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Documentário “Sangue: Vidas e lutas quilombolas em defesa do rio” online e gratuito

Maria Carolina Santos / 05/04/2023
Negro idoso, de boné branco e vermelho, vestindo camisa azul turquesa e bermuda jeans, dá entrevista para duas mulheres (que estão de costas para a câmera), junto a um manguezal na beira de um rio, onde - montados sobre tripé uma câmera de vídeo e ponto de luz.

Crédito: PH Silva

Depois de ter sido lançado em julho do ano passado na Ilha de Mercês, o documentário Sangue: Vidas e lutas quilombolas em defesa do rio agora está disponível online. Realizado pelo Fórum Suape, com roteiro e direção da jornalista Débora Britto – que já foi repórter aqui da Marco Zero – o filme de aproximadamente 25 minutos mostra a luta dos moradores e moradoras do quilombo da Ilha de Mercês contra Suape. 

O conflito é por conta do barramento da foz do rio Tatuoca, realizado pelo complexo portuário em 2007, que secou o mangue onde gerações de famílias pescadoras retiravam alimento para suas casas e para vender. O estuário vivo e farto era o pilar dessa comunidade pesqueira.

Com imagens poéticas do mangue – seco ou com água – e todo costurado por depoimentos de moradores e de ativistas, o filme oferece não só uma visão da resiliência da comunidade quilombola, mas também um retrato afetuoso do seu modo de viver e de celebrar. A certa altura, um morador questiona: “Como não amar um lugar desse? Como não brigar para viver em um lugar desse?”. Só resta ao público concordar.

A diretora Débora Britto conta que as filmagens começaram no início do segundo semestre de 2020, na pandemia. “Com muitas restrições e cuidados para garantir a segurança de todas as pessoas da comunidade. Precisamos identificar à distância quem estaria disponível, principalmente as pessoas idosas, e agendar as filmagens para evitar riscos de exposição à covid-19. Nós éramos uma equipe de apenas três pessoas exatamente para reduzir os riscos”, conta.

Antes de propor o documentário, Débora já tinha uma relação com os moradores e o território, iniciada com as apurações para a reportagem Suape pelo Avesso. “Eu apresentei a ideia de contar a história da comunidade junto com a história da luta, porque elas estão interligadas”, diz.

As filmagens foram até 2021. E logo depois veio um alento para o quilombo da Ilha de Mercês: após 14 anos, o Complexo Industrial e Portuário de Suape começou a retirar a barreira que bloqueou o fluxo do rio Tatuoca. Trinta e quatro metros – dos mais de 170 da barreira – foram retirados em agosto daquele ano. “Tivemos essa notícia no processo de finalização do filme. Era uma promessa por muitos meses, de que isso aconteceria. Não temos a filmagem do rio parcialmente aberto, mas mostramos isso na fala de Marinalva, uma pescadora, que conta a experiência de ver o rio voltando a ter vida”. Passados mais de um ano e meio da primeira parte, Suape ainda não avançou na liberação do restante do rio.

Desde novembro de 2021, os quilombolas da Ilha de Mercês, aguardam o resultado de uma ação civil pública na Justiça Federal em que pediram a liberação completa do rio Tatuoca e a reparação pelos danos morais e materiais sofridos pela comunidade nos longos 14 anos em que o rio esteve ilegalmente bloqueado.

Confira abaixo o documentário completo:

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AUTOR
Foto Maria Carolina Santos
Maria Carolina Santos

Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Contato: carolsantos@marcozero.org