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Debate com as candidatas ao legislativo. Foto: Maria Carolina Santos/MZC
O debate promovido nesta terça-feira (11) pela Rede de Mulheres e o Fórum de Mulheres de Pernambuco com as candidatas para o legislativo – estadual e federal – foi um espaço para ouvir as propostas das mulheres para Pernambuco e para o Brasil. Abrindo o encontro, que aconteceu no auditório do Sindicato dos Servidores Públicos Federais (Sindsep), na Boa Vista, Mônica Oliveira, da Rede de Mulheres Negras, falou sobre a importância do estado ter um olhar mais específico nas políticas públicas.
“Todos os indicadores, índices e estatísticas apontam que as mulheres negras estão nas piores condições. As políticas de gênero não consideram a questão racial, as políticas raciais não consideram a de gênero. E ficamos ilhadas, neste meio”, afirmou. “Temos muita legislação, mas precisamos de implementação. É preciso estabelecer mecanismos que garantam a superação do racismo institucional, em especial na segurança pública”, disse Mônica.
Representando o Fórum, Natália Cordeiro considerou que desde o golpe de 2016 as mulheres estão mais unidas. “Nossa luta se aprofundou mais nos últimos tempos. Nós feministas temos uma forma de fazer política mais horizontal, mais democrática, sem que uma fale mais alto que a outra”, destacou. No evento, também foram entregues plataformas dos dois movimentos. Parceira da iniciativa, a Marco Zero Conteúdo, pelo projeto Adalgisas, transmitiu ao vivo o debate, que pode ser revisto na página do Facebook.
O encontro começou com nove candidaturas à Assembleia Legislativa de Pernambuco apresentando suas propostas em dez minutos. Depois, quatro concorrentes à Câmara dos Deputados mostraram seus planos. Confira abaixo um resumo da fala de cada uma das participantes do debate.
Juntas (PSOL) – Da candidatura conjunta formada por cinco mulheres, duas dividiram o tempo de fala. Jô Cavalcanti, que é o nome que vai aparecer nas urnas, lembrou a alta taxa de desemprego no país e defendeu linhas de crédito para os pequenos comerciantes. “Não defendemos a precarização do trabalho informal. É um trabalho digno e que precisa ser valorizado também”, disse. Robeyoncé destacou a importância de mudança no sistema político. “Estamos aqui para pedir votos, mas também para pedir que vocês ocupem os espaços políticos ativamente”.
Deyse Medeiros (PSTU) – Moradora da periferia de Jaboatão dos Guararapes, Deyse Medeiros (PSTU) focou seu discurso em moradia, saúde e contra a terceirização. “Trabalhadores e usuários do SUS estão enfrentando um verdadeiro ataque à saúde pública”, afirmou, citando como exemplo os plantões extras que os trabalhadores da saúde seriam obrigados a fazer no estado. “O governo demora a pagar esses plantões e há paralisações. O dinheiro que deveria ir para os hospitais de referência estão indo para as OSs (terceirizadas)”.
Joana Casotti (PCdoB) – Em sua fala, Joana falou sobre a marginalização imposta para as travestis e transexuais. “Mesmo formada em Design há mais de dois anos, não sei o que é emprego. Somos aquelas que não têm direito a educação, nem ao SUS. Tenho medo da morte e da intolerância”, afirmou, citando casos de violência contra travestis e trans. “Nossa identidade é questionada constantemente. A nossa expectativa de vida é de 35 anos de idade, menos da metade de uma pessoa cis heteronormativa”, comentou.
Luiza Carolina (PCB) Ela começou sua fala reforçando que é uma candidatura feminista, antirracista, anticapitalismo e em favor das pautas LGBT. “No atual desmantelo da nossa política nacional, as mulheres negras são pilares de resistência. No ano em que se fala dos 130 anos de uma abolição ficcional, continuamos escanteadas do mesmo jeito pelo Estado”, disse. Nas propostas, Luiza Carolina defendeu proteção trabalhista para ambulantes, maior controle do comércio de chineses (“sem xenofobia, mas precisa haver uma regulação”) e trabalho digno pela CLT.
Teresa Leitão (PT) – Única candidata em busca da reeleição a participar do debate, Teresa Leitão lembrou que há seis parlamentares mulheres atualmente na Alepe, mas só ela está nas lutas feministas. “Em todos esses anos como deputada, só uma vez vi o aborto sendo discutido, sob o nome de planejamento familiar, e em uma mesa com um padre e um médico. Quando cheguei da militância sindical na Alepe, logo senti que achavam que ali não era lugar de mulher, nem de negro, nem de sindicalista”, disse. Sobre as pautas das mulheres negras, a deputada destacou a importância da Lei 10.639/03, que regulamenta a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena. “A implementação é muito embrionária”, disse.
Sylvia Siqueira Campos (PT) – Dirigente da ONG Mirim Brasil, a candidata lembrou que não há coligação do PT com o PSB nas candidaturas proporcionais. “Quem votar na gente não está votando nos candidatos do PSB”, disse. Apostando em uma política aberta para ouvir o eleitorado, Sylvia falou da construção do seu plano de candidatura. “Estamos agora com 15 eixos, com contribuições diretas de demandas dos eleitores”, disse. Uma das propostas de Sylvia é a descentralização e interiorização do mandato, com gabinetes espalhados no Agreste, Sertão e Zona da Mata. “Nossa campanha é de movimento, para enfrentar os elementos que estruturam as desigualdades”, afirmou.
Liana Cirne (PT) A professora de Direito da UFPE e ativista do Ocupe Estelita, defendeu a candidatura de Haddad, que virou candidato no mesmo dia do debate. “Infelizmente não podemos votar em quem queremos votar”, afirmou, se referindo a Lula. “Bolsonaro é uma subversão de tudo que acreditamos. Nós feministas estamos sendo acuadas, porque queremos uma sociedade que não tolere a opressão de qualquer forma”, disse. Sobre sua candidatura, afirmou que está “defendendo uma política que tem que ser feita com todo mundo, com uma radicalização da democracia participativa”.
Verônica Magalhães (Verinha) – PCdoB A técnica em enfermagem relembrou sua trajetória em sindicatos e na defesa da saúde pública. “É preciso olhar para as mulheres negras em situação de rua. É a parcela que mais precisa de acolhimento”, afirmou. A candidata também citou casos de racismo institucional em hospitais públicos e cobrou mais ações para este combate. “Não precisamos criar novas políticas públicas. Precisamos implementar as que já existem, porque estão sendo esquecidas”, disse.
Valéria (PSTU) – Valéria, do PSTU, tem como principal proposta o não pagamento da dívida pública do estado. “É preciso também garantir a redução da jornada de trabalho com a manutenção dos salários”, defende. Com o dinheiro que iria para pagamento das dívidas, Valéria propõe investi-lo no próprio estado. “É um dinheiro que precisa ir para a geração de empregos, e não para banqueiros”, disse. “O PSTU é a revolução. Os governos de Frente Popular não governam para a classe trabalhadora”, afirmou.
Flávia Hellen (PT) – Abriu sua fala alertando sobre a organização do discurso de ódio, que está organizado nessas eleições. “É o ódio contra quem entrou nas universidades públicas por ações afirmativas, o ódio da classe trabalhadora que conseguiu a casa própria, que conseguiu viajar”, disse, defendendo uma constituinte para alterar as regras do jogo. “A geração que mudou de vida não vai aceitar nenhum direito a menos. A nossa candidatura é para construir espaços de resistência, principalmente contra o genocídio negro”.
Kellen Silva (PSTU) – A candidata falou sobre as opressões da mulher trabalhadora e defendeu mudanças na educação básica. “A maioria das cidades faz vista grossa e não tem creches nem escolas suficientes para as crianças. O estado tem que ser responsável pela educação infantil e não as prefeituras”, defendeu. “Outra questão urgente é a questão do aborto. Não pelo fazer, que é um processo doloroso quando a mulher faz essa escolha, mas por uma questão de saúde pública. As mulheres pobres estão morrendo em locais clandestinos”, afirmou.
Michelle Santos (PSOL) – Falou sobre a perda de direitos com o golpe de 2016, defendeu uma rede de apoio para as candidatas mulheres e criticou as cotas de 30% de candidatura e verba do fundo eleitoral. “Na prática, não está dando resultado efetivo. Precisamos de mecanismos como na Costa Rica e na Bolívia”, afirmou, citando países com reserva de assento para mulheres no legislativo. “Precisamos falar com as mulheres do campo, as trabalhadoras: vocês também são feministas! Precisamos nos reconhecer e nos unir”, disse a candidata.
Gabi Conde (PSOL) – Ela discursou sobre a responsabilidade da sociedade e dos homens com as crianças, sobre a criminalização das periferias e a necessidade de um debate sobre as mudanças nas políticas de drogas. “Falar da descriminalização das drogas não é somente falar da liberdade individual das pessoas, mas da criminalização dos territórios, que esmaga nossa população, sobretudo a periférica e negra”, afirmou. “Precisamos de novos nomes e novos modos de se fazer política no Brasil”, afirmou.
Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Contato: carolsantos@marcozero.org