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Expulso do PCB, Jones Manoel tenta voltar ao “partidão”, mas tem portas abertas no PSOL para 2024

Marco Zero Conteúdo / 30/08/2023
Jones Manoel: close de homem jovem, negro, de fartos cabelos crespos, bigode e barba farta e preta. Fotografado de perfil, ele veste uma camisa verde musgo, óculos de lentes retangulares e está sorrindo para um interlocutor que não aparece na imagem.

Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

por Jorge Cavalcanti*

Comunista, comunicador, educador popular, youtuber e pernambucano. É assim que Jones Manoel da Silva, 33 anos, se descreve no Spotify, plataforma onde também hospeda o conteúdo que produz sobre política, economia e história para o canal que mantém no YouTube há cinco anos. São 932 vídeos publicados, 273 mil inscritos e a certeza que o maior megafone desse militante leninista-marxista está nas redes sociais, onde coleciona também críticos e haters (odiadores, em inglês). O alcance digital de Jones será ferramenta útil para a tarefa que vai encarar em 2024: as eleições municipais no Recife.

Historiador formado pela Universidade Federal de Pernambuco, Jones Manoel acrescentou no ano passado outro atributo ao currículo: candidato a governador do estado pelo PCB com uma votação quase três vezes maior do que a do postulante do PSOL, João Arnaldo. Foram 33.931 votos, dos quais 14 mil no Recife. Ficou em sexto entre as dez candidaturas. O detalhe é que Jones fez campanha com R$ 50 mil doados por pessoas físicas, espaço reduzido nos programas de TV e – por conta da legislação – de fora do guia eleitoral e dos debates ao vivo entre a(o)s candidata(o)s. 

O camarada Jones deseja manter esse ativo político e eleitoral na disputa da sucessão no Recife e a serviço da organização da classe trabalhadora. “Se Túlio Gadelha for o candidato da federação PSOL-Rede, há a obrigação política e pedagógica de impedir que ele se apresente como esquerda. Na política pernambucana, ele é aliado da governadora Raquel Lyra. Em Brasília, parece que é deputado federal por Marte, porque não trata das questões de Pernambuco”, avalia Jones, em conversa com a reportagem da Marco Zero Conteúdo.

Os partidos Socialismo e Liberdade e Rede Sustentabilidade oficializaram em maio de 2022 a federação partidária, válida por quatro anos, em que o PSOL é majoritário. Mas há a possibilidade de Tulio Gadelha (Rede) ser o candidato a prefeito se o agrupamento que vencer o congresso estadual do PSOL – em curso neste momento – formar  uma composição com o deputado, bancando seu nome. Caso Tulio decida disputar por outro partido, o prazo mínimo de filiação é de seis meses antes do dia do pleito.

Embate com Túlio e o cartão VEM

Jones tem usado as redes sociais para contestar a atuação política do deputado. “Túlio Gadelha foi cobrado em um podcast sobre seu apoio a Raquel Lyra e promessas como pagar o piso da enfermagem. Vamos gravar um vídeo sobre o tema. É um debate válido demais”, escreveu Jones na legenda do post publicado em 7 de junho no Instagram, em que reproduz trecho da entrevista do parlamentar. Nesta rede, o comunicador soma 238 mil seguidores.

Túlio devolveu a Jones no mesmo tom. “No mundo real, localizamos o espectro político dos parlamentares pelos seus posicionamentos e a forma como votam as matérias. Na esquerda, os que me criticam nunca tiveram a capacidade de apontar um voto errado. Nossas alianças medem nossa capacidade de diálogo e construção coletiva. A história nos mostra que o radicalismo é perigoso e nocivo à democracia”, rebateu o parlamentar.

Durante o processo eleitoral de 2022, em sabatina à Rádio Jornal, o então candidato a governador pelo PCB viralizou com a frase “sou o único candidato que sabe voltar pra casa se estiver no Cais de Santa Rita só com um VEM”. 

À declaração, o complemento: “eu não sou filho de político, não sou rico, sou um trabalhador, filho da classe trabalhadora; pego e peguei ônibus a minha vida toda”. Na ocasião, o comunicador fazia referência aos cinco postulantes que disputavam a ida ao 2º turno: Marília Arraes, Raquel Lyra, Danilo Cabral, Anderson Ferreira e Miguel Coelho, todos filhos ou netos de políticos.

A saída do “partidão” 

Antes das eleições no Recife, porém, Jones tem pela frente uma questão política mais imediata a solucionar. Só depois do desfecho do processo que originou sua recente expulsão do Partido Comunista Brasileiro será possível saber se ele será candidato a prefeito ou vereador. O dirigente está agora envolvido na tentativa de organização do 17º Congresso Extraordinário do PCB, por onde acredita poder construir seu retorno à legenda. E afirma que, em Pernambuco, 90% da militância defendem a realização do encontro.

Procurado pela reportagem, o secretário político do PCB no Estado, Roberto Arrais, afirmou que o “expurgo” de Jones junto com outros militantes se deu em função do descumprimento do centralismo democrático da legenda. E que Jones – até então integrante da direção estadual e do comitê central – já havia sido advertido antes. “Nosso partido não admite tendências. Jones começou a levar o debate do partido às redes. Antes do desligamento foi chamado a atenção e, depois, suspenso.”

Além de Jones, foram expulsos o ex-secretário-geral do partido Ivan Pinheiro, de 77 anos, a médica baiana Ana Karen e outros dois militantes. No site oficial do partido, a direção publicou uma série de notas os acusando, na melhor tradição bolchevique de desqualificar dissidentes, de “fracionismo”, “divisionistas” e “isolacionistas”, ou seja, de tentar criar “frações”, tendências e se isolarem. O dirigentes partidários não reconhecem a convocação do tal 17º Congresso que os apoiadores dos comunistas expulsos estão tentando organizar.

O PCB foi fundado em 1922. Atuou por décadas sob a clandestinidade e dois dos seus maiores nomes foram Luís Carlos Prestes e o pernambucano Gregório Bezerra. Conhecido como “partidão”, pelo tamanho e importância que chegou a ter na sociedade brasileira entre os anos 1930 e 1960, teve como filiados Carlos Drummond de Andrade, Carlos Marighella, João Saldanha, Cândido Portinari e Graciliano Ramos. Os sucessivos rachas e o desmantelamento da União Soviética reduziram a sua importância até a atual condição de não ter nenhum mandato em todo o país.

PSOL de portas abertas

Jones sabe que o esforço para enfrentar, via congresso extraordinário, os dirigentes do minúsculo ex-partido deve resultar em uma longa batalha judicial. No entanto, o PSOL está de portas abertas para o youtuber comunista que influencia Caetano Veloso (ver vídeo abaixo). No entanto, ao ser questionado sobre as chances de se filiar ao PSOL, Jones prefere não dar ênfase a isso. Volta a destacar a importância do congresso extraordinário e diz que decisões como essa precisam ser debatidas e construídas em coletivo. “Sou um militante disciplinado”, garante.

No PSOL, a possibilidade de Jones filiar-se é tida como “possível” e até “tranquila”. Se falta proximidade ideológica, sobram contatos afetivos: um dos seus melhores amigos é o presidente estadual do partido, Tiago Paraíba, com quem já dividiu a autoria de artigos de crítica social.

Há ressalvas na simpatia do PSOL por Jones Manoel. Os dirigentes do partido com quem a Marco Zero conversou sugerem que, dificilmente, ele seria aceito como candidato a prefeito para não causar desconforto com a própria Dani e com o vereador Ivan Moraes, ambos dispostos a entrar na disputa. O PSOL aceitaria oferecer a legenda para Jones ser candidato a vereador, sem perder o timing nem desperdiçar seu capital político. Em compensação, ele reforçaria a chapa proporcional em 2024, ajudando ao partido a manter ou ampliar a presença de duas cadeiras na Câmara Municipal do Recife, ao lado de nomes como os de Robeyonce Lima, Jô Cavalcanti, Carol Vergolino, Elaine Cristina e Aldo Lima.

*Jornalista com 19 anos de atuação profissional e especial interesse na política e em narrativas de garantia, defesa e promoção de Direitos Humanos e Segurança Cidadã.

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