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Diversas e unidas, mulheres marcham por garantia de direitos no 8M no Recife

Foto colorida feita com o dia claro de grupo de mulheres, a maioria negras e pardas, vestindo camisetas brancas com desenhos e textos, enquanto outras estão com roupas casuais. Pelos seus gestos, é possível deduzir que as mulheres estão gritando palavras de ordem.

Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

Com uma linha de frente composta por mulheres negras, trans e indígenas, além da presença de cristãs e muçulmanas, o 8M no Recife, nesta sexta-feira, Dia Internacional de Luta das Mulheres, foi marcado pela diversidade. Reunidas em marcha no centro da cidade — do Parque Treze de Maio ao Pátio de São Pedro —, elas exigiram em coro o tema do ato este ano, “Pela vida das mulheres: pela legalização do aborto. Contra o racismo ambiental e as violências. Não às privatizações”. 

A Marco Zero foi para a rua entender o que levou essas mulheres tão diversas e, ao mesmo tempo, tão conectadas a ocuparem as ruas da capital do estado governado, pela primeira vez na história, por duas mulheres (a governadora Raquel Lyra e a vice Priscila Krause) e também líder de feminicídios no Nordeste no ano passado, como mostramos em matéria publicada nesta quinta (7). Em 2023, 92 mulheres foram assassinadas em Pernambuco pelo fato de serem mulheres. Os dados são da Rede de Observatórios da Segurança.

“Para mim, é importante o movimento das mulheres em busca de direitos e oportunidades e as mulheres negras em busca de equidade”. É com essas bandeiras que a professora Queite Diniz, 48 anos, participa há dez anos de atos feministas. As bandeiras que ela leva às ruas são as que estão fincadas também dentro de casa, na Vila Torres Galvão, em Paulista. Queite, que põe em prática suas referências de aprendizado, estava no 8M com as duas filhas, as estudantes Maria Antônia Diniz, 21 anos, e Maria Vitória Diniz, 17 anos.

A professora Queite Diniz e as filhas Maria Antônia e Maria Vitória, juntas ao 8M no Recife. Crédito: Arnaldo Sete/MZ

“Acho extremamente importante, enquanto mulher jovem negra, ocupar esses espaços, estar aqui botando o pé na rua e mostrando que a gente está insatisfeita com as condições que nos são dadas, principalmente por ser a mulher negra que está na base da pirâmide, a que sofre mais”, comenta Maria Antônia. Ela começou a participar dos movimentos de mulheres em 2018, ainda adolescente.

Exaltando o respeito à diversidade, é na rua que mães e filhas se reafirmam. “Para mim, é importante fazer valer o que estudo na teoria e incentivar minhas filhas a darem continuidade a esse movimento”, reforça Queite.

Em todo o Brasil, movimentos e coletivos feministas, mulheres das cidades, do campo, das águas e da floresta, de partidos e sindicatos, se organizaram para tomar as ruas neste 8 de Março. No Recife, o ato teve concentração às 15h e saiu em marcha por volta das 17h, com batucadas, bandeiras, carro de som e toré.

Para a Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), organizadora do evento, o tema deste ano mostra que “estas consignas inscrevem o feminismo na luta política nacional e a ocupação das ruas revela sua força, na disputa do país pela esquerda”.

É também na rua que a muçulmana Najdaty Andrade, 55 anos, educadora social e grafiteira, do projeto Cores do Amanhã, no bairro do Totó, na zona oeste, faz valer suas lutas e seu lugar no mundo. “Hoje, para além de estar aqui em favor dos direitos das mulheres, estou lutando em favor das mulheres muçulmanas”. Ela lembra que o grupo tem direitos, mas eles estão sendo violados.

A muçulmana Najdaty Andrade luta pela liberdade de excercer suas crenças. Crédito: Arnaldo Sete/MZ

“A gente não tem às vezes o direito de exercer nossa fé e nossa crença abertamente, mesmo sendo um país laico. Mas independente de crença, raça, gênero e fé, temos nossos direitos e lutamos por eles. Para que a gente possa sair com nossos hijab (lenços) sem sermos importunadas na rua”, reivindica.

Para Amanda Karaxu, 37 anos, indígena Karaxuwanassu, de Igarassu, na Região Metropolitana, o que a motiva é a luta coletiva. “A gente tem visto o crescimento do feminicídio, a falta de políticas públicas e o silenciamento nos espaços de poder — e eu tenho sofrido isso constantemente”, denuncia. Pedagoga, estudante de ciências sociais, Amanda é mãe de três filhos.

Amanda, indígena Karaxuwanassu, de Igarassu, também esteve no 8M. Crédito: Arnaldo Sete/MZ

AUTORES
Foto Jeniffer Oliveira
Jeniffer Oliveira

Jornalista formada pelo Centro Universitário Aeso Barros Melo – UNIAESO. Contato: jeniffer@marcozero.org.

Foto Raíssa Ebrahim
Raíssa Ebrahim

Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com