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O curso de agricultura urbana que está mudando a vida de mulheres recifenses

Jeniffer Oliveira / 31/03/2025
A imagem mostra uma mulher regando plantas em um jardim comunitário ou urbano. Ela veste uma blusa roxa de mangas compridas e uma saia jeans, e segura um regador azul, do qual sai um jato de água que cai sobre as folhas verdes das plantas. Ela usa óculos escuros e tem uma expressão concentrada enquanto cuida da vegetação. O ambiente ao redor tem árvores grandes, uma cerca de metal e um céu azul com algumas nuvens. Ao fundo, há outras pessoas, possivelmente participando da atividade.

Crédito: Arnaldo Sete/Marco Zero

“Sabe uma colcha de retalhos que a gente começa fazendo de pedacinho e, de repente, está bem grandona? Pronto, isso aqui é uma pequena colcha de retalho que nós levantamos. Nos apoiando uma na outra”, comparação feita por Aldenize Maria da Silva, de 51 anos, sobre a horta popular e agroecológica Saber Viver, localizada na comunidade da Fazendinha, em Boa Viagem.

A horta comunitária é uma das cinco acompanhadas pela Escola Marias, a primeira escola de agricultura urbana para mulheres da periferia, iniciativa do Centro Sabiá com parceria do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

Aluna da segunda turma, Aldenize foi instigada pela amiga Vera Lúcia para se inscrever no projeto e viu sua vida ganhar um novo sentido. À época, a dona de casa enfrentava uma depressão, mas o conhecimento e a prática na horta têm a ajudado a conviver com seus desafios internos. “Você se sente bem quando começa a entender o verde. Então é isso, a minha vida mudou muito […] E a gente não só tem comida, como a gente tem uma farmácia viva aqui”, conta.

Estruturada com base nos conceitos e práticas da agroecologia, a horta tem de tudo: desde plantas medicinais como boldo, menta, capim santo, erva cidreira, até frutas, legumes e tubérculos.

A imagem mostra sete mulheres em um jardim comunitário. Seis delas estão vestindo camisetas roxas com um logotipo branco e bonés da mesma cor. Uma das mulheres, à direita da foto, está usando uma camiseta cinza com um desenho de trevo verde e uma touca roxa. O grupo está segurando ferramentas de jardinagem, como enxadas e ancinhos. Elas estão posicionados em frente a uma área de plantação cheia de plantas verdes. No fundo, há uma cerca de metal, árvores e alguns prédios ao longe.

Terceira turma da Escola Marias está produzindo alimentos em terreno na zona sul do Recife

Crédito: Arnaldo Sete/Marco Zero

Vera Lúcia de Barros, de 54 anos, começou estimulada pela participação do filho, Robson, que é uma pessoa com deficiência. Também integrante da segunda turma, ela entrou depois do filho porque se apaixonou pelo trabalho desenvolvido. Depois, passou a incentivar outras amigas a participar. “Isso aqui é para o resto da vida. A gente tem que procurar tratar, plantar, cuidar direto mesmo, independente de qualquer coisa. Onde eu estou, eu já estou procurando alguma muda ou semente pra trazer pra horta. E onde eu chego, só falo da nossa horta”, comenta.

O local que é motivo de orgulho para as alunas passou anos abandonado pelo poder público. Situado entre o canal de Setúbal e o túnel Augusto Lucena, recebeu a primeira intervenção quando a Prefeitura do Recife construiu uma quadra e um espaço de convivência. Contudo, ainda havia um espaço não utilizado, e foi ali que uma representante do MTST enxergou o potencial de transformar aquele solo improdutivo.

Recém iniciada na terceira turma da Escola, Danielly Felix, de 33 anos, coordenadora da ocupação 8 de março do MTST, enxerga a importância de mulheres estarem unidas plantando e colhendo o próprio alimento. “Para mim está sendo uma honra por ser uma mulher negra, principalmente uma mulher trans, estar no meio dessas mulheres na horta comunitária”, afirma. “Eu acho que é muito importante você poder bater no peito e dizer: eu fiz um curso de agroecologia”, completa Danielly.

Segurança alimentar e autonomia

A expectativa é de que 100 mulheres se formem ao longo dos dois anos de curso. Ao todo serão quatro turmas de 25 alunas, uma por semestre. A terceira turma teve as aitividades iniciais neste mês de março. O curso é dividido em dois módulos, um de produção e outro de transformação dos alimentos.

As estudantes vêm de territórios da Região Metropolitana do Recife que já desenvolvem trabalhos relacionado à luta por direitos e também já contam com assessoria do Centro Sabiá. “O projeto atende a mulheres das cinco comunidades onde o Sabiá atua. Não é um projeto aberto para o público geral, pois foi criado para fortalecer esses territórios”, afirma Simone Arimateia, assessora técnica do Centro Sabiá.

Além da Fazendinha, as outras comunidades beneficiadas são Horta Popular Agroecológica Dandara, em Peixinhos, a Cozinha Solidária do MTST, na Vila Santa Luzia e a Horta das Margaridas, no Jiquiá. O Quilombo Onze Negras, no Cabo de Santo Agostinho, também participou do projeto nas duas primeiras turmas.

As aulas não acontecem só no território. Durante o curso, as alunas assistem a duas aulas mensais na UFRPE com conteúdos que abordam segurança alimentar e nutricional, saúde, geração de renda e melhoria da qualidade de vida. Além disso, elas participam de seis palestras sobre temas relacionados à garantia de direitos humanos e promoção de justiça social, partindo do olhar da agricultura Urbana e periurbana Agroecológica. Cada turma realiza, ainda, um intercâmbio de imersão para contato com outras experiências urbanas de agriculturas.

“Nesses dois dias de aula, é uma imersão com professoras que são agricultoras. Não são pessoas que chegam só pra falar. São pessoas que têm vivência, experiência. O que essas professoras estão ensinando é o dia a dia delas. E são agricultoras urbanas, a renda delas vem do que produzem no quintal. É o quintal produtivo delas”, explica Arimateia.

A iniciativa do Centro Sabiá é financiada com recursos do Programa Nacional de Agricultura Urbana, do Governo Federal, resultante de uma emenda parlamentar do deputado federal, Túlio Gadelha (Rede). Em parceria com o Núcleo de Agroecologia e Campesinato da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e o Movimento dos Trabalhadores/as Sem-Teto (MTST).

Essa é uma foto de um espaço de agricultura urbana. Em primeiro plano, há uma placa de madeira decorada com manchas de tinta azul e verde. Ela tem os nomes de algumas plantas escritos à mão: QUIABO-VERDE, MAMÃO, PITANGA, BERIGELA. Atrás da placa, vê-se um cultivo com plantas verdes. No fundo, prédios altos e um céu azul completam a paisagem, destacando o contraste entre a natureza cultivada e o ambiente urbano.

Com base na agroecologia, as hortas da Escola Marias têm de tudo

Crédito: Arnaldo Sete/Marco Zero
AUTOR
Foto Jeniffer Oliveira
Jeniffer Oliveira

Jornalista formada pelo Centro Universitário Aeso Barros Melo – UNIAESO. Contato: jeniffer@marcozero.org.