“A questão de gênero vai ser uma das prioridades da minha atuação […] Nosso compromisso com as políticas de gênero no Recife tem que ser do tamanho do compromisso que o governo de Eduardo [Campos] teve. É por isso que, desde o primeiro momento, nosso governo nunca se afastou disso, a gente decidiu ter uma secretaria de mulheres no Recife”, Geraldo Julio durante encontro com as mulheres no dia 19 de outubro.

Geraldo Julio (PSB) aproveitou o encontro com as militantes da sua campanha para elencar uma série de obras e ações que, de alguma forma, estejam relacionadas com as mulheres e, principalmente, para reafirmar o compromisso de sua gestão com as políticas de gênero. Para isso, usou como referência a sua participação no governo de Eduardo Campos, lembrou a criação da Secretaria da Mulher na atual gestão e se colocou, ao lado do vice-prefeito Luciano Siqueira (PCdoB), como condutor de toda política voltada para as mulheres.

A equipe do Truco Eleições 2016 – projeto de fact-checking da Agência Pública feito em parceria com a Marco Zero Conteúdo – verificou a declaração de Geraldo Julio, levando em conta o espaço, a influência e o poder de decisão que as mulheres detêm na atual gestão e concluiu que a afirmação está exagerada. Por isso, o candidato do PSB recebe a carta “Não é bem assim”.

É verdade que Geraldo Julio, ao assumir a Prefeitura do Recife em janeiro de 2013, criou a Secretaria da Mulher. Mas, uma análise detalhada da estrutura e, principalmente, do orçamento da Prefeitura mostra que a participação feminina ainda é muito pequena e periférica na atual gestão.

Para se ter uma ideia do tamanho da influência feminina na cadeia de comando da Prefeitura do Recife, das 24 secretarias existentes, apenas cinco são ocupadas por mulheres. Isso representa 20,8% do atual primeiro escalão. Além da própria Secretaria da Mulher, só as secretarias de Cultura; de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos; de Desenvolvimento e Empreendedorismo; e de Meio Ambiente e Sustentabilidade têm comando feminino.

A participação das mulheres na atual gestão fica ainda menor quando a análise é feita em cima do orçamento. De acordo com o Portal da Transparência, tomando por base os dados de 2015, apenas R$ 203,7 milhões foram disponibilizados (dotação inicial) para as cinco pastas comandadas por mulheres. Para as outras 19 secretarias chefiadas por homens, o valor total chega a R$ 4,8 bilhões.

Em termos percentuais, quando o assunto é dinheiro a participação das mulheres no bolo de recursos disponibilizados no Orçamento de 2015 da Prefeitura do Recife cai para pouco mais de 4%.

AUTOR

Sérgio Miguel Buarque

Sérgio Miguel Buarque é Coordenador Executivo da Marco Zero Conteúdo. Formado em jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco, trabalhou no Diario de Pernambuco entre 1998 e 2014. Começou a carreira como repórter da editoria de Esportes onde, em 2002, passou a ser editor-assistente. Ocupou ainda os cargos de editor-executivo (2007 a 2014) e de editor de Política (2004 a 2007). Em 2011, concluiu o curso Master em Jornalismo Digital pelo Instituto Internacional de Ciências Sociais.