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Candidatas feministas e antirracistas estão unidas para mudar a “fotografia do poder”

Marco Zero Conteúdo / 17/09/2022

Luiza Carolina (PSOL), Carol Vergolino (PSOL), Ailza Trajano (PC do B), Débora Pretas Juntas (Rede), Janielly Azevedo (PSOL), Eugência Lima (PSOL), Robeyoncé Lima (PSOL), Rapha Carvalho (PSOL), Laís Araújo (PSOL) e Michelle Ferreira (PSOL) ocuparam o palco para expor suas propostas de ação e articulação política enquanto bancada no Congresso Nacional. Crédito: D. Guaraná/SOS Corpo

Por Eduarda Nunes

A noite da última sexta-feira (16) inaugurou um momento inédito na corrida eleitoral de Pernambuco. Candidatas da Região Metropolitana e do Agreste do estado se reuniram para conversar sobre como, juntas e eleitas, dariam seguimento à agenda dos movimentos sociais a partir das mandatas na Assembleia Legislativa, no Congresso Nacional e na vice-governança de Pernambuco. Em um encontro de pouco mais de 2 horas, o compromisso das candidaturas em expandir a atuação dos movimentos negro e feminista foi reforçado.

O Encontro de Candidatas Feministas e Antirracistas de Pernambuco foi uma realização da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, SOS Corpo Instituto Feminista Para Democracia, Fórum de Mulheres de Pernambuco, Meu Voto Será Feminista, Eu Voto Em Negra e Marco Zero Conteúdocom apoio da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político.

Dividido em dois blocos, o encontro teve a presença de 19 candidatas e outras duas enviaram vídeos com depoimentos. Você pode acessar o evento na íntegra no canal do Youtube da Marco Zero (partes 01 e 02). 

Elaine Pretas Juntas (PSOL), Salvelina (PSOL), Andreia Deloize (PSOL), Dani Portela (PSOL), Raline Almeida (PCB), Kaká Bezerra (Rede), Erika Suruagy (PT), e Suzy Rodrigues (PT) sobre uma nova forma de fazer política a partir da ocupação dos espaços de poder em Pernambuco. Crédito: D. Guaraná/SOS Corpo

“É a maior bancada de candidatas feministas e antirracistas que Pernambuco já teve”, celebrou Graciete Santos da Casa da Mulher do Nordeste, organização que atua na promoção da igualdade de gênero na região há 42 anos e uma das que constroem o Fórum de Mulheres de Pernambuco, uma das anfitriãs da noite.

Em apresentação das organizações realizadoras, a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco lançou sua plataforma política dividida em 12 áreas prioritárias para as mulheres negras pernambucanas e o que elas querem. “Esse documento foi criado em um processo coletivo desenvolvido por várias mentes e mãos que constróem a Rede”, explicou Manu Nascimento.

Piedade Marques é uma das coordenadoras do projeto Eu Voto Em Negra, que promove formações e acompanhamento de candidatas negras de toda a região Nordeste desde 2019. Em sua fala, a ativista afirmou que a noite foi pensada para que não faltassem argumentos para a conquista de votos a partir dali. E ainda garantiu que “nós não vamos parar enquanto não tivermos um time enorme e um parlamento enegrecido.”

Organizadoras do evento, Juliana Romão (Meu Voto Será Feminista), Natália Cordeiro (SOS Corpo), Rita Guaraná (Fórum de Mulheres de Pernambuco), Piedade Marques (Eu Voto em Negra), Graciete Santos (Fórum de Mulheres de Pernambuco), Manu Nascimento (Rede de Mulheres Negras) e Rosa Marques (Rede de Mulheres Negras) deram as boas-vindas às candidatas no auditório do Sindicato dos Bancários. Crédito: D. Guaraná/SOS Corpo

O Fórum de Mulheres de Pernambuco, através de Rita Guaraná, usou o momento para reforçar seu posicionamento político para as eleições de 2022. Natália Cordeiro, integrante do SOS Corpo, reforçou o quanto aquele era um momento ímpar no cenário de disputa eleitoral de Pernambuco. Ela afirmou que “estamos vivendo um momento histórico e se a gente está vivendo isso é pela gente que tá organizada e articulada fazendo a luta pelo direito das mulheres, antirracista e pelo caminho da esquerda”.

“Essa é uma noite em que a gente revitaliza a democracia”, afirmou Juliana Romão, co-fundadora do Meu Voto Será Feminista. Projeto que mantém acesa e cotidiana a discussão sobre a participação das mulheres no cenário político do país. A pesquisadora de gênero, política e linguagem reafirmou que, para o momento em que vivemos, ser uma mulher candidata não é o suficiente, mas sim estar comprometida com as pautas que o movimento negro e feminista pontuam dia após dia. Ela também apresentou o Mosaico Feminista, que tem mais de 190 candidaturas inscritas de todo o país que se comprometeram com a carta-compromisso da Meu Voto Será Feminista.

A poeta e escritora Joaninha Dias foi uma das várias artistas que se apresentaram ao longo do encontro com posicionamentos firmes contra o racismo e a intolerância. Crédito: D. Guaraná/SOS Corpo

A líder comunitária e artista Ediclea Santos fechou o evento com um canto exaltando a autoafirmação negra em tom de celebração que contagiou organizadoras, candidatas e o público. Crédito: D. Guaraná/SOS Corpo

A noite também contou com as intervenções artísticas de Ana Benedita, Edcléia Santos, Joaninha Dias e Flora Rodrigues. Du Calisto e Deise Souza foram os intérpretes de libras que promoveram acessibilidade no debate.

Tecnologia de aquilombamento

Todo o evento aconteceu em clima de empolgação, confiança, encontros e reencontros. Além de retirar o atual presidente, e é importante salientar que os movimentos feminista e negro foram fortemente atuantes na oposição a Bolsonaro antes e durante o mandato, é preciso também derrotar a estrutura e a ideologia que o elegeu. Para isso, um Congresso Nacional alinhado com as agendas desses movimentos é essencial.

A organização do encontro trouxe três perguntas norteadoras para que as candidatas pudessem responder através de fala única e se entendendo enquanto bancada feminista nos espaços a que estão disputando. Elas queriam compreender como, em um cenário com todas eleitas, as candidatas atuariam de forma integrada e complementar no fortalecimento da agenda feminista antirracista na política institucional; como ficaria o relacionamento das mandatas com os movimentos sociais e as iniciativas da sociedade civil; e como planejam contribuir para aumentar a presença de feministas antirracistas na política.

No geral, as candidatas afirmaram que a intenção é seguir juntas. Atuar na Câmara dos Deputados ou na Assembléia Legislativa de Pernambuco como atuam no dia a dia do ativismo feminista e antirracista, como comentou Janielly Azevedo, candidata a deputada federal pelo PSOL, ao iniciar as falas. Ailce Moreira, candidata a deputada estadual pelo mesmo partido, defendeu que essa é uma campanha eleitoral embasada na tecnologia de aquilombamento. “Não estamos disputando entre nós, estamos disputando poder numa sociedade que oprime mulheres e pessoas pretas e é por isso que, quando nós chegarmos lá, nós pretendemos fazer um mandato que aquilomba outras candidaturas em prol dos direitos humanos”, afirmou em vídeo enviado ao evento.

Para Luiza Carolina (PSOL), as candidatas feministas e antirracistas de hoje vão abrir portas para que outras mulheres entrem na política a cada eleição, disputem e ocupem lugares de poder. Crédito: D. Guaraná/SOS Corpo

Candidata a deputada federal pelo PSOL, Luiza Carolina falou sobre cada uma delas se transformarem em pontes para que mais mulheres estejam na posição de candidatas, mas também na posição de ativistas, integrando as organizações que realizaram o evento e fazem o enfrentamento há décadas no estado. Um posicionamento compartilhado por Suzi Rodrigues, candidata a deputada estadual pelo PT. Débora Pretas Juntas, candidata a deputada federal pela Rede, afirmou que é preciso reconstruir o país a partir de uma perspectiva das mulheres que estão nos movimentos de base.

“É sobre ocupar parlamento, mas, principalmente, mudar a fotografia desses lugares. Quando a gente olha a fotografia do parlamento, ela é formada por homens brancos e de famílias privilegiadas”, argumentou Dani Portela, candidata a deputada estadual pelo PSOL. Minutos antes, Carol Vergolino havia comentado como as Juntas, primeira mandata coletiva do estado da qual ela é co-deputada estadual, incidiram sobre o código eleitoral através do projeto ousado que defendiam. Hoje, a produtora cultural é candidata a deputada federal pelo mesmo partido.

Candidata ao Senado, Eugenia Lima (PSOL) disse que o evento era um espaço de fortalecimento das candidaturas na reta final de campanha. Além disso, a mandata tem a intenção de intervir nas políticas públicas, mas também interferir nas políticas econômicas que são as responsáveis pelo empobrecimentoe precarização da vida das pessoas mais pobres e que afetam mais profundamente as mulheres. Para isso, é essencial tentar montar no Senado uma Frente Feminista Antirracista e “esse Senado não tem como acontecer se não for popular”, afirmou.

“A velha política encaixota a gente”

Candidata a deputada federal pelo PSOL e pretendendo ser a primeira travesti a legislar na Câmara dos Deputados, em Brasília, Robeyoncé Lima disse que não permitirá que ela nem outras mulheres trans e travestis sejam limitadas a atuar somente nas pautas LGBTs.

“Não é porque eu sou uma mulher trans que eu não posso falar sobre aborto, não é porque eu sou uma mulher trans que eu não posso falar sobre direitos sexuais e reprodutivos. Não é porque eu faço escova no cabelo que não posso falar sobre racismo e genocídio da população negra”, afirmou a advogada. O objetivo da candidata é estar no Congresso Nacional construindo com o presidente Lula um novo projeto de política que coloca como prioridade a questão feminista, de enfrentamento ao racismo e em apoio à população LGBTQIA+.

Candidata a deputada estadual pelo PSOL, Andreia Deloizi defende uma maior presença de mulheres de terreiro disputando mandatos eletivos para falarem por si, sem a intermediação de outros corpos políticos. Crédito: D. Guaraná/SOS Corpo

Andreia Deloizi é sacerdotiza de candomblé e líder comunitária há 38 anos. No evento, ela contou que sente falta de mais mães de santo disputando cargos políticos. Ela entende que o povo de Axé “tem que falar por si só”. “Eu, como uma mulher preta e povo de terreiro, não quero que ninguém fale pelo meu corpo”. Deloizi é candidata a deputada estadual através de uma mandata coletiva chamada Diversas, que concorre ao pleito de 2022 pelo PSOL.

Violência de gênero e descaso

A fala de algumas das candidatas traziam testemunhos próprios ou de mulheres próximas que sofreram algum tipo de violência de gênero e como suas lutas particulares e coletivas se dão a partir de uma reação a essa experiência.

Dentre as 22 candidatas que participaram do encontro, quatro representavam as vivência no Agreste do estado. Eram elas Ailza Trajano e Michelle Santos, candidatas a deputadas federais pelo PC do B e PSOL, respectivamente, e Kaka Bezerra e Andreia Deloizi, candidatas a deputadas estaduais pelo PSOL.

As falas das candidatas narravam uma realidade de maior dificuldade de atuação do movimento feminista. Indicando que ainda é preciso que o movimento avance para alcançar e acolher as mulheres dessa região e das mais interioranas também. As candidatas demonstraram que nessas regiões o patriarcalismo tem ainda mais força do que na REgião Metropolitana do Recife.

Candidata a vice-governadora de Pernambuco pelo PCB, Raline Almeida criticou a gestão do PSB à frente de uma "esvaziada" Secretaria da Mulher que, segundo ela, sequer tem orçamento próprio e não atende às demandas de políticas públicas das mulheres trabalhadoras. Crédito: D. Guaraná/SOS Corpo

Raline Almeida, candidata a vice-governadora do estado pelo Partido Comunista do Brasil (PCB), ressaltou que faz parte da única chapa ao governo que é integralmente formada por pessoas negras, periféricas e da classe trabalhadora. Ela pautou a ineficiência da Secretaria da Mulher nos 16 anos de gestão do PSB no estado: “O partido fez, da Secretaria da Mulher, uma secretaria que não atende as necessidades das mulheres trabalhadoras porque não executa política pública. É uma secretaria que nunca teve uma funcionária concursada. Que não tem um fundo próprio, Isso significa dizer que, pra ter as políticas públicas, as mulheres têm que ficar relegadas ao que sobra no orçamento”.

Ainda nesse sentido, Raline afirmou que a gestão não pensa na Lei Maria da Penha com foco e prioridade no acolhimento, mas sim no encarceramento. Sendo 11 delegacias da mulher e quatro casas de acolhimento. “A maior parte das situações de violência que acontecem com as mulheres negras em Pernambuco, acontecem no interior e, mesmo assim, não temos uma rede de acolhimento interiorizada”, relatou.

Acompanhe e saiba mais sobre as candidatas que estiveram presentes ou enviaram vídeos ao Encontro de Candidatas Feministas e Antirracistas de Pernambuco

Vice-governadora

Raline Almeida (PCB) (@ralinealmeida21)

Senadora

Eugenia Lima (PSOL) (@eugeniapsol)

Tereza Leitão (PT) (@teresaleitaope)

Deputada Federal

Janielly Azevedo (PSOL) (@janiellyazevedopsol)

Robeyoncé Lima (PSOL) (@robeyoncelima)

Rapha Carvalho (PSOL) (@raphacarvalhopsol)

Luiza Carolina (PSOL) (@luizacarolinapsol)

Débora Pretas Juntas (Rede) (@1850maeantiproibicionista)

Ailza Trajano (PC do B) (@ailzatrajano)

Michelle Santos (PSOL) (@michellesantospsol)

Carol Vergolino (PSOL) (@carolvergolino)

Laís Araújo (PSOL) (@laisaraujopsol)

Deputada Estadual

Dani Portela (PSOL) (@daniportelapsol)

Kaka Bezerra (Rede) (@kaka.bezerra)

Salvelina (PSOL) (@euquerosal_)

Elaine Pretas Juntas (PSOL) (@elacristiina)

Andreia Deloizi (PSOL) (@andreiadeloizi)

Erika Suruagy (PT) (@erikasuruagy)

Suzi Rodrigues (PT) (@suzirodrigues.pe)

Ailce Moreira (PSOL) (@ailce_moreira)

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