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Você publicou um post no facebook dizendo que as perseguições na Fundaj começaram há cerca de oito meses.
Há oito meses mais ou menos entra uma equipe nova na Fundação. A Ivete Lacerda assume a diretoria de Planejamento no lugar de Ives Goradesky. Entra uma pessoa chamada Lúcia Gominho na área de Recursos Humanos no lugar de uma pessoa da Casa. Junto com a Gominho já tinham entrado um diretor do RH, o coordenador geral, aí depois entrou uma pessoa para trabalhar com essa área de estágio. O RH foi todo colocado na mão dessa equipe nova e assim foi em todos os cantos da Fundação. Eles foram se apropriando de tudo: o cinema, a escola de governo, a Difor (Diretoria de Formação e Desenvolvimento Profissional, a Meca (Diretoria de Educação, Cultura e Arte), da qual o Museu faz parte, também foi mudada. Era Antônio Montenegro, que era diretor e também foi exonerado para entrar uma pessoa de fora. A menina que trabalhava à frente da Massangana Multimídia também foi exonerada. Até hoje não se colocou ninguém no lugar. Pelo contrário, as pessoas estão entregando os cargos dentro da Massangana e ela está praticamente acéfala. E você vai vendo o desmonte e a colocação de pessoas completamente fora do contexto.
São todas pessoas de fora da instituição?
São todas pessoas que vieram de fora, sem trajetória na Fundaj , e ocuparam cargos que pertenciam a servidores da Fundação?
Os que chegaram não são servidores de jeito nenhum. Eles ocuparam os cargos dos servidores. O diretor da Meca era servidor, a menina da Massangana não era servidora, mas já estava há 20 anos na Fundação. Então, era da Casa. O pessoal de Recursos Humanos era da Casa. Toda a equipe de RH era formada por pessoas da Casa. A Difor era de pessoas da Casa.
Essas mudanças têm interferido nas pesquisas e nas ações dos pesquisadores?
Tem interferido, sim. O que a gente vê é que a gente tem um planejamento, o PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional), que foi elaborado há uns dois anos e que, portanto, ele está em implantação e a gente percebe que muita coisa a que o PDI se propunha não está acontecendo, está em stand by, e outros projetos que estão vindo só agora é que estão sendo colocados para moer.
Toda uma discussão que foi feita está sendo colocada de lado?
O planejamento estratégico da Casa até 2019, que é quando a Fundação faz 70 anos, um planejamento de longo prazo que tem várias ondas, como a gente chama, está enterrado. Inclusive porque os próprios servidores já não se sentem mais motivados. Eles estão anestesiados, meio que parados, porque eles tentam e não dá, tentam e não dá. Os projetos não rodam. Fica lá em cima da mesa. Estão engavetados. Eu mesma estou com dois projetos que estão lá esquecidos. Três. Você pergunta: cadê os projetos? E nada. Não roda. Sabe-se que isso está acontecendo para se colocar outros projetos na frente, projetos que a gente não tinha definido como prioritários para a instituição.
Me dá exemplos de projetos que pararam sem apoio…
Tem vários. Eu mesmo tenho um projeto com o Museu da Pessoa (São Paulo), um trabalho que a gente ia fazer no Engenho Massangana, de ouvida da população, de dar voz àquelas pessoas, para ver qual foi o impacto que houve a partir de Suape. Com depoimentos orais e filme. Importante para fazer com que aquelas pessoas tenham fala e sejam ouvidas. Esse projeto tá lá parado.
Tem mais exemplo?
O Museu do Homem do Nordeste funciona dentro de um espaço físico que foi feito para ser museu. Tem térreo e primeiro andar. O primeiro andar, desde 2008, quando o térreo foi entregue nessa última reforma, que está para ser reformado também. Abortou a primeira vez e agora está com licitação para o espaço ser reformulado e a gente montar de novo a exposição do Museu . O projeto tá pronto, o projeto foi pago, todo o projeto, o projeto arquitetônico, de automação. Todo pago. De segurança, de iluminação. Todo o projeto. Esperando apenas que os Bombeiros dêem o ok. O que acontece? Veio a cinemateca. O ministro quer fazer a cinemateca pernambucana que vai para a universidade, dizem que vai para a universidade federal, mas enquanto isso o primeiro andar do museu todinho foi tomado para ser a cinemateca, que vai ser inaugurada agora dia 12. Então essa foi uma briga que eu tive, eu não queria ceder esse espaço porque você sabe que na medida que você bota o pé ali dentro dificilmente você sai. E é um espaço do Museu. Eu tenho 13 mil peças em reserva técnica. Um acervo todo em reserva técnica. Que precisa ser mostrado.
Reserva técnica significa que são peças que estão guardadas?
Está tudo guardado. Lógico. Lógico. São peças que precisam ir pra fora, precisam ser vistas. O que adianta ter 13 mil peças em salas fechadas? Pra que agora venha a cinemateca e assuma o espaço do Museu que tem esse projeto que tá lá feito e todo pago e não vai acontecer?
Que tipo de peças?
Mobiliário de época, louças brasonadas, cristais, pratarias, equipamentos de trabalho informal como amolador de faca e carrinho de café, arte plumário, vestuário, muitas peças de arte popular. Se não me engano, oito salas no prédio da administração estão cheias de reserva técnica. Uma coleção imensa de luminárias, de santos populares. Para você ter uma ideia, a nossa exposição de longa duração não chega a mil peças. É uma loucura você imaginar que tem um espaço pronto para colocar esse acervo para que ele seja visto e admirado e conhecido e preservado. Porque em reserva técnica nem sempre ele está bem acondicionado. E todo este patrimônio está guardado fora da vista das pessoas. Fora as peças que temos em comodato expostas no Museu do Mamulengo e no Cais do Sertão, que é uma forma de visibilizar essas peças ao público.
O projeto de que você falou foi montado para a exposição das peças.
Para reformar o espaço para receber essas peças e a gente montar a exposição. E foi abortado. Isso foi um embate que eu tive e eu sei que isso fragilizou a minha permanência na coordenação, não é? Por defender esse espaço do Museu.
Mas você continua lá na coordenação geral.
Eu continuo na coordenação geral (do Museu do Homem do Nordeste) até eu ser exonerada. Eu já fui comunicada que vou ser exonerada.
Já foi comunicada?
Já. Já fui comunicada.
Quando aconteceu isso?
Quarta-feira passada.
Essa comunicação da sua exoneração tem a ver com esse fato recente do copo?
Não, do copo não. Tanto que eu estou falando com você agora e nem estou reportando minha exoneração. Minha exoneração é uma coisa normal. Se você é um cargo de confiança e você não veste a camisa daquele time de forma total, você é trocado. Isso eu entendo perfeitamente. O que eu não entendo é o fato que aconteceu com Edna (Maria da Silva, coordenadora de Ações Educativas do Museu). Por isso que eu fiz aquela nota. Veja que naquela nota eu nem falo na minha exoneração.
Sim. Sim.
Minha exoneração é um fato tranquilo. Não tem problema nenhum, entendeu? É uma coisa que mais cedo ou mais tarde ia acontecer. O que eu achei horrível foi o fato como Edna foi exonerada porque ela está sendo exonerada com a pecha de manifestante, de liderar uma manifestação dentro de uma coordenação com jovens, com estudantes. Isso é muito grave.
E isso não aconteceu?
Claro que não. Pense, amanhã, essa moça vai ser conhecida dentro da instituição como uma pessoa que liderou uma manifestação por conta de um copo. Esse copo, gente, na verdade o copo nem era do Eu Acho é Pouco. Eu achava que era. Mas não. Era um copo vermelho desses de festa, que a gente manda imprimir, de formatura. Que tinha uma máscara preta e que tinha realmente a inscrição Fora Temer. Um copo. Um único copo. O menino estava segurando o copo andando pelo local onde o ministro estava fazendo o discurso dele. Ele não chegou perto do ministro, não colocou o copo no rosto do ministro, não falou, não gritou, não teve palavra de ordem. Não teve nada. O menino estava segurando o copo. Apenas isso. Um jovem de 19, 20 anos de idade. Isso podia ser revertido com uma ato de educação, um ato de esclarecimento. “Vocês estão numa repartição pública, não é o momento disso. Quer fazer, faça do lado de fora”. Isso você revertia conversando, no diálogo. É uma Pasta de Educação, meu deus. Uma Pasta de Educação, não é? Eles são estagiários. Os estagiários estão ali para aprender.
Em processo de formação.
Exatamente. Raivosamente no mesmo dia, ao Meio Dia, a coordenadora foi chamada pelo diretor dizendo que elas tinham entrado na sala, imediatamente após o ocorrido, dizendo que ele fizesse naquele momento a carta de exoneração da coordenadora.
Elas quem?
A Ivete (Lacerda) e a Lúcia (Gominho) queriam que ele assinasse na hora a carta de exoneração da coordenadora.
Imediatamente?
Procuraram o diretor-geral (Diretoria de Educação, Memória, Cultura e Arte) que é Astrogildo (José Astrogildo dos Santos) para que ele fizesse a carta de exoneração da coordenadora na mesma hora. Ele não fez, naturalmente. Procurou saber dos fatos, chamou Edna. Edna que era totalmente inocente na história. Procurou os meninos. O copo inclusive foi entregue a Astrogildo. Isso foi esclarecido com ele. Foi esclarecido com a Lúcia Gominho, mesmo assim elas mantiveram a exoneração como haviam pensado. E acusando Edna de estar liderando uma manifestação. Isso que eu acho grave, entendeu?
No relato que você fez no facebook você fala de um temor generalizado dentro da Fundaj, temor inclusive das pessoas de utilizarem roupa vermelha. Há um clima de tensão?
Há um clima de tensão e temor. As pessoas se sentem observadas, analisadas. Têm medo de sentar junto de outras pessoas porque têm a sensação de estarem sendo vigiadas. Tá entendendo? A Fundação é uma instituição de 70 anos. A Fundação tem servidoras, como eu, que estão ali há 30 anos ou mais e que são amigas. São pessoas que se relacionam, que saem para almoçar, que ficam nas salas na hora do almoço, sentam na mesma mesa no restaurante e até isso as pessoas estão com medo, tão com medo de usar roupas vermelhas, tão com medo de conversar dentro dos carros porque os motoristas estão sendo trocados para colocar outros motoristas que não são da Casa, são de fora. E que a gente não sabe o que eles estão ouvindo e o que estão falando.
Entendo.
Na recepção do Museu uma menina foi colocada lá, sobrinha da Lúcia Gominho, dentro da recepção do Museu. Para que, hein? Pode não ser nada. Nada impede que se coloque parentes em outros departamentos que não sejam o seu, principalmente estagiários, mas as pessoas que estão trabalhando lá já ficam assustadas, temerosas. São jovens que estão ali para aprender. A gente precisa ter um mínimo de coerência com o que a gente está dizendo. Afinal, o Museu é educativo ou não é educativo? A Fundação está ali para ajudar ou para prejudicar? Que tipo de clima louco é esse tem lá dentro dessa instituição?
Nos seus 30 anos de Fundaj já tinha vivido algo parecido?
Nunca. Nunca. Nunca vi uma história dessa na minha vida profissional. O pior de tudo é que a grande maioria das pessoas que trabalham hoje na instituição são cargos de confiança ou terceirizados porque o quadro funcional está diminuindo. Então, a voz está sendo abafada. A voz da instituição está sendo calada porque as pessoas são cargo de confiança e não querem perder seu emprego mesmo que não concordem com o que está acontecendo. Os terceirizados muito menos. As pessoas então ficam amarradas nesta teia e quem é da Casa, que realmente tem voz, são poucos, e já não têm nem mais força pra falar.
Pelo que você diz muitos dos diretores entraram recentemente, sem experiência na Casa.
Não têm experiência na Casa. Não conhecem a cultura da Casa. Não conhecem as pessoas da Casa. Chegam assim se achando. Olham pra sua cara e já não gostam. É uma prepotência que você fica sem acreditar.
Você falou da intransigência das novas gestoras. Essa mudança na presidência, com a saída de Luiz Otávio Cavalcanti, efetivamente não sinaliza mudança?
Lógico que não. Agora é que o terror tocou fogo. Porque você imagine que sai o presidente que muita gente tem coisas contra, tem senão, eu não tenho nenhum. E não é porque ele me convidou para ser coordenadora, não. É porque eu nunca enxerguei no doutor Luiz Otávio nenhuma resistência para as coisas que se queriam fazer pro bem na fundação. Eu não tenho o que falar. Mas tem muito gente que tem. Beleza. Cada um é seu cada um e cada um sabe onde seu calo aperta. Mas sai uma pessoa que de qualquer maneira, ouvia, recebia, a porta tava aberta. Sai para entrar uma ditadora. Agora sim ela é presidente de fato e de direito porque, na prática, já era ela quem mandava e desmandava.
Ela estava então à frente de toda essa mudança que você falou, exoneração de diretores, mudança nos terceirizados.
Exatamente. Já tocava isso E agora tem o poder da presidência. Todos os contratos de terceirizados da casa passam pelo RH. Para cada contrato de terceirização, dependendo das áreas a que eles vão servir, existe um gestor e um fiscal que não necessariamente são de recursos humanos, isso não é pra ser recursos humanos, é Casa, não é? Antes, era o pessoal do Planejamento, eram alguns do Museu, outros eram de Manutenção. Hoje todos esses serviços passam pelo crivo dos recursos humanos. Por que?
O coletivo citou alguns casos de contratação específicas, como o caso do projeto Mestre do Saber.
É. Aí são projetos com atos de inexigibilidade (sem licitação).
Isso também passava pela administração?
Claro. Claro. Ivete é ordenadora de despesa. Isso passa pelo Museu, pela direção, por Ivete e pelo presidente. É uma cadeia. Isso foi uma demanda do ministro.
Essas oficinas?
Essas oficinas do Mestre do Saber foram uma demanda do ministro. E eu vou lhe dizer. Eu não acho ruim, não. O errado é ter sido assim tão assoberbado, sem passar pelo conselho gestor, sem passar pelo conselho diretor. Pelos valores envolvidos deveria ter sido mais analisado pela Casa. Eu acho que do jeito que estão formatadas as oficinas, elas não deixam nada. É diferente de um projeto que a gente desenvolveu no Museu durante muitos anos, que era o Jovem Artesão, que você tinha uma capacitação do jovem por quase dois anos. De tudo. Quando ela saia, ele saia um artesão. Hoje a gente tem vários deles espalhados por aí. Meninos que saíram do Museu e fizeram vestibular para artes, museologia e estão fazendo universidade. Todos oriundos desse projeto. É diferente você fazer oficinas de apenas 16 horas.
Que é o caso do Mestres do Saber?
Que é o caso do Mestres do Saber. O que é que você aprende em 16 horas? O que você enquanto capacitando aprende em 16 horas para sair um artesão? Nada. É quase uma oficina de lazer. Isso foi questionado. Então esse tipo de questionamento foi minando minha posição. Por que tá resistindo tanto? Eu não tô resistindo. O projeto é bom, mas po rque que a gente não faz de outra maneira, com outro desenho, com outro tipo de finalidade? Uma capacitação realmente, uma coisa que fique, inclusive com precificação, abrindo o mercado. Uma coisa legal. Mas não é assim. É frouxo e fofo.
Você sentia um dirigismo nesses processos?
Não. Não sei se era dirigismo, não. Sinto que é assim, como dizer, um oba-oba, um negócio que não acrescenta.
Mas a decisão de quem ia executar já vinha dada?
Já veio dada. Uma empresa Afonso não sei o que (Afonso Oliveira Produções Culturais)
Sei.
Aí você fica vendo isso assim e pergunta: Meu Deus do céu o que é que a gente vai fazer agora na Fundação? Porque na verdade agora ninguém mais tem voz. Existe um conselho diretor da Casa, em que agora só tem uma diretora, que é Alexandrina, que é da Casa, só ela é da Casa, entendeu? Todos os outros são de fora. Comunicação não tem voz, mas tem assento. Procurador, os diretores de Planejamento, da Meca, da Difor, todos são de fora. São eles que têm as decisões da Fundação nas mãos, entendeu?
Podemos dizer que nesses últimos oito meses o comando da fundação mudou completamente?
Mudou completamente.
A Fundação é considerada uma referência em pesquisa. Você acha que do modo que está posta agora a gestão isso pode comprometer a imagem da instituição?
Já comprometeu. As pessoas não estão podendo fazer absolutamente nada. São coisas assim pequenas. A Fundação, por exemplo, tem um Dinter (doutorado interinstitucional) em parceria com a Universidade Federal do Maranhão para capacitar servidores da Fundaj na área de políticas públicas. Cinco servidores da Fundação participam desse Dinter, que começou na outra gestão. Muita coisas tinham sido sinalizadas na época, como passagens aéreas para participar de eventos correlatos com sua disciplina, com sua área de pesquisa, apresentar trabalhos. Passagens para fazer defesa, para fazer qualificação. Hoje se elas querem participar de eventos têm que pagar do próprio bolso porque não interessa mais à Fundação essas pessoas que estão aqui serem doutoras. Não é gente da turma deles. Abafa isso daí. Não facilitam mais nada. Não dão subsídios para que as pessoas desenvolvam os seus trabalhos.
Tá claro para quem tá na Fundaj que esse grupo que entrou tá completamente sintonizado com o ministro.
Para mim tá. Mas é minha visão. Eu acho que tá. Se bem que é o que eu disse naquele depoimento (no facebook). Eu quero crer que essa coisa pequena, tão rasteira, ele não esteja sabendo. Claro que ele sabe das coisas grandes. Mas dessa coisa pequena, eu não sei não. Quero acreditar que um ministro de Estado não está comandando isso. Tem gente embaixo que comanda. Gente lá de Brasília também. Mas a gente não sabe…
A relação do ministro com vocês? Existe?
Não. Não. Nada. Zero. A relação é ele chegar, beijinho, microfone…
Nem contato no dia a dia.
Nenhum.
Discussão dos grandes projetos da Fundaj?
Nada. Pra que? Com ninguém da Casa. A coisa é assim. Eu quero fazer assim, vamos fazer assim porque é assim que a gente quer e pronto. Sem discussão.
Não é estranho a Fundação ser presidida agora por alguém que ocupava a Administração? O que se imagina é que você vai ter um pesquisador ou alguém de alguma forma que vai estar muito familiarizado com todos os processos de pesquisa ali.
Não. Não vejo problema. Eu acho que não. O gestor tem que ser gestor. Ele tem que ter trâmite em todas as áreas. Ele pode aprender. Eu tive uma coordenadora, Vânia Brayner, lá no Museu do Nordeste, que passou 13 anos com a gente. Ela é uma jornalista. Não tinha nada a ver com o Museu. Inclusive quando ela chegou eu fui uma das pessoas que resistiu. Ela foi uma excelente gestora.
A questão então está mais relacionada ao que você está direcionado a fazer?
Tem a ver como você está entrando naquela instituição. De braços abertos para poder construir junto com ela. E não fazer um projeto próprio.
É o que está acontecendo?
È exatamente o que está acontecendo. Não existe um projeto institucional, existe um projeto de governo.
Você acha que existe alguma semelhança entre o caso da UNB (o ministro solicitou que o TCU, a AGU e o MPF investiguem se há ato de improbidade administrativa na elaboração da disciplina O Golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil) e o caso da Fundaj?
Com certeza. É um cale a boca. O Coletivo (Fundaj pela Democracia) colocou uma nota falando exatamente isso. Que a saída de dr. Luiz Otávio é um aviso: “Olha gente, tô tirando essa parte externa. Aqui dentro a coisa vai endurecer mais ainda”.
Essa é a expectativa de quem está lá dentro?
Mas é lógico. Ou você acha que eles vão amolecer? E toda essa repercussão? A gente vai penar por estar se insurgindo, por estar abirndo a boca, estar colocando as feridas expostas. Eu tenho ciência de que, de uma maneira ou de outra, eu vou ser punida. Não mais de cargo, porque, afinal de contas, eu sou da Casa e eles não podem me demitir, mas aquela coisa de você colocar o pé em cima e dizer: “Daqui você não passa. Vai ficar escanteada”. E não só comigo, com a Sônia Dantas. A repercussão de tudo isso começou por conta de Sônia. Sônia foi impressionante. Eu só abri a boca por conta dos comentários que estava vendo no post de Sônia, desacreditando, xingando, dizendo que era mentira, fake, criticando, desmoralizando ela. Aí sim eu me senti na obrigação de falar. Algumas pessoas já tinham entrado em contato comigo pedindo pra eu falar e eu dizia: “Não vou falar minha gente. Não vou falar porque eu até hoje sou cargo de confiança. Não posso ficar cuspindo no prato que comi até agora”. Mas quando eu vi aquilo aí eu disse: “Não dá”. Eu preciso falar, até em respeito a outra colega de trabalho, que veio de outro departamento completamento diferente e se expôs. E alguém precisava chegar e dizer: “Aconteceu realmente isso (o caso do copo). É verdade”.
Nesses momentos é preciso falar, não é? Não dá para calar?
De jeito nenhum. Aí foi exatamente isso. Eu disse: “tenho que falar”. E quando você fala, meu amigo, não tem mais como você fechar a boca. Seria uma covardia, afinal de contas. Eu tô lá dentro vendo como a minha equipe está trabalhando, como a minha equipe está atemorizada. Os meninos que vão entrar agora na monitoria estão aterrorizados.
Os que vão substituir os demitidos?
Substituir, não. Nós tínhamos vinte e poucos cargos e aumentamos para 41 por conta da abertura do Derby, cinema. Tivemos que aumentar. Tivemos uma nova licitação e outra empresa ganhou. Eles estão migrando de uma empresa para outra e já deveriam ter começado agora no dia primeiro. Não começaram. Estão todos de stand by. Lá, esperando, aterrorizados. Com medo de não serem efetivados. Com medo de tudo isso. É um estado de medo e perseguição e vai piorar. Se isso se mantiver, com Ivete à frente, vai piorar. Vai piorar porque ela já disse que quem manda ali é ela. Que ela não entrou para fazer amizade com ninguém, mas para colocar ordem na Casa. Ninguém tem uma força dessas se não tiver um respaldo muito grande de cima, não é?
Co-autor do livro e da série de TV Vulneráveis e dos documentários Bora Ocupar e Território Suape, foi editor de política do Diário de Pernambuco, assessor de comunicação do Ministério da Saúde e secretário-adjunto de imprensa da Presidência da República