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“Marçal é um efeito surpresa para nos lembrar de jamais subestimar a extrema-direita”, afirma Erika Hilton

Jorge Cavalcanti / 05/09/2024
Foto em close de Erika Hilton feita em ambiente fechado e mal iluminado. Ela é uma mulher de pele escura, com cabelos lisos e loiros, de lábios grossos , usando um batom escuro.

Se há uma figura pública que entende do enfrentamento à extrema-direita, essa pessoa é a deputada federal Erika Hilton, do PSOL de São Paulo. E ela é firme em cravar: “classifico Pablo Marçal como pior do que Bolsonaro”. A disposição de Erika para o debate e o bate-boca com parlamentares bolsonaristas tem sido reconhecida. Na semana passada, ela foi anunciada vencedora do Prêmio Congresso em Foco 2024, na votação popular da categoria “Melhores da Câmara”.

Na madrugada da terça-feira (3), mesmo com o pé machucado, a deputada manteve a vinda ao Recife. O principal compromisso da agenda foi um ato, à noite, na praça da Várzea, de demonstração de apoio à candidatura da colega de partido, Jô Cavalcanti. A atividade contou também com a presença da candidata a prefeita Dani Portela. Durante o dia, porém, Erika aproveitou para gravar mensagens de apoio a outras candidaturas e conceder entrevista à imprensa. Num estúdio localizado no centro, conversou com a Marco Zero, depois de falar ao portal Afoitas.

Marco Zero – Esta é a primeira eleição depois da disputa presidencial disputada por Lula e Bolsonaro. Como a extrema-direita tem buscado atuar?

Erika Hilton – Acho que há um esforço muito forte de tentar retomar a força que foi perdida com a derrota do bolsonarismo. Agora, nas eleições municipais, a extrema-direita está ensaiando para se organizar para o que será 2026. A gente, então, tem que tomar muito cuidado. Não podemos subestimar essa força. O inimigo foi derrotado nas urnas em 2022, mas pode fazer um estrago absurdo nas principais capitais do País.

Como a senhora avalia o efeito Pablo Marçal em São Paulo e no Brasil?

Marçal é um efeito surpresa para nos lembrar de jamais subestimar a extrema-direita. Ele é um homem perigoso, um condenado pela justiça, mas que tem uma capacidade de se vender como popular, de vender sonhos fáceis, de se comunicar com as massas de maneira assustadora. Precisamos desmascará-lo. Precisamos nos comunicar com as massas. Não merecemos um coach que vende ilusões como soluções para os desafios que demandam estratégia, planejamento, experiência e organização.

“… a visão do Nordeste é diferenciada e torço muito por isso (…) de que o Nordeste seja de novo esse fiel da balança”

Mas como fazer isso?

A gente precisa tirar das pessoas essa sensação de que, de maneira simples e por um caminho curto, elas vão ter as suas necessidades e dores solucionadas. Porque é isso que ele vende e é dessa maneira que ele se conecta com grande parte das pessoas, em especial com as periferias de São Paulo. A gente precisa de um antídoto para lembrar quem é esse senhor, como ele construiu a sua riqueza. Precisamos desmontar essa estratégia de comunicação da venda de soluções milagrosas. Eu o classifico como pior do que Bolsonaro, porque acho que, do ponto de vista econômico, de fingir ter um verniz democrático, ele se coloca como um cara moderado, apesar de ser mentira. A gente viu ele no programa Roda Viva acenando ao Supremo Tribunal Federal, dizendo que o país merece ser repactuado. Isso é característica de um estrategista.

A impressão que dá é que o sistema político não está preparado para alguém que age como ele. A Justiça Eleitoral bloqueou as contas no Instagram. Pouco tempo depois, outras recém-criadas já tinham mais de 3 milhões de seguidores.

O Poder Judiciário, em especial nas eleições, avançou, tomou medidas importantes, mas precisa se revisitar para entender quais são e como funcionam esses mecanismos digitais utilizados pela extrema direita para atacar, mentir e cooptar parte da sociedade. As eleições não podem ser sequestradas por essas narrativas e métodos. As eleições precisam ser baseadas em propostas e debates.

Foto noturna de Erika Hilton entre outras duas mulheres em cima de um palco ou palanque iluminado. Erika Hilton usa blusa e calça azul em tonalidade semelhante a jeans. Ela é uma mulher de pele escura, cabelos lisos e loiros, está fazendo um gesto de coração pela metade com a mão esquerda. À esquerda da imagem, de perfil, está Jô Cavalcanti, uma mulher negra com cabelos trançados, colar colorido e vestido na cor bordô. À direita dela, aparece uma mulher negra, de conjunto lilás, levemente desfocada.

Erika Hilton elogiou postura da Justiça Eleitoral

Crédito: Divulgação/PSOL

Na eleição presidencial de 2022, o Nordeste se mostrou um contraponto ao bolsonarismo. Para a senhora, como essa polarização se dará na região nas eleições municipais?

Torço muito para que o Nordeste siga nessa frente. Tivemos governos de direita em algumas partes, mas acho que a visão do Nordeste é diferenciada e torço muito por isso. As eleições são uma incógnita. Não tenho acompanhado a fundo o cotidiano nas principais capitais, mas tenho esperança de que o Nordeste seja de novo esse fiel da balança, para dizer que não há espaço para o fascismo.

Recentemente, o resultado do PIB foi divulgado e se mostrou melhor do que a análise de parte da grande mídia e do mercado financeiro. A que a senhora atribui esse tipo de postura?

A grande mídia mantém um certo ranço. O problema não é do governo, é de um mercado que não aceita políticas pensadas para determinados grupos sociais. Há um atachamento de uma série de questões. Mas é um governo que prioriza ainda o povo. Estamos dentro de um Estado e uma sociedade capitalistas, que não aceitam, mesmo com números favoráveis, políticas voltadas às minorias, à classe trabalhadora, ao povo pobre e preto. Ainda que o governo Lula não caminhe na perspectiva de ser o governo mais socialista do mundo, até porque a correlação do Congresso Nacional jamais permitiria, ele ainda é um governo que está puxando o debate fiscal e econômico para o lado de cá. Prioridades como educação, saúde e meio ambiente são pautas secundárias para o mercado. Então, mesmo com o PIB acima da expectativa, a diminuição do desemprego e a valorização real do salário mínimo e aumento do consumo, a gente ainda vê essas críticas.

AUTOR
Foto Jorge Cavalcanti
Jorge Cavalcanti

Com 19 anos de atuação profissional, tem especial interesse na política e em narrativas de defesa e promoção dos direitos humanos e segurança cidadã.