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Papéis se invertem e, agora, idosos vacinados precisam tomar cuidado para não infectar os mais jovens

Raíssa Ebrahim / 13/04/2021

Crédito: Inês Campelo/MZ Conteúdo

Mesmo com a vacinação caminhando a passos lentos no Brasil, cresce o número de relatos de idosos contaminados pela covid-19 após as duas doses do imunizante. A boa notícia é que, em geral, são quadros leves ou assintomáticos, o que atesta a eficácia da vacina. Diferente do início da pandemia, agora são os idosos que precisam ter cuidado para não passar a doença para os mais jovens.

Pesquisadores e profissionais da saúde têm reiterado a importância de se manter os cuidados mesmo após a dose de reforço. Até que o país atinja ao menos 70% da população vacinada, está fora de cogitação abrir mão da máscara e do distanciamento social, com atenção redobrada por conta das variantes. Afinal, sem controle, o Brasil transformou-se num laboratório mundial de mutações do Sars-CoV-2.

Dona Gelsomina Pecorelli, de 82 anos, já devidamente imunizada, testou positivo 18 dias após a segunda dose da Coronavac depois que o genro, que mora no mesmo apartamento em Piedade, Jaboatão dos Guararapes, também positivou alguns dias após almoçar com um amigo infectado. Ele teve sintomas leves. Ela, nenhum sintoma. Graças à testagem, Dona Gelsomina soube que estava contaminada e se isolou no quarto por 14 dias para não contaminar outras pessoas da família. “Provavelmente o que salvou mamãe foi a vacina”, comemora a filha, Rosana Pecorelli.

Dados de Pernambuco já apontam uma redução na casa de 20% de internações em UTI e de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) entre a população de mais de 85 anos. Das pouco mais de um milhão de primeiras doses aplicadas em Pernambuco, cerca de 758 mil foram em idosos a partir de 64 anos e também naqueles que vivem em instituições de longa permanência.

Os imunizantes pretendem diminuir a taxa de transmissão do vírus e evitar que pessoas infectadas desenvolvam formas mais graves da doença, sobrecarreguem a rede de saúde e venham a óbito. Por isso, especialistas alertam: ainda não existe uma solução 100% eficaz. O cansaço da população e a necessidade de sair às ruas para trabalhar têm sido fatores de preocupação na manutenção das medidas de prevenção.

O caso do ator Stênio Garcia

Nesta terça-feira, 13 de abril, o Brasil acompanha na mídia o caso do ator Stênio Garcia, de 88 anos, que, mesmo após receber as duas doses da vacina, testou positivo para a covid-19, segundo sua esposa, a atriz Marilene Saade. Ela postou sobre o assunto nas redes sociais, mas defendeu o imunizante como a solução da pandemia.

O epidemiologista Rafael Moreira, pesquisador na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professor na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), explica que, à medida que a quantidade de pessoas vacinadas aumenta, cresce também casos como o de Stênio Garcia. No último domingo (11), o Instituto Butantan mostrou que a eficácia da Coronavac pode chegar a 62,3% quando o intervalo entre as duas doses for de 21 a 28 dias.

Acontece que cada organismo reage de um jeito diferente, a depender de fatores como idade e o próprio sistema imunológico. Segundo o Butantan, em geral, duas semanas após a segunda dose a pessoa está protegida, isto é, já deu tempo para o corpo criar os anticorpos contra o vírus. Mas, por uma questão de segurança, Rafael recomenda que se estenda esse prazo por 30 dias. “Mas não é aguardar para poder se expor”, alerta. “É necessário manter as medidas. Até porque a população não tem ainda imunização em massa, estamos convivendo com variantes e pode haver variantes que ainda nem conhecemos”, detalha.

O surgimento das mutações é um fator de preocupação, acrescenta o especialista. Como há poucas medidas de intervenção, “o vírus tem seguido sua própria história, estamos criando uma verdadeira experiência natural no Brasil”, afirma Rafael, com preocupação.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que diz ter assumido o cargo para acelerar o processo de vacinação, já admitiu que o primeiro semestre será de dificuldade nas ofertas. Em entrevista a jornalistas na terça (13), ele evitou projetar metas ao ser questionado sobre quando o Brasil atingiria a capacidade máxima de vacinação do Plano Nacional de Imunização (PNI), prevista em 2,4 milhões de doses por dia. O governo Bolsonaro agora amarga as consequências de ter rejeitado as 70 milhões de doses da Pfizer e às 46 milhões de doses da Coronavac em 2020.

Na ocasião, o ministério apontou que, segundo levantamento próprio, cerca de 1,5 milhão de brasileiros que tomaram a primeira dose da vacina ainda não receberam a segunda.

Citando que algumas projeções estimam que o Brasil ainda irá levar um ano para atingir os 70% de imunizados, o epidemiologista Rafael comenta que “o cenário é de total incerteza em relação à estimativa de prazo”. Por conta do ritmo lento e da quantidade de imprevistos, esse tipo de previsão temporal, de fato, é “muito vago”. Por enquanto, nacionalmente a vacinação ainda não fez efeito nenhum. O que se observa até agora são resultados em grupos específicos, os grupos prioritários.

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AUTOR
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Raíssa Ebrahim

Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com