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“Nunca achei que fosse cair”, admite sobrevivente da tragédia no conjunto Beira-Mar

Maria Carolina Santos / 10/07/2023
Foto do que sobrou do edifício do conjunto Beira-Mar que desabou, com fitas amarelas e pretas de isolamento em primeiro plano, escombros e, ao fundo, silhueta amarelada da parte do prédio que restou em pé.

Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

Foi coisa de segundos. Quando abriu a porta para fugir do apartamento onde morava,Maria da Conceição Pereira, 44 anos, já viu o céu todo na frente dela. Morava no bloco D7 do conjunto Beira-mar há dez anos até viver o horror da sexta-feira passada, quando parte do prédio desabou matando 14 pessoas e ferindo sete. “Coloquei meus meninos na frente e eu fiquei. Quando abri a porta não vi mais nada: só o céu e a poeira subindo. Eu pulei e desmaiei”, contou nesta segunda-feira (10), enquanto retirava doações no centro de operações montado pela prefeitura do Paulista.

Desde 2010 o prédio estava interditado por conta do alto risco de desabamento. Mas foi ocupado em 2012 por pessoas que moravam em comunidades vizinhas. Maria da Conceição conhecia todos que faleceram. “Era o lugar que tinha para a gente morar, a gente não tinha para onde ir”, lamenta ela, que está temporariamente abrigada na casa de uma filha, perto do conjunto. 

Maria da Conceição ainda não sabe quando vai começar a receber o auxílio moradia da prefeitura. Como não era proprietária, não pode pleitear o auxílio junto à seguradora. Ela também reclama da demora da prefeitura do Paulista em oferecer ajuda às vítimas. “A prefeitura só chegou hoje para cadastrar. Se não fosse as igrejas para ajudar não sei como teria sido”, diz.

Cunhada dela, Marli da Silva mora de frente ao bloco D7 e ajudou as vítimas logo após o desmoronamento. Ela conta que os bombeiros chegaram rápido, mas foi a população quem prestou os primeiros socorros. “Agora o que revolta a gente é vir aqui pegar cesta básica e dizerem que a prefeitura já deu. A prefeitura apareceu só hoje e não sabemos quando o auxílio vai sair. Quem está ajudando são as próprias pessoas pobres, dividindo seu pouquinho”, falou.

Entre os escombros, ficaram muitos objetos e documentos. E Maria da Conceição não sabe ainda se vai conseguir reaver algo. “Era um prédio que não estava bom faz tempo. Mas não havia material reciclável lá, como andaram falando. Também nunca lembro de ter visto vistoria ou a prefeitura oferecendo auxílio. Se não, eu teria saído na hora. A gente sabia que estava interditado, mas achava que dava para morar. Nunca achei que fosse cair”, diz.

Maria da Conceição viveu 10 anos no prédio que desabou. Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

Prefeitura cadastrou famílias hoje

Uma igreja evangélica próxima ao bloco D7 virou o centro de operações da prefeitura para atender aos sobreviventes da tragédia. Lá, moradores estão sendo cadastrados para receber cestas básicas e entrarem, futuramente, no auxílio moradia, já que não são proprietárias dos apartamentos e, portanto, não têm direito ao auxílio da seguradora.

A secretária executiva de Assistência Social e Direitos Humanos, Elisa Alcântara, afirmou que, desde sexta-feira, a prefeitura está acolhendo as vítimas do desmoronamento. “Estamos nesse ínterim concedendo auxílio funeral e acolhendo as famílias, fazendo encaminhamentos para saúde e saúde mental. Há muitas famílias fragilizadas”, disse a secretária executiva, acrescentando que também está sendo disponibilizado kits de higiene e cestas básicas.

Uma escola está sendo usada como abrigo emergencial, mas apenas um ex-morador usou o local, mas já foi para casa de um parente. “Não houve requisição de abrigo”, garantiu a secretaria.

“As pessoas são cadastradas no Bolsa Família e também trabalham informalmente. Estamos ainda fazendo um levantamento das famílias que vieram até a assistência social e aguardamos também a lista da Defesa civil em relação às outras famílias, que não estavam nos apartamentos e precisam requerer os benefícios”

Por ora, há seis famílias cadastradas, que foram as que tiveram parentes mortos no desabamento, e outras três que conseguiram se salvar. As famílias receberam com vítimas receberam auxílio funeral (que inclui caixão e translado). Segundo Alcântara, já não há necessidade de doações de roupas e cestas básicas para os desabrigados. “Já temos roupas suficientes e a própria prefeitura tem contrato de cesta básica. Temos alimentos suficientes e também recebemos colchões”, diz.

O que a prefeitura de Paulista pretende fazer agora é uma lista pública com os contatos dos desabrigados, para que as doações sejam feitas diretamente a eles. A lista ainda não foi divulgada.

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AUTOR
Foto Maria Carolina Santos
Maria Carolina Santos

Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Ávida leitora de romances, gosta de escrever sobre tecnologia, política e cultura. Contato: carolsantos@gmail.com