Apoie o jornalismo independente de Pernambuco

Ajude a MZ com um PIX de qualquer valor para a MZ: chave CNPJ 28.660.021/0001-52

Pobreza como causa e complicador: prematuridade e bebês de baixo peso

Marco Zero Conteúdo / 05/09/2022

Condições precárias de vida comprometem a saúde das mães e podem impactar recém-nascidos. Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo.

Por Verônica Almeida*

Os riscos à infância começam antes do nascimento da criança, quando a situação social compromete a saúde e a alimentação da gestante. A neonatologista Manuela de Abreu e Lima, do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam- Maternidade da Encruzilhada), um dos hospitais da Universidade de Pernambuco (UPE), lembra que o baixo peso de recém-nascidos não deve-se apenas à idade avançada da mãe e a doenças que carregue. Também pode ter relação com a vulnerabilidade social da mulher: gravidez na adolescência, doença hipertensiva não controlada, alcoolismo, tabagismo e outros males associados à pobreza.

“Estudos mostram mulheres que passaram fome na infância tendo tendência à obesidade, com chance de desenvolver hipertensão e diabetes. Filhos dessas mães têm mais riscos de nascer com baixo peso e prematuros”, explica a médica. São considerados de baixo peso aqueles com menos de 2,5 quilos e, prematuros, os que nascem antes da 36ª semana de gestação.

No Recife, de acordo com registros da Secretaria Municipal de Saúde, 8,7% dos nascidos vivos em 2021 apresentaram baixo peso ao nascer, sendo que 1,4% tinham muito baixo peso (menos de 1,5 kg). Cerca de 11,4% eram prematuros (menos de 36 semanas de gestação) e a hipóxia nos primeiros cinco minutos de vida foi comum a 0,9%. As regiões com pior situação de indicadores foram o distrito um (área central da cidade), que teve 10,1% dos nascidos vivos com baixo peso, o distrito oito (morros da Zona Sul), com 1,6% dos nascidos vivos com muito baixo peso, o distrito cinco (Zona Oeste), que apresentou 12,1% de prematuros, e o distrito sete (morros da Zona Norte), com 1,2% dos nascidos apresentando hipóxia no quinto minuto de vida.

Desafios após alta da UTI Neonatal

A vulnerabilidade reforça os riscos depois do nascimento, mesmo quando são superados os estados graves. “É uma pena a questão social desses bebês, às vezes a gente luta muito para que sobrevivam, eles passam dois, três ou quatro meses na UTI recebendo ventilação mecânica, alimentação parenteral, antibiótico, vários medicamentos, e quando saem de alta vão para um local sem saneamento, sem cuidados”, relata Manuela de Abreu e Lima.

Fachada do CISAM - Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros. Crédito: Inês Campelo/MZ Conteúdo

De acordo com a médica, os prematuros e de baixo peso muitas vezes guardam sequelas, com chance maior de retardo do desenvolvimento psicomotor, de desenvolver doença pulmonar crônica, ter infecções respiratórias, problemas oculares. “Precisam de cuidado na alimentação, porque o intestino é frágil, teve que amadurecer fora do útero da mãe. São necessários cuidados na higiene, condições mínimas em casa. Têm desenvolvimento mais lento, precisam ser acompanhados por equipe multidisciplinar, com neuropediatra, fisioterapeuta e fonoaudiólogo”, completa.

A coordenadora da UTI Neonatal do Cisam, Manuela Nóbrega, considera a insegurança alimentar um triste cenário, sendo “indubitável o impacto no desenvolvimento infantil pelo fato de famílias não estarem em lar seguro e com acesso à alimentação saudável”. As fragilidades, afirma, afetam não só a saúde do corpo, mas também a emocional e a segurança física da criança.

Segundo Manuela Nóbrega, no primeiro semestre de 2022 nasceram 1.802 bebês no Cisam, dos quais 349 (19,3%) com peso abaixo de 2,5 Kg, sendo 25 deles (1,3% dos nascidos) com menos de um quilo. Apesar do esforço para que os prematuros superem a fase crítica, ganhem peso e possam se desenvolver, a realidade fora da maternidade muitas vezes não ajuda. “Tivemos o caso de uma criança que nasceu no oitavo mês de gestação, com 2 kg e boa viabilidade. Ficou um tempo internada em outro hospital e foi para casa. Mas infelizmente acabou morrendo tempo depois”, conta. A mãe tinha outras crianças, a agente de saúde não conseguia encontrar ela em casa, não havia uma rede de apoio a essa mulher e, quando a assistência chegou e deu conta do adoecimento do bebê, já era tarde.

LEIA MAIS:

Primeira infância ameaçada pelo aumento da pobreza e da fome no Norte e Nordeste

Tragédia humanitária com impacto a partir da gestação

Redução da mortalidade infantil desacelera

Estado nutricional era preocupante em Pernambuco mesmo antes da pandemia

“Norte e Nordeste sofrem mais fortemente os efeitos das desigualdades existentes no país“, diz economista

Sem creche, mães deixam de trabalhar e crianças tornam-se mais vulneráveis

Prefeitura do Recife alega que abriu 2 mil novas vagas em creches e quer chegar a 7 mil

Suplementação de ferro e vitamina para crianças

Desenvolvimento na Primeira Infância é alvo de pesquisa nacional

* Este conteúdo integra a série Eleições 2022: Escolha pelas Mulheres e pelas Crianças. Uma ação do Nós, Mulheres da Periferia, Alma Preta Jornalismo, Amazônia Real e Marco Zero Conteúdo, apoiada pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal

Uma questão importante!

Colocar em prática um projeto jornalístico ousado como esse da cobertura das Eleições 2022 é caro. Precisamos do apoio das nossas leitoras e leitores para realizar tudo que planejamos com um mínimo de tranquilidade. Doe para a Marco Zero. É muito fácil. Você pode acessar nossa página de doação ou, se preferir, usar nosso PIX (CNPJ: 28.660.021/0001-52).

Nessa eleição, apoie o jornalismo que está do seu lado.

AUTOR
Foto Marco Zero Conteúdo
Marco Zero Conteúdo

É um coletivo de jornalismo investigativo que aposta em matérias aprofundadas, independentes e de interesse público.