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Pelo 3º ano consecutivo, mulheres paraibanas marcham contra instalação de parques eólicos na Borborema
Lado a lado, as agricultoras Margarida Gomes, 70 anos, e Maria Socorro, 57 anos, acompanharam a 15ª Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, que aconteceu na sexta-feira (15), em Areial, no interior da Paraíba, a 118 quilômetros de João Pessoa. As duas agricultoras estavam ao lado de, pelo menos, outras 5 mil mulheres que tomaram as ruas da pequena cidade de pouco mais de 7 mil habitantes em defesa da caatinga e contra os empreendimentos das energias renováveis que ameaçam o bioma e a agricultura familiar.
Não foi por acaso que a Marcha das Mulheres aconteceu na véspera do Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, 16 de março.
As amigas de luta, participam da marcha desde os primeiros anos, reconhecendo a importância da defesa do território da Borborema Agroecológica. “Eu acho uma coisa sem palavras para explicar o quanto é valoroso estar aqui, porque muitos projetos que já foram concedidos para o nosso semiárido foram conquistados por causa dessa luta”, afirma Margarida Gomes.
“Me sinto mais forte. A cada marcha a gente se sente mais forte”, reforça Socorro, que é uma das participantes da feira agroecológica da cidade. A agricultora reconhece que a vida melhorou com as suas lutas em contato com o sindicato da cidade. Segundo ela, participar ativamente das atividades do sindicato de trabalhadores e trabalhadoras, fortaleceu o sustento de sua família, cuja maior fonte de renda é a plantação de milho, feijão, fava e macaxeira.
O território da Borborema é formado pelos municípios de Solânea, Algodão de Jandaíra, Arara, Casserengue, Remígio, Esperança, Montadas, Areial, São Sebastião de Lagoa de Roça, Lagoa Seca, Alagoa Nova, Massaranduba e Queimadas. A articulação política dos sindicatos rurais chama-se Polo da Borborema.
A discussão contra as energias renováveis no Polo da Borborema foi tema da marcha pela terceira vez seguida. Isso acontece por causa das investidas das empresas de energia para implantar complexos de energia eólica e solar nestes municípios. Até o momento, a articulação política tem sido bem sucedida e, diferente de outras cidades que já tiveram suas comunidades afetadas, têm barrado a presença desses empreendimentos.
“Somos a favor da energia renovável, mas ela não nesse megaprojeto como chegam aos nossos territórios. Porque desde a chegada dos primeiros anemômetros ao nosso território, a gente foi visitar outros parques e outras comunidades. Então percebemos é que são inúmeros problemas desses grandes parques, desde a incompatibilidade da agricultura familiar com a produção de energia, mas sobretudo, os problemas causados para as famílias, ainda mais para as mulheres”, explica Adriana Galvão da organização não governamental AS-PTA, instituição que assessora o Polo da Borborema e a Marcha.
Os anemômetros são equipamentos meteorológicos utilizados para mensurar a velocidade e a direção do vento. A instalação desses equipamentos costuma ser uma das primeiras iniciativas das empresas de energia eólica para calcular a viabilidade econômica dos futuros parques eólicos.
Em preparação para a marcha, aconteceu o I Seminário de Mulheres do Projeto Baraúnas dos Sertões, com a presença de mulheres de todo o semiárido, incluindo pernambucanas, debatendo maneiras de enfrentamento dos projetos de energia renovável em suas comunidades.
A diretora da Associação Sítio Ágatha, Nzinga Cavalcante, de 35 anos, compartilhou a luta enfrentada com a instalação de torres de transmissão de energia eólica no Sítio Agatha, localizado no Engenho Toco, em Tracunhaém, Zona da Mata de Pernambuco. História que foi contada pela Marco Zero:
Instalado em 2020, durante a pandemia da covid-19, o empreendimento da empresa Rialma S/A causou desmatamentos e transtornos na região. Com aproximadamente 130 quilômetros de extensão, passando por 15 municípios de Pernambuco e da Paraíba, a linha que atinge o Sítio Agatha é conhecida como Linha de Transmissão 500 kV Campina Grande III – Pau Ferro.
Para Nzinga, “essas torres implantadas no território são um fortalecimento do machismo, do racismo e do patriarcado nessa sociedade. Enquanto mulher, preta, mãe, que vem sempre lutando por uma resistência e pela visibilidade dos nossos corpos que vem sempre sendo violados, eu digo que essa prática está errada e que a gente precisa sempre revisar para que não seja mais implantada”.
Acompanhada da mãe, Luiza Cavalcante, 62 anos, e da filha, Ágatha Vitória, 12 anos, também participou da marcha na Paraíba. “É muito enriquecedor, porque a gente consegue ver outros panoramas e se fortalecer em rede também. Então é muito necessário que a gente possa caminhar juntas, que a gente possa estar juntas, que a gente possa lutar e transformar, porque para mudar a sociedade do jeito que a gente quer é só lutando sem medo de ser mulher”, reforçou.
Jornalista formada pelo Centro Universitário Aeso Barros Melo – UNIAESO. Contato: jeniffer@marcozero.org.