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Demolição iniciada no Cais. Foto: Ocupe Estelita
Os galpões do Cais José Estelita estão sendo demolidos. A Prefeitura do Recife concedeu nesta manhã a licença de demolição para o consórcio de construtoras responsável pelo projeto Novo Recife, que pretende construir 13 prédios no terreno dos armazéns. O levantamento arqueológico que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) fez no local foi concluído na segunda-feira passada (18). Na tarde da quinta-feira (21), a construtora Moura Dubeux entrou com o pedido para a licença de demolição.
O secretário de Mobilidade e Controle Urbano da Prefeitura do Recife, João Braga, afirmou nesta manhã à Marco Zero que não havia mais nenhum obstáculo jurídico ou de patrimônio para que a licença não fosse concedida. “Em 2014 a prefeitura já havia dado a licença de demolição, mas ela foi suspensa depois, na época das manifestações (quando integrantes do Ocupe Estelita ocuparam a área). Houve um redesenho do projeto e, em 22 de dezembro de 2015, o Conselho de Desenvolvimento Urbano aprovou o novo projeto”, afirmou Braga.
Termina embargo do Iphan que impedia demolição do Cais José Estelita
Segundo ele, o projeto aprovado em 2015 prevê a manutenção dos 28 armazéns que ficam mais próximos ao Forte das Cinco Pontas. “Estes armazéns serão totalmente reformados pelo consórcio e serão entregues à prefeitura, que irá decidir o que fazer com ele”, diz Braga, completando que a principal ação mitigadora da construção de 13 torres no Cais é a criação de um parque linear, de frente para a Bacia do Pina. “O sistema viário vai ficar dentro do terreno”, diz.
Não há, ainda, um cronograma de construção dos prédios e das ações mitigadoras. “Esta licença que demos hoje é só para a demolição. Para a construção, serão outras licenças. Em 2015 a realidade econômica do Brasil era outra, então acredito que um novo cronograma será feito”, comentou Braga.
Ao longo dos anos, o movimento Ocupe Estelita fez uma série de críticas ao projeto do Novo Recife. Há ações na Justiça que questionam desde a legalidade do leilão – a área foi vendida pelo Governo Federal às construtoras por apenas R$ 10 milhões, valor muito abaixo do mercado – até o plano urbanístico de 2015, que deu apoio legal para abarcar o Novo Recife, em contradição com o plano diretor de 2008.
“(o plano urbanístico) Foi decalcado em cima do projeto (Novo Recife). Ao invés dos projetos seguirem a lei, uma nova lei foi feita para beneficiar um projeto privado dando aos empreendedores um direito adquirido que nunca existiu. O Estelita é um grande símbolo de como as coisas dão errado”, afirmou na quinta-feira passada Leonardo Cisneiros, do Ocupe Estelita, durante a primeira audiência pública na Câmara dos Vereadores para a discussão do novo plano diretor do Recife.
Desde o começo do ano, a construtora Moura Dubeux iniciou as vendas dos apartamentos de luxo de duas torres: o Mirante do Cais Sul e do Cais Norte. São quatro vagas na garagem por apartamento, que serão distribuídas em edifícios-garagem. “Além dos espaços tradicionais, como piscina, sauna, salão de festas, playground, brinquedoteca e espaço gourmet, a área de lazer terá quadra de tênis profissional, piscina coberta e aquecida, pista de cooper, horta e pomar orgânicos”, diz trecho do anúncio no site. É um privilégio para poucos, com metro quadrado na média de R$ 7,5 mil: na torre sul, o apartamento mais “barato” custa R$ 1.550.000,00. Na norte, R$ 1.799.000,00.
A construtora anuncia que a previsão de entrega é de 52 meses após o início das obras. Nesta semana, a Moura Dubeux iniciou também as vendas do Parque do Cais, um prédio de flats de 32m² ou 65m² a partir de R$ 256 mil. Nas imagens de divulgação, só esses prédios são mostrados ao lado de uma ampla área verde. Na verdade, o projeto prevê ainda a construção de outros dez edifícios, de 14 a 38 andares. A construtora informou nesta sexta-feira (22) que ainda não há previsão para o início das obras no Cais José Estelita.
Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Contato: carolsantos@marcozero.org