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Para “requalificar o entorno”, empresa espanhola corta 27 árvores na calçada do aeroporto

Foto de fileira de troncos de árvore serrados em uma calçada junto de uma avenida com trânsito intenso.

Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

Poucas semanas depois de entregar a reforma e ampliação do aeroporto dos Guararapes, a concessionária Aena, empresa espanhola que há cinco anos administra o terminal de passageiros, anunciou o início das obras de “requalificação do entorno do sítio aeroportuário, da praça Salgado Filho e do antigo terminal de passageiros”. No release distribuído à imprensa na sexta-feira, 19 de janeiro, a empresa informa que a primeira etapa da requalificação acontecerá na “calçada da avenida Mascarenhas de Morais, no trecho que vai do antigo terminal à avenida Centenário Alberto Santos Dumont”.

Quase no final do texto, uma informação aparentemente sem muita importância: “algumas árvores situadas na calçada, no trecho que vai passar pelas intervenções, serão removidas e substituídas por outras espécies”.A realidade é que, em 24 horas, as motosserras da Aena cortaram nada menos que 27 árvores de grande porte saudáveis na calçada da Mascarenhas de Morais.

A justificativa dada pela empresa e aceita pela secretaria municipal de Meio Ambiente do Recife, que autorizou a erradicação das plantas, é que as árvores cortadas impediam “a requalificação do passeio público, quanto afetam a integridade do pavimento e do muro, devido ao tipo de crescimento de suas raízes”.

De acordo com a prefeitura do Recife, a autorização para a concessionária fazer o abate das árvores foi dada licença foi concedida, “sob condicionante do plantio compensatório, também de responsabilidade da concessionária, de 58 novas árvores nativas de grande porte – o dobro do que existia anteriormente”. De acordo com a gestão municipal, teriam sido cortadas 29 árvores, mas a equipe de reportagem contou 27 restos de troncos serrados ao longo da calçada.

Sem detalhar como e onde será feito a compensação ambiental, a empresa informou que novas árvores de espécies diferentes serão replantadas, além de prometer que “as intervenções vão melhorar ainda mais a experiência do passageiro no aeródromo da capital pernambucana, e da população de seu entorno”.

Na Espanha, a Aena fez pior

Em novembro de 2021, o jornal Diario de Sevilla publicou denúncia que a Aena cortou árvores centenárias de um parque vizinho ao aeroporto San Pablo, em Sevilha. A justificativa foi parecida com usada em Recife “as árvores impossibilitam a execução do referido recinto tal como se encontram no traçado do referido recinto”. Nos dois casos, as plantas sequer estavam dentro do aeroporto, mas junto ao muro.

Antes disso, em 2004, a empresa foi acusada de derrubar 191 árvores nas margens do rio Jarama, junto ao aeroporto internacional de Barajas, em Madri.

Para ler sobre esse caso em Sevilha, clique aqui.

Para ler sobre o caso de Madri, clique aqui.

No caso recifense, não se tratavam de árvores centenárias, porém todas tinham pelo menos 30 anos. As imagens do Google Earth disponíveis antes disso não tem resolução suficiente para identificá-las.

A empresa, no entanto, desde janeiro de 2023 faz publicidade de que ajuda a plantar 10 mil árvores na Amazônia.

AUTORES
Foto Inácio França
Inácio França

Jornalista e escritor. É o diretor de Conteúdo da MZ.