para a participação na Marcha das Mulheres Negras, em Brasília, em 2015.
“Em 2018 nós construímos uma plataforma e apresentamos as candidatas que estávamos apoiando num evento junto com o Fórum de Mulheres de Pernambuco. Em 2020, para as eleições municipais, nós repetimos a ação, sendo que dessa vez foi o início do processo da campanha”, conta. A Eu Voto Em Negra faz parte de um conjunto de ações e formações contínuas com as participantes desde 2019.
Juliana Romão complementa que entre 2018 e 2022 houve um salto qualitativo significativo no debate: “Antes as iniciativas eram ‘por mais mulheres’ e hoje temos mais iniciativas que dizem que ‘nós queremos uma agenda programática para além do gênero. Queremos mulheres comprometidas com uma agenda de real transformação.”
Em 2022, a Rede em articulação com o Meu Voto Será Feminista, e em consonância com o SOS Corpo e o Forúm de Mulheres de Pernambuco, entidades que atuam há décadas na promoção de debates e ações feministas no estado, entenderam juntas que unir esforços em uma incidência única e de maior mobilização traria ganhos mais significativo às candidatas do que manter os eventos de cada uma das organizações.
Natália Cordeiro é cientista política e integra o SOS Corpo Insituto Feminista para a Democraria e conta que as mulheres sempre estiveram ativas na história, inclusive denunciando o caráter misógino e machista do Golpe de 2016. Lembrando atos como o Fora Cunha e o Ele Não, reivindicados e protagonizados pelas mulheres, ela afirma que “ foi um acúmulo da correlação de forças que evidenciaram a real força das mulheres enquanto sujeitos políticos”.
Alguns eventos provocaram o surgimento das iniciativas de incidência no voto: as marchas protagonizadas pelas mulheres negras, mulheres indígenas e do campo que aconteceram em Brasília em 2015 e 2019, o golpe parlamentar de 2016, o assassinato da vereadora Marielle Franco no Rio de Janeiro em 2018, e pesquisas que se debruçaram em entender o que estava por trás da baixa representatividade das mulheres na política.
Alinhado a isso, as perdas significativas dos avanços sociais conquistados nos anos anteriores por conta das ofensivas conservadoras também contaram bastante nessa formação de novas forças para o contra-ataque do campo progressista. “Com esses governos (Temer e Bolsonaro) as mulheres tiveram um impacto profundo. Pelo corte nas políticas sociais, pela ênfase na perspectiva da mulher dona de casa ou que é apenas mãe, e toda a perseguição ao próprio feminismo, ao direito, à escolha, então tudo isso tem um impacto e sobretudo nessa crise econômica. São as mulheres que estão na frente (liderando a resistência) e sobretudo as mulheres negras”, afirma Graciete Santos que faz parte da Casa da Mulher do Nordeste, organização que integra o Fórum de Mulheres de Pernambuco.
Graciete salienta ainda a importância das organizações feministas no sentido de comunicar e questionar informações falsas que eram e ainda são divulgadas sobre as pautas feministas cotidianamente. Nesse sentido, Natália reforça o quanto que a comunicação independente é essencial para fazer esse enfrentamento. Para o SOS Corpo, a democratização da comunicação é essencial para que as mulheres, a população negra, pobre e “ditas minorias sociais” sejam vocalizadas e que “a comunicação independente é um dos pilares da democracia”, conta.
Natália também conta que a aproximação com a Marco Zero Conteúdo e outros veículos que atuam nesse sentido compreende que a atuação deles é fundamental e que é um espaço onde os interesses dos movimentos feministas e outros que também fazem parte do campo progressista são tratados com a importância e o respeito devidos.
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